sábado, 29 de março de 2014

POLÍTICA - Análise da próxima campanha presidencial.

Análise da próxima campanha presidencial
Temos algumas variáveis importantes para acompanhar numa campanha presidencial:


- Conhecimento (e/ou rejeição) dos candidatos
- Intenções de voto (espontâneas e/ou estimuladas)
- Aprovação do governo.
Neste post faz-se uma comparação entre as duas últimas variáveis, sem deixar de levar em conta um pouco o ‘conhecimento’.
A abordagem será simples: a plotagem em um mesmo gráfico do nível de aprovação do governo (*) e das intenções de voto através de pesquisa estimulada (no caso, de todos os institutos disponíveis) apenas para o/a candidato/a governista.
(*) apresentado pelas respostas ‘bom/ótimo’ à pergunta do Ibope: “Na sua opinião, o/a presidente _______ está fazendo um governo ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo?”
Não surpreendentemente existe grande correlação entre essas duas variáveis. É até curioso que raramente vejamos essa comparação.
(Infelizmente, não estão imediatamente disponíveis séries para as intenções de voto em FHC.)

Comentários:
(Sempre com base em votos totais, não votos válidos.)
1994 e 1998: FHC se elegeu/reelegeu com 44,1% e 43,1% dos votos totais nessas ocasiões. O nível de votos brancos/nulos foi excepcionalmente alto nas duas vezes (cerca de 19% para os dois anos), pelo que isso foi o suficiente para que não houvesse 2º turno. Esses percentuais foram bem próximos aos ‘ótimo/bom’ das pesquisas de popularidade mais próximas das datas das eleições: 46% para Itamar (dez./1994) e 41% para FHC (jul./1998.)
2002: Durante todo seu segundo mandato FHC nunca recuperou a popularidade que teve no primeiro. Mas ensaiou uma recuperação ao longo de 2002 que pode ter ajudado Serra a obter a ida para o 2º turno. Lula obteve 41,6% dos votos totais nessa eleição, percentual até próximo de suas primeiras aprovações já em 2003 (média de 45% em 5 pesquisas.)
2006: A correlação entre aprovação e intenção de voto foi muito grande na reeleição de Lula, tanto no descenso em 2005 como na recuperação de popularidade ao longo de 2006. Lula obteve 44,5% dos votos totais no 1º turno, mais que FHC em suas eleições, portanto; porém, com o baixo nível de brancos/nulos (um pouco mais que 8%), e de modo similar a 2002, foi necessária a confirmação no 2º turno.
2010: Como no Brasil não há 2ª reeleição, não foi possível verificar o previsível sucesso de uma candidatura Lula. Mas com percentuais de aprovação de governo em torno de 70% nos seus últimos dois anos de mandato, uma eleição com folga já no 1º turno seria óbvia. Dilma foi se tornando conhecida e terminou o 1º turno com 42,9% dos votos totais (apesar de em várias pesquisas ter passado de 50%.) Dilma chegou a 53% dos votos totais no 2º turno, um ótimo resultado posto que obter os 80% de aprovação de Lula seria muito difícil face a um conjunto de circunstâncias, entre elas a condição de primeira eleição em que participou. E, como Lula 2002/2003, esse percentual (53%) foi a média de aprovação em seu primeiro ano de mandato, 2011, quase como se eleitores de um candidato lhe garantissem a aprovação futura.
2014: até o momento, faltando 6 meses para a eleição, novamente notamos a grande coincidência entre as séries de aprovação e intenção de voto.
Alguns ‘padrões’, então, que vimos:
- candidatos à reeleição (FHC 1998, Lula 2006 e Dilma 2014) apresentam % de intenção de votos próximo à taxa de aprovação de seus governos, inclusive ao longo dos dois anos em que pesquisas de voto são feitas;
- candidatos à sucessão (FHC 1994, Serra 2002, Dilma 2010) apresentam % menor que a aprovação dos governos que representam, mas com aproximação crescente à medida em que são conhecidos (o que talvez seja possível comprovar também para FHC 1994.) A aprovação do governo FHC em jul./2002 foi de apenas 26%, Serra obteve 21% dos votos (e chegou a 36% dos votos totais no 2º turno.)
- candidatos favoritos, e curiosamente isso vale para todas as eleições desde 1994, obtêm entre 41 e 45% dos votos totais em 1º turno (repetindo: FHC foi eleito em 1º turno graças aos 19% de votos não-válidos, algo como pouca expectativa do eleitorado com as oposições.) O que é justamente o desempenho de Dilma de outubro para cá: uma média de 43%. Quando há elevado índice de brancos/nulos, isso é o suficiente para a eleição em 1º turno.
Riscos para a candidatura governista
Obviamente, poucos.
Atualmente há um percentual muito elevado de eleitores indecisos. A média desde outubro é de 29%. Se ficasse assim, e com a votação para Dilma “ancorada” na aprovação do governo, isso configuraria eleição em 1º turno com 61% de votos válidos (novamente, média desde outubro/2013.) Mas semelhante % de nulos/brancos é improvável: pode-se esperar que ao longo da campanha candidatos hoje menos conhecidos recebam parte disso. Assim, o primeiro “risco” é que haja dois turnos.
Os níveis atuais de aprovação do governo (39% em fev. e 36% em mar.) são tão bons quanto os 39% de FHC em 1998 e os 38% de Lula em 2006. Isso deve levar a uma reeleição fácil, quer seja em 1º turno (a oposição não cresce o suficiente, repetindo 1994 e 1998, com candidatos menos conhecidos/carismáticos que o Lula de então) quer seja em 2º turno (repetindo 2006 e 2010.) A oposição tem mesmo poucas chances de ganhar (já foi dito que em torno de 20%), mas onde residem essas chances? Talvez não tanto com o crescimento de uma candidatura como Campos/Marina (que tem o provável apelo de representar as heranças tanto de petistas como de tucanos), mas com a erosão da aprovação do governo em uma conjuntura em que a maioria da população está satisfeita mas simultaneamente deseja ‘mudanças’. A queda de popularidade é, assim, o segundo risco.
Grosso modo, e o que vimos quase sempre exceto para 2002, percentuais de aprovação em torno ou acima de 40% parecem garantir a eleição de uma candidatura governista. Por outro lado, taxas próximas ou abaixo de 30% são um sinal de alerta : foi no final de 2005 o único momento em que Lula não esteve à frente de Serra, foi no 1º sem./1994,  analogamente, o momento em que FHC não esteve à frente de Lula. E foi em jul./2013, quando a aprovação do governo Dilma atingiu seu mínimo de 31%, o único momento em que Marina “encostou” (49% de votos válidos em 2º turno, conforme Ibope da mesma ocasião.) E, em 2002, com aprovação sempre abaixo de 30%, não houve tempo de TV que resolvesse (naquele ano Serra teve cerca do dobro do tempo de TV que Lula.)
Em 1994, 2002, 2006 e 2010, independentemente do vencedor final ser reeleito ou sucessor, governo ou oposição, vimos um fator comum: em todos esses anos a taxa de aprovação do governo estava em ascensão (em 1998 estava estável e em torno de 40% a maior parte do ano.)
Mas o que esperar de 2014? Se ‘conhecimento’ (inclusive de propostas, claro) é o calcanhar de Aquiles para um candidato de oposição, a ‘aprovação’ o é para o governismo. Mas, por ora, tudo parece mais com 1998 e 2006, os anos de reeleições. Principalmente com 1998, dadas as perspectivas de um 2º mandato menos popular que o 1º, em função de conjuntura econômica provavelmente menos favorável, o que leva a pensar que não só este ano, mas 2018 será também um ano de ‘emoções’.
[obs.1: este post foi possível graças ao trabalho de compilação de pesquisas do blog de Fernando Rodrigues/UOL, onde a maior parte dos dados foi obtida: http://noticias.uol.com.br/politica/pesquisas/
Obs.2: este comentarista, por ora, prefere a pré-candidatura do PSB, quem acredita que isso pode influenciar na análise, que dê o desconto.]

Nenhum comentário: