Ao criticar Barbosa, Noblat exprimiu uma indignação geral contra a falta de compostura

Não tenho motivo pessoal para defender Ricardo Noblat. E ele sabe a razão.
Mas tenho razões profissionais para entender a falta de isonomia em uma representação de alta autoridade do Judiciário contra um cidadão comum, ainda que jornalista conhecido.
Em 1987 fui alvo de uma representação do então Consultor Geral da República (posteriormente Ministro da Justiça) Saulo Ramos, por denúncias que fiz contra um decreto suspeitíssimo que promulgou – provavelmente com redação do seu braço direito Celso de Mello – criando uma verdadeira indústria nas liquidações extrajudiciais.
Saulo encaminhou a representação ao Ministério Público Federal e o então Procurador Geral Sepúlveda Pertence distribuiu-a a um procurador. Este opinou pelo arquivamento. Sepúlveda então retirou a ação do procurador e encaminhou-a a outro procurador.
Na época procurei Sepúlveda em um intervalo de sessão do STF – da qual ele participava ainda na condição de Procurador Geral da República. Disse-lhe que não ia lhe pedir nada. Apenas queria entender o que o poder fazia até com pessoas com biografia.
Sua resposta me surpreendeu: "Não poderia dizer não ao consultor geral da República".
Assim como as ações de Gilmar Mendes contra jornalistas, a de Joaquim Barbosa peca pelo abuso. Em geral essas ações passam por dois crivos: o do procurador, opinando por sua legitimidade; e,  depois, pelo Judiciário. Pergunto: que procurador irá se pronunciar contra alguém que, além de presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça, também é ex-colega procurador.
Sobre o mérito, pode-se discutir. Paulo Henrique Amorim foi condenado por afirmações similares, mesmo defendido por lideranças do movimento afro. 
Noblat foi um feroz avalista das condenações da AP 470. Não se pode imputar a ele sequer part-pris político.
A questão que se coloca é outro: uma alta autoridade que se permite espetáculos públicos de grosseria, abusos verborrágicos incontroláveis, difamação de colegas, não é corresponsável pelas reações que gera, inclusive contra ele próprio?
Noblat exprimiu uma indignação que estava contida na garganta de muita gente, de pessoas, que independentemente de linha política, ficam indignadas com aqueles que exorbitam do poder que tem, que tratam o poder que lhes foi conferido como propriedade pessoal, não como um bem público que precisa ser preservado. Exagerou, sim, ao incluir essa bobagem de psicologia racial no artigo. Mas descreveu, da maneira como a opinião pública vê, a imagem que Joaquim Barbosa projetou.
Nos anexos, a representação de Joaquim Barbosa e a denúncia do PGR.