quarta-feira, 1 de outubro de 2014

ECONOMIA - O samba de uma nota só do Banco Central.

O samba de uma nota só do Banco Central






O Brasilianas.org de 2a feira passada, pela TV Brasil, trouxe uma discussão sobre a independência do Banco Central. Participaram Roberto Troster – ex-economista chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) -, José Ricardo da Costa e Silva – conselheiro do Sindicato dos Funcionários do Banco Central – e André Biancarelli – do Instituto de Economia da Unicamp.

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O debate demonstrou alguns pontos da atual ideologia do BC, especialmente a ideia fixa no sistema de metas inflacionárias.

Como lembrou Troster, o conjunto de atribuições do BC é muito mais amplo do que ele chama de “coponização” – o foco recorrente no Copom (Comitê de Política Monetária) e nas discussões sobre metas inflacionárias.

Cabe ao Bacen zelar pela solidez do sistema financeiro, pela melhoria dos canais de crédito, pela desconcentração bancária, por uma estratégia de realocação da poupança privada, saindo do curto prazo para o longo.

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Nas últimas décadas, o BC abriu mão de qualquer veleidade estrutural.

Há um mercado de títulos que remonta os períodos de hiperinflação. Nos últimos anos ensaiaram-se algumas tentativas de mercados de títulos privados para financiamento de investimento. Há toda uma poupança empoçada, não avançando para prazos mais longos devido à forma como o BC administra os juros de curto prazo.

Aparentemente, nada disso sensibiliza a diretoria do BC.

Mesmo no corpo técnico, o que dá status não são os grandes temas estruturantes, as discussões sobre o papel do BC em uma economia em profundas transformações, mas o mergulho em análises recorrentes sobre o sistema de metas inflacionárias.

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No debate, admitiu-se que a correlação entre BC independente e baixa inflação só vale para países desenvolvidos, com moedas conversíveis e que há tempos convivem com baixa inflação. O que obviamente não é o caso do Brasil.

Mesmo defensores intransigentes do modelo de metas inflacionárias, como Costa e Silva, aceitam que a única relação de causalidade entre o aumento da taxa de juros e a inflação é a apreciação cambial – a valorização do real, com todas as implicações negativas sobre a produção interna. E admitem que as atas do Copom jamais explicitam essas metas cambiais.

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No combate à inflação, o fator expectativa é central. Se uma empresa julga que haverá inflação, aumenta seus preços – e a inflação não acontece – poderá perder participação no mercado. Do mesmo modo, se negocia seus preços sem reajuste e ocorre um aumento da inflação, corre o risco de perder rentabilidade.

Por isso, além de choques de oferta ou demanda, o efeito-manada é um dos fatores de estímulo à inflação.

O sistema de metas permite essa coordenação, a um preço extremamente elevado. De um lado, demole a política fiscal e não define limites fiscais para a atuação do BC.

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Hoje em dia, há uma razoável concatenação entre as expectativas do mercado e do BC em relação à inflação futura. Os relatórios são minuciosos, assim como as projeções dos diversos preços.

Houvesse um estadista à frente do BC, à esta altura do campeonato os quadros técnicos do banco estariam debruçados em formas alternativas de coordenar as expectativas sem comprometer o câmbio e o orçamento.

Mas, infelizmente, o banco é dominado pelo pensamento burocrático.

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