terça-feira, 30 de maio de 2017

ESPIRITISMO - Em sua versão mais simples.


O Espiritismo em sua expressão mais simples
por Marcos Villas-Bôas
O Espiritismo em sua expressão mais simples

Em diversos dos textos publicados neste blog, temos visto comentários de leitores que revelam grande desconhecimento sobre a Ciência Espírita, um dos pilares do Espiritismo. Obviamente, ninguém aceitará uma ciência que estuda Espíritos quando sequer entende como tudo começou e o que está por trás dela.
Voltaremos, então, ao básico e à história utilizando inicialmente o não tão conhecido livreto “O Espiritismo em sua expressão mais simples”, publicado por Allan Kardec em 1862 e facilmente encontrado em .pdf na Internet.
Trata-se de obra com 17 páginas, sendo que o conteúdo mesmo já começa na página 5. Para facilitar ainda mais aos nossos leitores, iremos resumir esse livreto de modo a apresentar em breves linhas a história do surgimento do Espiritismo e, consequentemente, do advento do estudo científico das manifestações espirituais.
“Por volta de 1848, chamou-se a atenção, nos Estados Unidos, para diversos fenômenos estranhos que consistiam em ruídos, batidas e movimentos de objetos sem causa conhecida. [...] mas notou-se também que ocorriam particularmente sob a influência de certas pessoas, às quais se deu o nome de médiuns, que podiam de certa forma provocá-los à vontade, o que permitiu repetir as experiências. Para isso usaram-se sobretudo mesas; não que este objeto seja mais favorável que um outro, mas somente porque ele é móvel, é mais cômodo [...]. Obteve-se dessa forma a rotação da mesa, depois movimentos em todos os sentidos, saltos, reversões [...]. O fenômeno foi designado, a princípio, com o nome de mesas girantes ou dança das mesas”.
“Até então, o fenômeno podia explicar-se perfeitamente por uma corrente elétrica ou magnética, ou pela ação de um fluido desconhecido, e esta foi aliás a primeira opinião formada. Mas não se demorou a reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes [...]. Foi então evidente que a causa não era puramente física e, a partir do axioma: Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, concluiu-se que a causa desse fenômeno deveria ser uma inteligência”.
“[...] A primeira ideia foi que poderia ser um reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência demonstrou logo a impossibilidade disso, porque se obtiveram coisas completamente fora do pensamento e dos conhecimentos das pessoas presentes, e até em contradição com suas ideias, vontade e desejo; ela só podia, então, pertencer a um ser invisível. O meio de certificar-se era bem simples: bastava iniciar uma conversa com essa entidade, o que foi feito por meio de um número convencional de batidas significando sim ou não, ou designando as letras do alfabeto; obtiveram-se, dessa forma, respostas para as diversas questões que se lhe dirigiam. O fenômeno foi designado por mesas falantes. Todos os seres que se comunicaram dessa forma, interrogados sobre sua natureza, declaram ser Espíritos e pertencer ao mundo invisível”.
“Da América esse fenômeno passou para a França e o resto da Europa onde, por alguns anos, as mesas girantes e falantes estiveram na moda e se tornaram os divertimentos dos salões [...]”.
“Salientemos, antes, que a realidade do fenômeno encontrou numerosos opositores; alguns, sem levar em conta a preocupação desinteressada e a honradez dos experimentadores, só enxergaram uma fraude, uma hábil sutileza [...]. Outros, não podendo negar os fatos, e sob o império de certas ideias, atribuíram esses fenômenos a influência exclusiva do diabo e procuraram, assim, assustar os tímidos”.
“Os outros críticos não tiveram sucesso maior porque, aos fatos constatados, com raciocínios categóricos, só puderam opor denegações. Leiam o que eles publicam e em toda parte encontrarão a prova da ignorância e a falta de observação séria dos fatos; em nenhum lugar, uma demonstração peremptória de sua impossibilidade. Toda a argumentação deles resume-se assim: ‘Eu não acredito, então não existe; todos os que acreditam são loucos; somente nós temos o privilégio da razão e do bom senso’”.
“As comunicações por batidas eram lentas e incompletas; verificou-se que, adaptando um lápis a um objeto móvel (cesto, prancheta ou um outro, sobre os quais se colocavam os dedos), esse objeto começava a movimentar-se e traçava sinais. Mais tarde verificou-se que esses objetos eram tão-somente acessórios que podiam ser dispensados; a experiência demonstrou que o Espírito, que agira sobre um corpo inerte dirigindo-o à vontade, podia agir da mesma forma sobre o braço ou a mão, conduzindo o lápis. Tivemos então médiuns escritores, ou seja, pessoas que escreviam de modo involuntário, sob o impulso dos Espíritos, de que eram instrumentos e intérpretes. A partir daí, as comunicações não tiveram mais limites, e a troca de pensamentos pode-se fazer com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre os vivos. Era uma vasto campo aberto à exploração, a descoberta de um mundo novo: o mundo dos invisíveis, assim como o microscópio tinha desvendado o mundo dos infinitamente pequenos”.      
“Soube-se logo, por eles mesmos, que não se trata de seres à parte na criação, mas das próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos; que essas almas, depois de terem despojado de seu envoltório corporal, povoam e percorrem o espaço. Não houve mais possibilidade de dúvidas quando se reconheceram, entre eles, parentes e amigos, com quem se pode conversar [...]”.
“Há no homem três coisas essenciais: 1o) a Alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o pensamento, a vontade e o senso moral; 2o) o corpo, o envoltório material, pesado e grosseiro, que coloca o Espírito em relação com o mundo exterior; 3o) o perispírito, envoltório fluídico, leve, e que serve de laço e intermediário entre o Espírito e o corpo”.
“A morte, portanto, não passa da destruição do grosseiro envoltório do Espírito – só o corpo morre, o Espírito não. Durante a vida o Espírito está de certa forma limitado pelos laços da matéria a que está unido e que, muitas vezes, paralisa suas faculdades [...]. Em seu estado normal, o perispírito é invisível, mas o Espírito pode fazer com que sofra certas modificações que o tornam momentaneamente acessíveis à vista e até ao contato, como acontece com o vapor condensado, é assim que eles podem às vezes mostrar-se a nós em aparições. É com ajuda do períspirito que o Espírito age sobre a matéria inerte e produz os diversos fenômenos de ruído, de movimento, de escrita, etc.”
“As batidas e movimentos são, para os Espíritos, meios de atestar sua presença e chamar para si a atenção, exatamente como quando uma pessoa bate para avisar que há alguém. Há os que não se limitam a ruídos moderados, mas que chegam a fazer um alarido como de louça quebrando, de portas que se abrem e fecham, ou de móveis derrubados”.
“Os Espíritos podem ainda manifestar-se de várias maneiras, entre outras pela visão e pela audição. Certas pessoas, ditas médiuns auditivos, têm a faculdade de ouvi-los e podem, assim, conversar com eles; outras os veem – são médiuns videntes. Os Espíritos que se manifestam à visão apresentam-se geralmente sob forma análoga a que tinham quando vivos, porém vaporosa; outras vezes, essa forma tem toda a aparência de um ser vivo, a ponto de iludir completamente, tanto que algumas vezes foram tomados por criaturas de carne e osso, com as quais se pode conversar e trocar apertos de mãos, sem se suspeitar que se trava de Espíritos, a não ser em razão de seu desaparecimento súbito”.
“Que cada um junte suas lembranças e veremos quantos fatos autênticos desse tipo, de que não nos apercebíamos, aconteceram não só à noite, durante o sono, mas em pleno dia e no estado mais completo de vigília. Outrora víamos esses fatos como sobrenaturais e maravilhosos, e os atribuíamos à magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os atribuem à imaginação; mas desde que a ciência espírita nos deu a chave, sabemos como se produzem e que não saem da ordem dos fenômenos naturais” (grifo nosso).
“Acreditamos ainda que os Espíritos, só pelo fato de serem Espíritos, devem ser donos da soberana ciência e soberana sabedoria: é um erro que a experiência não tardou demonstrar. [...] Os Espíritos, não sendo mais do que as almas dos homens, naturalmente não podem tornar-se perfeitos ao abandonar seu corpo; até que tenham progredido, conservam as imperfeições da vida corpórea; e por isso que os vemos em todos os graus de bondade e maldade, de saber e ignorância”.
“As instruções dadas pelos Espíritos de categoria elevada sobre todos os assuntos que interessam à humanidade, as respostas que eles deram às questões que lhe foram propostas, foram recolhidas e coordenadas com cuidado, constituindo toda uma ciência, toda uma doutrina moral e filosófica, sob o nome de Espiritismo” (grifo nosso).
“No espaço de alguns anos conseguiu adesões em todos os países do mundo, sobretudo entre as pessoas esclarecidas, inúmeros partidários que aumentam todos os dias em uma proporção extraordinária, de tal forma que hoje pode-se dizer que o Espiritismo conquistou direito de cidadania”.
“O Espiritismo, entretanto, não é descoberta moderna; os fatos e princípios sobre os quais ele repousa perdem-se na noite dos tempos, pois encontramos seus vestígios nas crenças de todos os povos, em todas as religiões, na maior parte dos escritores sagrados e profanos; só que os fatos, não completamente observados, foram muitas vezes interpretados segundo as ideias supersticiosas da ignorância, e não foram deduzidas todas as suas consequências”.
“Se as almas ou Espíritos podem manifestar-se aos vivos, é que isso é natural e, portanto, eles devem tê-lo feito todo o tempo; assim, em qualquer época e qualquer lugar encontramos a prova dessas manifestações abundantes, sobretudo nos relatos bíblicos”.
“O que é moderno é a explicação lógica dos fatos, o conhecimento mais completo da natureza dos Espíritos, de seu papel e de seu modo de ação, a revelação de nosso estado futuro, enfim, sua constituição em corpo de ciência e doutrina e suas diversas aplicações. Os Antigos conheciam o princípio, os Modernos conhecem os detalhes. Na Antiguidade, o estudo desses fenômenos constituía o privilégio de certas castas que só os revelavam aos iniciados em seus mistérios; na Idade Média, os que se ocupavam ostensivamente com isso eram tidos por feiticeiros e, por isso, queimados; mas hoje não há mistérios para ninguém, não se queima mais ninguém; tudo se passa claramente e todo mundo pode esclarecer-se e praticá-lo, pois há médiuns em toda parte”.
Nota-se desse breve resumo do livreto de Kardec que a ciência espírita foi construída de forma séria, com observação, experimentação, olhar crítico e um ceticismo razoável, partindo de induções (da prática para a teoria, do particular para o geral, do concreto para o abstrato) via manifestações espirituais e seguindo o rigor lógico-dedutivo (da teoria para a prática, do geral para o particular, do abstrato para o concreto) exigido no seio científico do século XIX para se construir um corpo científico e filosófico. O viés religioso veio apenas mais tarde e, sobretudo, no Brasil.
Para se por a favor ou contra a Ciência Espírita em si e suas teorias, é preciso ao menos conhecer o básico sobre elas, o que a imensa maioria dos favoráveis e contrários ainda não o faz, mesmo entre aqueles que se dizem fervorosos adeptos do Espiritismo e entre aqueles que dizem já tê-lo estudado profundamente e não encontrado nada de real.
Esperamos humildemente que este blog possa ajudá-los nessa empreitada de expandir o conhecimento sobre tema tão fundamental para nossas vidas. E antes que os espíritas se decepcionem com essa afirmação acima, encerramos este texto com uma assertiva no mesmo sentido do Espírito Bezerra de Menezes, ao prefaciar a excelente obra, que merece ser lida do início ao fim, em todos os seus volumes, Filosofia Espírita (volume VI), psicografada por João Nunes Maia sob acoplamento mediúnico com o Espírito Miramez:
“Os espíritas, em geral, precisam estudar mais, para melhor assimilarem as leis de Deus, alargando a compreensão em todas as áreas da vida na edificação da caridade, porque somente conhecemos o amor pelos caminhos da benevolência. Não pode, portanto, ficar sem estudar as obras básicas da codificação; partindo delas, eles encontrarão, nas outras, que vitalizam mais o Espiritismo, um mundo de revelações, que nos leva a grandes esperanças”.   

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