quarta-feira, 31 de maio de 2017

POLÍTICA - Dois tipos de traficantes.


O traficante da favela e o traficante do Senado

Edição/247 Fotos: Pedro França/Ag. Senado | Reprodução
Bandido bom é bandido morto. Traficante quando é alvejado pela polícia é motivo de comemoração. Se ele estiver na favela. A imagem desse bandido no imaginário brasileiro é sempre um negro, pobre, em uma área carente, segurando um fuzil. Mas droga é um negócio lucrativo e nem todo traficante está na periferia. Recentemente, um grampo da Polícia Federal flagrou uma frase emblemática do Senador Zezé Perrella: "Não faço nada de errado, só trafico drogas".
O Senador ficou politicamente marcado pelo caso de quase meia tonelada de cocaína, encontrada no helicóptero pertencente a uma empresa de sua família. O piloto, que era funcionário de seu filho, Gustavo Perrella, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, foi preso e os Perrella absolvidos. Zezé Perrella já era Senador, com foro privilegiado e ainda exerce seu mandato, pelo PSDB. A conversa, divulgada pela PF, foi justamente com outro Senador tucano, Aécio Neves, que cobrava de Perrella mais fidelidade em suas declarações sobre a Operação Lava Jato.
O Senador reafirma que é inocente no caso do helicóptero e que foi irônico na gravação da PF. Mas não há dúvidas de que os indícios de uma ligação, ainda que indireta, com o tráfico são contundentes. No entanto, o caso não ocupou tanto destaque nos noticiários ou nos debates nas redes sociais. A polêmica declaração passou praticamente batida pela mídia ou pela ala conservadora da sociedade. Afinal, Zezé Perrella é branco, rico, empresário, senador e, no alto de sua moralidade, participou da comissão que julgou Dilma Rousseff, por supostos crimes de responsabilidade.
Na periferia, não é preciso haver tantas evidencias. Ações violentas nas favelas brasileiras é rotina. Muitas vezes, com mortes de inocentes. Normalmente, os números não são tão divulgados, pois os mortos são em sua ampla maioria negros e pobres. A sociedade aprova uma verdadeira chacina étnica em nome da "guerra às drogas", e ao mesmo tempo admite que os grandes casos de apreensão de drogas continuem obscuros e mal explicados.
No Congresso Nacional, a impunidade e indignação seletiva já estão virando uma infeliz tradição do povo brasileiro. Na favela, a violência e a arbitrariedade é uma triste rotina. Indícios de crimes, quando emergem em ambientes tão distintos, despertam uma reação incrivelmente diversa das autoridades e da população: a uns pena de morte; a outros, absolvição. E assim segue a hipocrisia no país da desigualdade.

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