A estilista Zuzu Angel cercada pelos filhos. Da esquerda para a direita, Hildegard Angel, Ana Cristina Angel e Stuart Angel.
Zuzu Angel (1921-1976) foi uma estilista brasileira. Mãe de Stuart Edgar Angel Jones, jovem desaparecido em 1971, durante o período da ditadura militar no país.
Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, nasceu em Curvelo, em Minas Gerais, no dia 5 de junho de 1921. Ainda criança mudou-se com a família para Belo Horizonte. Em seguida, morou em Salvador, na Bahia, época em que costurava para a família. Da cidade, recebeu grande influência em seu futuro trabalho.
Em 1940, Zuzu conheceu o americano Norman Angel Jones, com quem se casou em 1943. No dia 11 de janeiro de 1946 nasceu o primeiro filho, Stuart Edgar Angel Jones. O casal teve mais dois filhos, Hildegard e Ana Cristina. Em 1947 mudou-se para o Rio de Janeiro. No final dos anos 50 começou a trabalhar como profissional da costura. Os anos 60 o casal se separou. Em 1970, Zuzu abriu uma loja de roupas em Ipanema.
Com o tempo, Zuzu expandiu seu trabalho e chegou ao mercado norte-americano. Foi vitrine de grandes lojas de departamento e ganhou editoriais importantes. Chegou a ter clientes famosas, como as atrizes Liza Minnelli, Kim Novak e Joan Crawford.
Na manhã de 14 de maio de 1971, seu filho Stuart, então estudante de economia, que era militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que combatia a ditadura militar que foi instalada no país em 1964, foi preso no Rio de Janeiro e levado para a Base Aérea do Galeão. A partir do desaparecimento do filho, Zuzu transformou sua vida em uma batalha incansável em busca de informações sobre o paradeiro do filho.
Ainda em 1971, realizou um desfile/protesto no consulado brasileiro em Nova Iorque. Sua roupas incorporavam elementos que denunciavam a situação política brasileira, como tanques de guerra, canhões, pássaros engaiolados, meninos aprisionados e anjos amordaçados.
Zuzu angel denunciava à imprensa e aos órgãos internacionais as arbitrariedades praticadas pela ditadura militar. Buscava informações sobre o filho e queria o direito de poder sepultá-lo. Segundo o depoimento do preso político Alex Polari, que esteve com ele no mesmo local, Stuart foi torturado, não resistindo, vindo a falecer naquele mesmo dia.
Sabendo que era perseguida, Zuzu deixou um documento com conhecidos caso algo suspeito lhe acontecesse, afirmando que certamente esta teria sido mais uma obra dos assassinos de seu filho.
Na madrugada de 14 de abril de 1976, esse temido momento chegou. Depois de uma noite com amigos, Zuzu dirigia seu carro, de volta para casa, e entrava no túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. Ao sair, um outro veículo não identificado a fechou e ela perdeu a direção, bateu em uma mureta e capotou para fora da pista. Zuzu Angel, a costureira, mãe e ativista, morreu na hora. Hoje, o túnel leva o seu nome como uma forma de homenagem.
Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade, instituída pelo então governo Dilma Rousseff (presidente que também foi presa e torturada pela ditadura militar), confirmou a participação do Estado Brasileiro na morte de Zuzu Angel.
Em 2019, a filha de Zuzu Angel, a jornalista Hildegard Angel, conseguiu finalmente as certidões de óbito de sua mãe e de seu irmão, Stuart, com as mortes identificadas como “causadas pelo Estado Brasileiro, no contexto da perseguição sistêmica e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”. O espaço do local de sepultamento de Stuart, porém, segue vazio, porque a mãe nunca pode embalar o filho — como cantou Chico Buarque, em Angélica, música que compôs em homenagem à estilista.
Texto: Gabriel Monteiro (revista Elle)
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