Por Altamiro Borges
O favoritismo de Dilma Rousseff no segundo turno é algo inquestionável. A diferença entre ela e o demotucano José Serra, de 14,5 milhões votos, é a maior prova. Mas só o favoritismo não garante a vitória da primeira mulher na Presidência. Prefiro seguir a cautela do revolucionário italiano Antonio Gramsci, que dizia que é “preciso ser pessimista no diagnóstico e otimista na ação”.
Uma batalha de vida ou morte
Após se mostrar abatida com decadente campanha do demotucano, a direita volta se ouriçar. Nos comentários de seus colunistas na mídia, a excitação é despudorada. Ela festeja a ida ao segundo turno como se fosse uma grande vitória. A “onda verde”, inventada pela própria mídia, salvou os tucanos, num ecologismo às avessas. Agora, a direita jogará todas as fichas na disputa decisiva.
Se o jogo já foi sujo e rasteiro no primeiro turno, pior ainda será neste segundo. Para a direita, é uma guerra de vida ou morte. Não tem meio-termo ou respeito à democracia. Derrotada, ela calcula que demorará a retornar ao núcleo central do poder. Neste esforço derradeiro, as forças conservadoras contarão com algumas peças importantes, que não podem ser subestimadas:
O violento arsenal da direita
- A grande burguesia, mesmo não tendo do que reclamar do governo Lula – nunca ganhou tanto dinheiro na vida –, desconfia de um futuro governo Dilma. Teme que ela aprofunde as mudanças no país. O intragável José Serra, do bloco neoliberal-conservador, é mais confiável, mais seguro, e terá agora bem mais apoio;
- A mídia golpista se reanimou com o êxito obtido no primeiro turno. Seus petardos fustigaram a candidata governista e a invenção da “onda verde” garantiu o segundo turno. Ela comemora seu êxito. Mostrou que não está morta, como alguns imaginavam. Para ela, não há possibilidade de qualquer recuo. Se a direita for derrotada, ela perderá o pouco que ainda tem de credibilidade. Ela será, sem dúvida, a mais feroz e venenosa inimiga de Dilma Rousseff neste segundo turno.
- As forças do atraso – os generais do pijama do Clube Militar e os fundamentalistas religiosos, entre outros setores conservadores – agora radicalizarão seu discurso fascistóide. Eles ainda não conseguem repetir as marchas “com Deus, pela liberdade”, que prepararam o clima para o golpe militar de 1964, mas continuam bem ativos no submundo da política. Seu veneno ainda amedronta muita gente, inclusive do povo.
- A chamada “classe média”, que come mortadela e arrota caviar, também será acionada para o segundo turno. No seu egoísmo suicida, ela será uma importante reserva das forças de direita. Principalmente nos centros urbanos do Sul e Sudeste, ela tentará seduzir os trabalhadores que lhe prestam serviços, os “agregados sociais”. A “classe mérdia” sempre se atiça nas horas decisivas.
Habilidade e firmeza na ação
Diante deste arsenal da direita, as forças que apostam na “continuidade com avanços” precisarão de muita habilidade política e muita firmeza na ação. Habilidade para reconquistar o eleitor seduzido pela “onda verde”; para agregar todas as forças, do centro à esquerda, do PMDB ao PSOL, que estiveram metidas nas suas próprias campanhas; para engajar o conjunto das forças progressistas do país.
E firmeza para politizar o debate, principalmente na TV, escancarando a disputa de projetos. Não dá mais para continuar apanhando, ouvindo mentiras, sem dar resposta, sem partir para o contra-ataque. Os demotucanos representam o que há de pior na política brasileira, o que há de mais regressivo e destrutivo. Eles precisam ser desmascarados com argumentos e coragem, sem vacilações. Esta firmeza política é que poderá contagiar e ativar a militância na guerrilha cotidiana até 31 de outubro.
Do contrário, o favoritismo de Dilma Rousseff pode virar frustração, como enormes prejuízos para a acumulação de forças no Brasil e na América Latina.
Fonte: Blog do Miro.
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