Do site Luis Nassif online
Dilma e Lula: o difícil exercício midiático de enxergar o óbvio
Folha de S.Paulo - São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Dilma e o cavalo de Troia - 25/09/2011
FERNANDO DE BARROS E SILVA
SÃO PAULO - Dilma Rousseff recebeu aplausos generalizados da imprensa brasileira. Veículos e colunistas em geral refratários a Lula e ao PT se derramaram em elogios ao discurso da presidente na ONU. Entre os chamados formadores de opinião, mesmo (ou sobretudo) os conservadores, essa atitude de quase espanto positivo em relação a Dilma -uma espécie de "Oh, muito bem!"- tem sido recorrente.
Não é o caso de retomar os tópicos da sua fala em Nova York. Basta dizer que ficou visível em várias passagens o acento pessoal do pronunciamento. Dilma fez questão de escrever ela própria certos trechos.
O ponto aqui é outro. FHC estava, afinal, certíssimo quando alertou o PSDB, naquele texto famoso sobre "O Papel da Oposição", de que era preciso encontrar formas inovadoras de conexão com as classes médias, caso contrário elas seriam atraídas para o campo petista. O tucano se referia à classe C emergente, com suas demandas novas, mas o raciocínio também se aplica ao eleitor tradicionalmente simpático ao PSDB.
A defesa intransigente dos direitos humanos, a imagem de quem combate a corrupção, o recato e os contrastes com o estilo de Lula -tudo compõe uma figura que é do agrado do mundo social a que pertencemos.
Mas é difícil discernir entre os que gostam de Dilma e os que gostam de gostar de Dilma porque não gostam de Lula. Nesse universo, de cada dez pessoas que batem palmas para a presidente, nove parecem fazê-lo exatamente porque ela seria uma espécie de negação do padrinho.
Diferenças entre eles existem, mas seria ingênuo demais pensar que Dilma e Lula se distanciam ou não estão jogando juntos. Isso não é verdade. Inclusive porque para cada admirador novo que Dilma conquista, Lula não perde nenhum que já tinha.
Quem sabe Dilma não seja, à revelia dela própria, o cavalo de Troia de que o PT precisava para conquistar a cidadela da classe média.
Comentário
Lula é um craque político. Mas, convenhamos, é como Santos de Pelé enfrentando o Jabaquara. O primarismo da ação política midiática é acachapante, não enobrece o vitorioso, porque torna tudo muito fácil. A falta de discurso político produziu essa anomalia bem retratada pelo Fernando Barros: de jogar a classe média no colo de Dilma para tentar afastá-la de Lula.
Há tempos chamamos a atenção aqui para essa estratégia política de Lula-Dilma e a maneira como a oposição e a mídia embarcaram nela.
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