A já esperada troca de Orlando Silva por Aldo Rebelo, ambos do PCdoB, no Ministério do Esporte pode ser o último capítulo de um ciclo político, o do presidencialismo de coalização, inaugurado após a redemocratização do país pelo governo acidental de José Sarney, em 1985, e que está com o prazo de validade vencido.
A sociedade brasileira clama por uma nova forma de fazer política e montar governos, que não seja baseada apenas em verbas e cargos, com o loteamento da Esplanada dos Ministérios em cotas partidárias no sistema de "porteira fechada".
Com certeza, nem Dilma Rousseff aguenta mais este troca-troca de seis por meia dúzia. Em menos de dez meses de governo, a presidente já se viu obrigada a dar a conta a seis ministros de diferentes partidos, sem conseguir montar uma equipe minimamente coesa e competente para administrar o país.
Tudo bem que Dilma se elegeu a bordo de uma monumental coligação partidária e governa praticamente sem oposição, mas nem assim ela consegue ter uma semana de paz para se dedicar às grandes questões nacionais.
A maior parte do tempo da presidente neste seu primeiro ano foi dedicada à administração de crises provocadas por denúncias de corrupção em diferentes ministérios _ ou melhor, de "malfeitos', como ela prefere.
O fato é que a pauta política foi dominada pelo cai-cai e a substituição de ministros, o que não resolveu nenhum dos problemas anteriores e criou outros. Nos últimos cinco meses, isto aconteceu uma vez a cada 50 dias.
Ninguém consegue governar o país desse jeito. Como nenhum partido reúne condições de governar o Brasil sozinho, é evidente que qualquer governo precisa montar alianças para se eleger e ter maioria no Congresso.
O problema é que não dá mais para utilizar os mesmos métodos do toma-lá-dá-cá que está na raiz de todos os escândalos passados, presentes _ e, se nada for feito, futuros.
Cabe a Dilma Rousseff, agora, com a força do apoio popular que as pesquisas demonstram, dar um basta a essa situação, enterrar esse ciclo.
Para isso, precisa estabelecer novos critérios na construção de uma nova maioria _ de preferência, com gente decente _ e estabelecer os requisitos mínimos de competência, probidade e compromissos com o país, tanto de partidos como dos nomes indicados para os ministérios.
Se o fizer logo, passa para a história. Se adiar por muito tempo, por mais concessões que faça, não terá assegurada a tão falada governabilidade _ ao contrário, poderá ver esvaziado o seu poder e inviabilizar a reeleição.
Em vez de ficar a reboque dos fatos e remontar seu governo no varejo partidário cada vez que um ministro inviabiliza sua própria permanência, a presidente Dilma poderia aproveitar a anunciada reforma ministerial prevista para janeiro e, desta vez, agir no atacado.
Por que os mesmos partidos têm que ficar para sempre com os mesmos ministérios, perenizando as mesmas práticas, apenas trocando Orlando por Aldo ou Pedro por Gastão? Onde está escrito isso?
Gostaria de ver a presidente Dilma fazer a primeira reunião ministerial de 2012, após a reforma, com caras e propostas novas capazes de dar novas esperanças aos brasileiros que votaram e confiam nela para devolver dignidade e honradez à atividade política.
Fazer um governo de continuidade como este para o qual ela foi eleita em 2010, graças ao apoio decisivo do então presidente Lula e dos seus 80% de aprovação popular, não significa que nada possa ser mudado.
Ao contrário, para preservar as conquistas sociais e econômicas da última década, é preciso criar novas bases para a relação entre o governo, os partidos e a sociedade, aprimorar os controles na administração e avançar na direção de um enfrentamento permanente aos maus hábitos de privatização pessoal e partidária dos recursos públicos.
É enorme, eu sei, o desafio colocado para a presidente que nunca sonhou em ser presidente, mas os últimos dias, semanas e meses demonstraram à exaustão que não é possível eternizar esse sistema político viciado, emendando uma crise na outra.
Não há escolha: é mudar ou mudar e dar início a um novo ciclo político. Quem pode dar o sinal e o exemplo é a presidente da República, Dilma Rousseff.
Blog do Ricardo Kotscho
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