O impasse político na Europa
Editorial do sítio Vermelho:
Entre janeiro de 2009 e o último dia 6 de maio, nove governos cúmplices dos
programas de arrocho salarial, cortes em aposentadorias e direitos sociais, e
diminuição dos gastos públicos para garantir o pagamento de dívidas e juros,
foram derrotados na Europa, uma derrubada que parece se acelerar: um em 2009, um
em 2010; quatro em 2011 e três apenas nos primeiros cinco meses de 2012. Isto é,
um terço dos 27 estados que formam a União Europeia tiveram seus governos
colhidos pelo turbilhão da crise e foram afastados da direção de seus países
justamente por jogar sobre os ombros dos trabalhadores e do povo o alto custo da
crise econômica vivida pela Europa.
Este é o retrato mais nítido do descontentamento presente em algumas das estrelas da União Europeia e levou à troca de governos na Espanha (julho de 2011), Itália (novembro de 2011), Holanda (abril de 2012) e França (maio de 2012). A eles se junta uma estrela menor, mas que significa um grande complicador dado o volume de investimentos especulativos feitos por bancos alemães e franceses: a Grécia, cujo calvário parece infindável.
A insatisfação popular expressa nas urnas indica o esgotamento do modelo neoliberal na Europa, com sua sequência de mazelas (desemprego, empobrecimento, ameaça de fome e desamparo) impostas para atender às exigências dos grandes especuladores financeiros. Descontentamento, aliás, que muitas vezes se expressa por meio de falsas escolhas, com a eleição de governos ainda mais conservadores do que os precedentes, como ocorreu, por exemplo, com a vitória do direitista Mariano Rajoy na Espanha, em julho de 2011.
Até mesmo a grande estrela (a “dama de ferro”) das imposições financeiras contra o povo, a chanceler alemã Ângela Merkel, enfrenta o sabor amargo da derrota. Na eleição regional de domingo (13) no estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália (cuja capital é Dusseldorf), seu partido, o CDU (democrata-cristão) teve um mau desempenho e foi derrotado pelo SPD (Partido Social Democrata). Numa eleição que o próprio candidato derrotado da CDU, Norbert Röttgen, reconheceu ser também uma espécie de plebiscito sobre a estratégia europeia de Merkel. Estima-se que tenha ficado com 26% dos votos, contra os 39% do SPD.
As dificuldades para os conservadores parecem se acumular. Nesta terça-feira (15), o socialista François Hollande assume a presidência da República na França, sinalizando a dissolução do alinhamento automático que havia entre os governos conservadores do francês Nicolas Sarkozy e da alemã Ângela Merkel, a dupla responsável pela imposição da política de arrocho sobre a Europa.
As promessas de campanha de Hollande indicaram o rompimento deste automatismo e o compromisso com a busca do crescimento econômico e com um tratamento mais democrático para os imigrantes, demonizados por Sarkozy, e a retirada das tropas francesas do Afeganistão ainda este ano.
Até onde Hollande irá? É difícil dizer mas, para corresponder à esperança simbolizada por seu nome e sua eleição, precisará ser fiel ao programa de campanha e realizar as mudanças necessárias para apresentar ao capital, e não aos trabalhadores, a conta da crise econômica.
Outro sinal importante será o desfecho daquilo que a imprensa apelidou de impasse grego. Os partidos tradicionais (o conservador Nova Democracia e o social-democrata Pasok) foram derrotados em 6 de maio, abrindo caminho para um novo protagonista que traz a voz das ruas para a política grega, o Syriza (Partido da Esquerda Radical), que não aceita “ser um álibi de esquerda para um governo que irá manter as políticas que o povo rejeitou no dia 6 de maio”, disse seu líder Alexis Tsipras. Ele, que se recusa a “ser cumplice” dos “crimes cometidos” pelos partidos que, no governo, foram responsáveis pela falência da Grécia, agora se transformou no fiel da balança da legitimidade de um novo governo. Isto ficou claro no domingo (13) quando o Pasok e a Nova Democracia estiveram perto de formar um governo, ajudados pelo pequeno Dimar, de centro-esquerda, mas recuaram quando o Syriza, cuja adesão era vista como necessária para dar legitimidade ao novo governo, não aceitou participar. O caminho para uma nova eleição, em junho, está pavimentado e nela, com certeza, a grande estrela será o Syriza, para pesadelo dos especuladores financeiros e para os donos da União Europeia: uma Grécia à esquerda poderá abandonar os acordos lesivos à soberania nacional e ao bem-estar dos gregos. Muitos analistas preveem, neste cenário, grandes dificuldades para grandes bancos na França e na Alemanha, credores de investimentos especulativos que infelicitam o povo grego.
A disputa entre os especuladores do grande capital e os interesses dos trabalhadores e do povo parece alcançar um novo patamar na Europa. Hoje, suas arenas mais notáveis estão em Paris e em Atenas, face mais visível da mesma batalha que se trava na Itália, Espanha, Alemanha, Reino Unido e demais nações da União Europeia. Seus desdobramentos, nos próximos meses, revelarão se os protagonistas principais deste embate, aqueles que ocuparão os governos, estarão à altura de suas tarefas e compromissos e saberão reverter a atual onda de mazelas que aflige o povo e os trabalhadores no velho continente.
Este é o retrato mais nítido do descontentamento presente em algumas das estrelas da União Europeia e levou à troca de governos na Espanha (julho de 2011), Itália (novembro de 2011), Holanda (abril de 2012) e França (maio de 2012). A eles se junta uma estrela menor, mas que significa um grande complicador dado o volume de investimentos especulativos feitos por bancos alemães e franceses: a Grécia, cujo calvário parece infindável.
A insatisfação popular expressa nas urnas indica o esgotamento do modelo neoliberal na Europa, com sua sequência de mazelas (desemprego, empobrecimento, ameaça de fome e desamparo) impostas para atender às exigências dos grandes especuladores financeiros. Descontentamento, aliás, que muitas vezes se expressa por meio de falsas escolhas, com a eleição de governos ainda mais conservadores do que os precedentes, como ocorreu, por exemplo, com a vitória do direitista Mariano Rajoy na Espanha, em julho de 2011.
Até mesmo a grande estrela (a “dama de ferro”) das imposições financeiras contra o povo, a chanceler alemã Ângela Merkel, enfrenta o sabor amargo da derrota. Na eleição regional de domingo (13) no estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália (cuja capital é Dusseldorf), seu partido, o CDU (democrata-cristão) teve um mau desempenho e foi derrotado pelo SPD (Partido Social Democrata). Numa eleição que o próprio candidato derrotado da CDU, Norbert Röttgen, reconheceu ser também uma espécie de plebiscito sobre a estratégia europeia de Merkel. Estima-se que tenha ficado com 26% dos votos, contra os 39% do SPD.
As dificuldades para os conservadores parecem se acumular. Nesta terça-feira (15), o socialista François Hollande assume a presidência da República na França, sinalizando a dissolução do alinhamento automático que havia entre os governos conservadores do francês Nicolas Sarkozy e da alemã Ângela Merkel, a dupla responsável pela imposição da política de arrocho sobre a Europa.
As promessas de campanha de Hollande indicaram o rompimento deste automatismo e o compromisso com a busca do crescimento econômico e com um tratamento mais democrático para os imigrantes, demonizados por Sarkozy, e a retirada das tropas francesas do Afeganistão ainda este ano.
Até onde Hollande irá? É difícil dizer mas, para corresponder à esperança simbolizada por seu nome e sua eleição, precisará ser fiel ao programa de campanha e realizar as mudanças necessárias para apresentar ao capital, e não aos trabalhadores, a conta da crise econômica.
Outro sinal importante será o desfecho daquilo que a imprensa apelidou de impasse grego. Os partidos tradicionais (o conservador Nova Democracia e o social-democrata Pasok) foram derrotados em 6 de maio, abrindo caminho para um novo protagonista que traz a voz das ruas para a política grega, o Syriza (Partido da Esquerda Radical), que não aceita “ser um álibi de esquerda para um governo que irá manter as políticas que o povo rejeitou no dia 6 de maio”, disse seu líder Alexis Tsipras. Ele, que se recusa a “ser cumplice” dos “crimes cometidos” pelos partidos que, no governo, foram responsáveis pela falência da Grécia, agora se transformou no fiel da balança da legitimidade de um novo governo. Isto ficou claro no domingo (13) quando o Pasok e a Nova Democracia estiveram perto de formar um governo, ajudados pelo pequeno Dimar, de centro-esquerda, mas recuaram quando o Syriza, cuja adesão era vista como necessária para dar legitimidade ao novo governo, não aceitou participar. O caminho para uma nova eleição, em junho, está pavimentado e nela, com certeza, a grande estrela será o Syriza, para pesadelo dos especuladores financeiros e para os donos da União Europeia: uma Grécia à esquerda poderá abandonar os acordos lesivos à soberania nacional e ao bem-estar dos gregos. Muitos analistas preveem, neste cenário, grandes dificuldades para grandes bancos na França e na Alemanha, credores de investimentos especulativos que infelicitam o povo grego.
A disputa entre os especuladores do grande capital e os interesses dos trabalhadores e do povo parece alcançar um novo patamar na Europa. Hoje, suas arenas mais notáveis estão em Paris e em Atenas, face mais visível da mesma batalha que se trava na Itália, Espanha, Alemanha, Reino Unido e demais nações da União Europeia. Seus desdobramentos, nos próximos meses, revelarão se os protagonistas principais deste embate, aqueles que ocuparão os governos, estarão à altura de suas tarefas e compromissos e saberão reverter a atual onda de mazelas que aflige o povo e os trabalhadores no velho continente.
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