quarta-feira, 30 de maio de 2012

POLÍTICA - O ministro inferiu.


Por Sergio Lirio/Carta Capital



Na  primeira  vez  que  a triangulação Veja-Demóstenes Torres-Gilmar Mendes
funcionou,  coube  ao  então presidente do Supremo Tribunal Federal o papel
mais  absurdo.  Veja  divulgou  um  suposto  grampo  de  ministros do STF e
reproduziu  uma irrelevante conversa entre Mendes e Torres como prova. Algo
que  poderia  ter  sido  gravado  por  qualquer um dos dois ou simplesmente
relatado ao repórter. O áudio da conversa nunca apareceu.


Por  causa do suposto grampo, o ministro chamou o então presidente Lula “às
falas”.  O  episódio  resultou  na  demissão  do  delegado Paulo Lacerda da
Agência  Brasileira  de  Inteligência  (Abin)  e  no  posterior  enterro da
Operação Satiagraha, para a glória do banqueiro Daniel Dantas.


A  Polícia Federal investigou a denúncia, fez uma varredura e não localizou
nenhum  grampo. Diante do fato, Mendes saiu-se com esta: “se a história não
era  verdadeira,  era  ao  menos  verossímil”.  Romances e filmes de ficção
costumam ser verossímeis. Mas até ai… Ficou tudo por isso mesmo.


Agora  o  ministro  do Supremo reedita uma dobradinha com a Veja (desta vez
não  foi  possível contar com os serviços do senador Torres, por motivos de
força  maior, como sabemos). Mendes acusa uma suposta pressão do presidente
Lula  para  abafar  o julgamento do mensalão. Dois participantes da reunião
desmentem: o próprio Lula e o ex-ministro Nelson Jobim. São dois contra um.


E o que acontece? Na entrevista ao Jornal Nacional exibida na segunda-feira
28,  Mendes  requebra  no  palavreado.  Diz  ter “inferido” que Lula queria
pressioná-lo  a  tentar  adiar  o  julgamento  do  mensalão. Registre-se: o
ministro inferiu.

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