Faltam as escutas entre Veja e a quadrilha
Na edição desta semana a revista VEJA atreve-se a insultar seus próprios leitores com a pergunta cínica estampada numa chamada de capa: “Como Demóstenes enganou tantos por tanto tempo”. Bastaria folhear o longo histórico de suas perorações contra a esquerda, o Estado, a democracia participativa, a cidadania engajada, o pensamento crítico, bem como a demonização de lideranças, idéias e projetos progressistas para obter a resposta à pergunta em suas próprias páginas.
A sedimentação golpista de uma parte da opinião pública de classe média não se dá ao acaso. Não se trata aqui da plutocracia ciosa de seus domínios, da qual Civita & policarpos são servidores bem pagos. E eficientes, diga-se, peritos na arte de popularizar janios, collors, demóstenes e outros vulgarizadores dos interesses graúdos.
Não; o florescimento dessas gargantas de aluguel não prosperaria na forma de votos e medo pânico que inspiram em muitos governantes - inclusive da esquerda - não fosse o trabalho prestimoso dos que esculpem o seu busto em bronze de credibilidade e veneração. É toda uma rede voltada para a citação cotidiana de suas palavras, o manchetear espetaculoso de suas 'denúncias' e a propagação de 'reflexões de cocheira', copiosamente repetidas pelos colunismo que forma julgamentos e dissemina pautas.
Há responsáveis na lubrificação cotidiana da engrenagem. É um equívoco dissolver a sua assinatura na suposta predisposição da sociedade ou de parte dela para ser canalha ou 'egoísta'. Ainda que isso seja um fato, o que plasma esse apetite em nervos e musculatura política é a ação deliberada e organizada para esse fim. Incensar os demóstenes e satanizar os lulas e respectivas agendas é o fermento que transforma instintos em história.
O dispositivo midiático demotucano tem executado esse labor com sofreguidão. Chegou a hora de lhe dar o crédito merecido, sem liquefazer seu papel num solvente sociológico que evoca o acanalhamento 'natural' da sociedade para relevar quadrilhas e relativizar o peso orbital de seus satélites na imprensa.
Há marcos referenciais na ação deliberada da mídia em produzir fatos políticos para golpear o discernimento da socidade .
A edição do debate final entre Collor-Lula em 1989, no Jornal~e Nacional da Globo, não seria um deles? E os famosos outdoors relâmpagos da revista Época, em março de 2002? Quase em real time com os fatos que narravam, num colosso de agilidade jornalística e gráfica, eles ganhariam as ruas num fim de semana, a bombar a operação Lumus, da PF, que horas antes destruiria a candidata Roseane Sarney, então rival de José Serra no campo conservador, sendo o tucano, coincidentemente, apoiado pelo ágil veículo dos Marinhos. E, por fim, o que dizer do farto e nebuloso enredo do mensalão, agora se vê, comprovadamente associado desde a origem aos dedos longos de Cachoeira e de seu consórcio.
A ficha falsa de Dilma Rossueff, então candidata a Presidente da República em 2010, apresentada pela Folha, não deixa por menos em matéria de sincronia e prontidão. A suspeita de perigosa terrorista servia de back-vocal às acusações de pagã, aborteira e defensora de gays, excretadas das gargantas de tucanos e respectivas senhoras em campanha.
Flagrados entre o gozo e a morte ética em em pleno vôo matrimonial com os zangões do crime, da corrupção e do golpismo, VEJA e outros tentam agora declinar das responsabilidades. Como se fosse possível reverter a fusão metabólica através da qual tornaram-se sangue do mesmo sangue a inseminar, exaustivamente, o discernimento da sociedade com o martelante fluxo de golpes, saques, mentiras e videotapes. A democracia brasileira não pode recuar nesse momento. A CPI do Cachoeira é forçosamente também a CPI da VEJA e dos que lhe fazem e fizeram coro no ardor e no despudor.
Aos senhores membros desta comissão a sociedade deve cobrar coragem e dignidade. Do governo, hombridade para, de uma vez por todas, dizer claramente à cidadania que a mídia brasileira precisa de regras; que a sua regulação fortalece a democracia, assim como a impunidade de uma parte dela sancionou um braço-auxiliar do crime e do ódio. À Polícia Federal cabe exigir a divulgação integral das escutas recolhidas pela Operação Monte Carlo -inclusive aquelas que envolvem jornalistas e membros da quadrilha Cachoeira.
A sedimentação golpista de uma parte da opinião pública de classe média não se dá ao acaso. Não se trata aqui da plutocracia ciosa de seus domínios, da qual Civita & policarpos são servidores bem pagos. E eficientes, diga-se, peritos na arte de popularizar janios, collors, demóstenes e outros vulgarizadores dos interesses graúdos.
Não; o florescimento dessas gargantas de aluguel não prosperaria na forma de votos e medo pânico que inspiram em muitos governantes - inclusive da esquerda - não fosse o trabalho prestimoso dos que esculpem o seu busto em bronze de credibilidade e veneração. É toda uma rede voltada para a citação cotidiana de suas palavras, o manchetear espetaculoso de suas 'denúncias' e a propagação de 'reflexões de cocheira', copiosamente repetidas pelos colunismo que forma julgamentos e dissemina pautas.
Há responsáveis na lubrificação cotidiana da engrenagem. É um equívoco dissolver a sua assinatura na suposta predisposição da sociedade ou de parte dela para ser canalha ou 'egoísta'. Ainda que isso seja um fato, o que plasma esse apetite em nervos e musculatura política é a ação deliberada e organizada para esse fim. Incensar os demóstenes e satanizar os lulas e respectivas agendas é o fermento que transforma instintos em história.
O dispositivo midiático demotucano tem executado esse labor com sofreguidão. Chegou a hora de lhe dar o crédito merecido, sem liquefazer seu papel num solvente sociológico que evoca o acanalhamento 'natural' da sociedade para relevar quadrilhas e relativizar o peso orbital de seus satélites na imprensa.
Há marcos referenciais na ação deliberada da mídia em produzir fatos políticos para golpear o discernimento da socidade .
A edição do debate final entre Collor-Lula em 1989, no Jornal~e Nacional da Globo, não seria um deles? E os famosos outdoors relâmpagos da revista Época, em março de 2002? Quase em real time com os fatos que narravam, num colosso de agilidade jornalística e gráfica, eles ganhariam as ruas num fim de semana, a bombar a operação Lumus, da PF, que horas antes destruiria a candidata Roseane Sarney, então rival de José Serra no campo conservador, sendo o tucano, coincidentemente, apoiado pelo ágil veículo dos Marinhos. E, por fim, o que dizer do farto e nebuloso enredo do mensalão, agora se vê, comprovadamente associado desde a origem aos dedos longos de Cachoeira e de seu consórcio.
A ficha falsa de Dilma Rossueff, então candidata a Presidente da República em 2010, apresentada pela Folha, não deixa por menos em matéria de sincronia e prontidão. A suspeita de perigosa terrorista servia de back-vocal às acusações de pagã, aborteira e defensora de gays, excretadas das gargantas de tucanos e respectivas senhoras em campanha.
Flagrados entre o gozo e a morte ética em em pleno vôo matrimonial com os zangões do crime, da corrupção e do golpismo, VEJA e outros tentam agora declinar das responsabilidades. Como se fosse possível reverter a fusão metabólica através da qual tornaram-se sangue do mesmo sangue a inseminar, exaustivamente, o discernimento da sociedade com o martelante fluxo de golpes, saques, mentiras e videotapes. A democracia brasileira não pode recuar nesse momento. A CPI do Cachoeira é forçosamente também a CPI da VEJA e dos que lhe fazem e fizeram coro no ardor e no despudor.
Aos senhores membros desta comissão a sociedade deve cobrar coragem e dignidade. Do governo, hombridade para, de uma vez por todas, dizer claramente à cidadania que a mídia brasileira precisa de regras; que a sua regulação fortalece a democracia, assim como a impunidade de uma parte dela sancionou um braço-auxiliar do crime e do ódio. À Polícia Federal cabe exigir a divulgação integral das escutas recolhidas pela Operação Monte Carlo -inclusive aquelas que envolvem jornalistas e membros da quadrilha Cachoeira.
Postado por Saul Leblon na Agência Carta Maior.
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