sexta-feira, 25 de maio de 2012

POLÍTICA - Para melhor entender Dilma Rousseff

Do Blog do Rovai

Para melhor entender Dilma Rousseff



Na última edição da Revista Fórum publiquei uma resenha do livro A vida quer é coragem – A trajetória de Dilma Rousseff, do jornalista Ricardo Amaral. No momento em que o país discute a política de combate as altas taxas de juros, o veto parcial da presidenta ao novo Código Florestal Brasileiro e a criação da Comissão da Verdade, essa obra do ajuda a entender como se move politicamente a presidenta. Leia a resenha abaixo.

A vida não é fácil. Nunca foi
O correr da vida embrulha tudo, a vida
é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem
Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas
A vida quer é coragem – A trajetória de Dilma Rousseff, do repórter Ricardo Batista Amaral, é um daqueles livros que se pode ler de duas formas. A primeira, sem compromisso. Apenas para conhecer a história da primeira presidenta da República do Brasil até a sua posse. E quem decidir fazê-lo com essa pretensão, vai ter momentos de boa leitura. Primeiro, porque o autor é bom de pena. Conduz o leitor por labirintos da história recente do Brasil, tendo como linha condutora a história da personagem central. E, nesse sentido, as partes fortes são as do regime militar e, claro, a fase mais recente de Dilma, de 2003 à sua eleição em 2010. Prefiro muito mais a primeira, na qual a distância entre o autor e os fatos parece deixá-lo mais à vontade para revelar certos bastidores.
Mas há um outro jeito de ler a obra. Algo que o resenhista tentou em algumas partes, na segunda leitura que está fazendo do livro, e que promete concluir dentro em breve. A de ir assinalando nomes e fatos marcantes que são relatados com uma caneta pincel. Esse trabalho permite enxergar o envolvimento de certos personagens e a força que têm na história da atual presidenta, como o de seu ex-marido, o advogado Carlos Araújo, que está presente em quase todos os momentos decisivos da vida de Dilma. Mesmo nos mais recentes.
Como a trajetória de Lula era quase do conhecimento público quando assumiu a presidência, seus movimentos eram de compreensão mais inteligível. No caso de Dilma, ainda se vive um processo de “decifrar a esfinge”. E o livro de Amaral é, até o momento, o trabalho mais completo nesse sentido.
Nele, aparecem detalhes de como Dilma lidou com a relação que o então marido teve com Bete Mendes enquanto ela estava presa. Ao também ser preso, Araújo decide revelar em uma mensagem para a mulher em uma carta de “letra miúda, papel fino, dobrado e redobrado até caber num chiclete mascado, escondido no fundo do maxilar do portador”, a relação que teria tido com a então famosa atriz. Carlos viria a reencontrar a companheira logo depois. “Foi uma emoção enorme aquele reencontro”, lembra. E completa na narrativa do livro: “Ela nunca me perguntou sobre o caso com Bete que eu contei naquela carta.”
A foto que acabou se tornando a contracapa do livro de Amaral, e que Fórum publica nesta edição, talvez seja o retrato mais completo da atual presidenta. O olhar de quem sabe o que está acontecendo e do que está por vir. Um olhar profundo de quem não se autopenitencia pela situação vivida. Muito pelo contrário. De uma jovem que tinha a exata dimensão do tamanho do combate do qual era uma das muitas personagens cuja vida estava em jogo.
Mas há outros trechos reveladores no livro. Não se pode deixar de tratar do momento em que foi informada sobre o câncer pelo médico Roberto Kalil Filho, quando ao final do telefonema, olhou para o seu secretário Anderson Dorneles e disse: “A vida não é fácil. Nunca foi.”
Esse parece ser um mantra de Dilma. Algo que ela parece repetir a todo momento para si. “A vida não é fácil. Nunca foi”. Nos momentos mais duros do governo, essa frase parece ser a válvula de escape para lidar com certas situações. Se “a vida não é fácil e nunca foi”, Dilma acaba arriscando, mesmo sem parecer que assim o faz. E faz isso muito mais do que Lula, mesmo sem parecer.
A vida quer é coragem é fundamental para começar a compreender a alma de Dilma. Veja bem: “começar a compreender”. Para entendê-la de fato, outros trabalhos contando sobre os bastidores do seu governo serão fundamentais.

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