quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ENERGIA - O que nenhum dos candidatos disse acerca da energia e da economia

por Charles A. Hall [*] e Jan Lars Mueller [**]
 
Está eleição está estruturada como uma opção entre duas abordagens diferentes para retornar ao crescimento económico robusto. Mas e se a ambos os lados está a faltar um factor crítico subjacente às nossas perturbações económica? E se ferramentas do passado não mais se ajustarem à economia do futuro? O crescimento económico, tal como o conhecemos até agora, está a ser constrangido por uma redução sem precedentes do crescimento na oferta mundial de petróleo. O caminho da América para a prosperidade futura precisa reconhecer e enfrentar esta nova realidade energética, e adaptar a nossa economia para funcionar com um bocado menos de petróleo.

A produção mundial de petróleo bruto esteve numa tendência ascendente durante um século – de menos de um milhão de barris por dia (mbpd) em 1900 para aproximadamente 75 mbpd nos dias de hoje [NR] . Tem havido aberrações ao longo do caminho, tal como uma grande queda de produção durante a Grande Depressão, mas a tendência ascendente persistiu – até recentemente. Desde 2005, a produção mundial de petróleo tem estado basicamente estagnada. Houve planaltos (plateaus) antes, mas aquilo que agora é diferente é que os preços reais do petróleo – isto é, ajustados à inflação – grosso modo triplicaram no espaço de tempo de uma década, mas verificou-se relativamente pouca produção adicional.

Durante a maior parte do século XX, os preços do petróleo em dólares de 2009 foram inferiores a US$35 por barril. Durante o boom de 25 anos a seguir à II Guerra Mundial, eles permaneceram razoavelmente baixos, em torno dos US$20. Os preços reais dispararam para a marca dos US$50 no princípio da década de 1970, após o embargo petrolífero árabe e atingiram os US$100 pouco após com a crise iraniana dos reféns. Exceptuando aqueles choques petrolíferos, os preços reais médios permaneceram notavelmente baixos.

Mas algo parece ter mudado fundamentalmente na década passada. Desde 2000, pondo de lado uma alta e um crash em 2008 e 2009, os preços do petróleo nos EUA subiram firmemente e estão agora fixados no intervalo dos US$80-US$100 por barril, aproximadamente três vezes a sua média histórica, apesar de uma recessão económica mundial. Temos estado basicamente num longo, lento, mas igualmente danoso choque petrolífero durante vários anos, só que este não está associado a qualquer evento geopolítico crítico.

Várias forças estão a contribuir para a ascensão dos preços do petróleo, mas um factor incontornavelmente chave é o acréscimo de custo e energia exigido para produzir cada novo barril de petróleo. De um ponto de vista energético e económico, o retorno sobre a energia investida em novas fontes de petróleo – tais como o petróleo confinado (tight oil) no Dakota do Norte, as areias betuminosas do Canadá ou o petróleo de águas profundas – é muito mais baixo do que para os campos petrolíferos convencionais do passado, como mostrou uma investigação da State University of New York – Syracuse.

O que significa isto para a economia? Basicamente, o petróleo está a proporcionar substancialmente menos "lucro" de energia ou excedente de riqueza para a sociedade do que aquela que é utilizada para obtê-lo. Preços mais altos significam mais dólares americanos a fluírem para países exportadores do óleo, menos dinheiro para famílias e negócios investirem ou gastarem em outros bens e serviços, e preços ascendentes para produtos dependentes do petróleo (uma lista longa). Tudo isto acrescenta um grande lastro ao crescimento económico.

Há outra importante nova peculiaridade na história da era do petróleo. Antes de 2000, não nos importávamos quanto a outros países. Os Estados Unidos posicionavam-se basicamente como primeiro comprador das exportações mundiais de petróleo. Isso já não acontece. O consumo de petróleo em países em desenvolvimento, especialmente a China, explodiu ao longo da última década. Ao mesmo tempo, países exportadores de petróleo estão a utilizar mais petróleo internamente. O resultado: as exportações de petróleo disponíveis no mercado global tem estado a declinar a uma taxa estimada em 0,7% ao ano desde 2005, segundo a análise do geólogo Jeffrey Brown, do Texas, e a competição por aquelas exportações em declínio tem aumentado, pressionando preços mais uma vez para cima.

Ao invés de agarrarem e enfrentarem esta nova realidade, muitos candidatos estão, ao contrário, a bater na tecla da "independência energética". Não só é improvável que a produção estado-unidense de petróleo atenda o consumo actual (ignore a publicidade, verifique os números por si mesmo) como mais produção interna não corrigirá o aumento do fardo do petróleo sobre a economia. O Canadá, por exemplo, produz muito mais petróleo do que aquele que consome; contudo, fazendo os ajustes dos impostos, nossos vizinhos do Norte pagam na bomba aproximadamente o mesmo que nós.

Não importa quem sente na Casa Branca ou controle o Congresso, a América não pode encontrar saída para a sua aflição petrolífera e, ainda mais importante, não pode apenas "crescer" para a prosperidade sem tratar desta nova realidade energética e mapear uma nova rota rumo a uma economia de pouco petróleo.
[NR] Os autores referem-se a petróleo convencional.

[*] Charles A. Hall: Professor da Fundação ESF Foundation na State University of New York - Syracuse e co-autor de "Energy and the Wealth of Nations."
[**] Jan Lars Mueller: Director executivo da Association for the Study of Peak Oil & Gas USA, entidade não lucrativa e não partidária de investigação e educação com sede em Washington DC.

O original encontra-se em Peak Oil Review , 05/Nov(2012

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