Existe uma eleição dentro de cada um de nós
A
disputa entre progressismo e conservadorismo não ocorre só nas urnas,
mas também dentro de cada pessoa; a maior consciência dessa disputa
facilita ao progressismo, da candidatura Dilma, vencer o
conservadorismo, da candidatura Aécio, dentro de nós.
24/10/2014
- Desde o início dessa campanha eleitoral no Brasil, tenho escrito uma
série de artigos, e a cada artigo que escrevo, percebo algo novo não só
sobre a eleição, mas também sobre minha própria forma de encarar a
eleição. Eu planejava escrever um artigo hoje de manhã, mas simplesmente
algo estava faltando, e o tema não surgia, mas nesses casos eu sabia
que durante o dia minha mente raciocinaria mesmo inconscientemente pra
formar o tema deste artigo, e foi isso o que aconteceu. Aconteceram
algumas coisas hoje que me fizeram perceber a importância do fato de que
em todos nós há como uma "eleição interna". Nós, sem exceção, não somos
isentos de ter um componente progressista e um componente conservador,
que disputam de uma forma análoga às candidaturas do polo progressista,
com Dilma, e
do polo conservador, com Aécio. Vou contar algumas situações que me
ocorreram hoje pra ilustrar o raciocício.
Pelos
meus artigos, não é segredo pra ninguém que votarei em Dilma Rousseff,
sendo que tenho um adesivo de sua candidatura no vidro traseiro do meu
carro. Hoje eu estava dirigindo o carro, e ao entrar em um balão,
deveria ter esperado um carro passar para depois eu entrar, mas acabei
entrando antes desse carro, e o carro buzinou reclamando. De fato eu
havia errado, e depois fiquei me sentindo culpado porque a pessoa que
buzinou poderia relacionar o meu voto em Dilma com o ocorrido no
trânsito. Obviamente é algo pequeno e não haveria razão que
justificasse meu sentimento de culpa. Por isso, decidi pensar de onde
realmente vinha a importância que eu estava dando ao caso. Para isso,
citarei outro fato que ocorreu ainda hoje.
Costumo
ter uma certa resistência a ver o horário eleitoral na televisão. Uma
das razões tem a ver com o fato de que nesse horário eleitoral o nível
de profundidade política é, na média, relativamente baixo, mas esse
motivo não é suficiente para eu não vê-lo, uma vez que o horário
eleitoral tem bastante audiência e acaba influenciando consideravelmente
a eleição. Assim, sei que há outra razão para eu ter resistência a
vê-lo, que é uma certa dose de angústia de
ver o horário eleitoral das candidaturas mais conservadoras. No caso,
hoje, minha resistência a assistir o programa eleitoral na TV estava
relativamente alta, tanto que à propaganda da candidatura de Aécio, que
veio primeiro, praticamente não assisti, sendo que depois assisti à
propaganda da candidatura Dilma. Fiquei pensando depois por que minha
resistência a ver o horário eleitoral da candidatura Aécio estava
especialmente alta hoje, e percebi que era a mesma razão que me fazia
sentir culpado quanto ao episódio do carro. Essa razão é a seguinte.
Creio
que tanto a culpa pelo episódio do carro quanto a resistência a ver o
programa da candidatura
Aécio se derivam do meu componente conservador, que apesar de ser mais
fraco que o progressista, se manifesta nesse tipo de situação. No caso
do carro, a culpa não vinha de talvez ter perdido o voto da pessoa que
buzinou, mas sim da possibilidade de eu ter feito aquilo de propósito, inconscientemente, para prejudicar a candidatura Dilma.
Da mesma forma, a resistência a ver o programa eleitoral da candidatura
Aécio viria do medo de que ver o discurso da candidatura conservadora
aumentasse a força na minha disputa interna do meu componente
conservador. Assim, eu não tinha medo dos argumentos que vinham de
fora, mas da aceitação do meu componente conservador desses
argumentos. Quando percebi essa dinâmica, ou seja, quando tomei
consciência desse processo, pude enfraquecer meu conservadorismo, e meu
progressismo ganhou força na correlação de forças interna. Assim, tive
mais
facilidade para vencer as resistências a assistir ao último debate
entre Dilma e Aécio na televisão.
Chego
a este último artigo antes do segundo turno fazendo uma sugestão a
vocês, ou seja, que tentem perceber a eleição presidencial com um
conjunto de milhões de "eleições" que ocorrem no interior de cada
pessoa, e por que não no interior de cada partido, sindicato, central
sindical, empresa, ONG e todas as outras instituições. Entretanto, como
quem vota são as pessoas, e não essas outras entidades, quero focar na
eleição interna das pessoas. Para o progressismo vencer mais facilmente
dentro de nós, precisamos admitir que temos um componente
conservador. Aí, conseguiremos dialogar melhor com ele, internamente, e
quem sabe, convencê-lo e trazê-lo para o lado do progressismo, ficando
nós com isso mais completos e menos divididos. Se não for possível ser
100% progressista, pelo menos sejamos o máximo possível, o suficiente
para votar no polo progressista dessa eleição, representado pela
candidatura Dilma.
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