Moro, diante de Lula: esqueça o que escrevi sobre mídia e julgamento
Quando Lula detalhou a montanha de propaganda acusatória de imprensa contra ele na Lava Jato e dos vazamentos que a alimentam, Sergio Moro o interrompeu: “não é a imprensa que faz a acusação neste processo”. Pouco tempo depois, diante dos números acachapantes dobre o número de matérias negativas, diz: “o senhor tem acesso à televisão, deve fazer estas declarações lá”.
Pois, segundo Moro, a imprensa não influencia um julgamento que, ele diz, será feito com provas (?).
Vejamos, então, o que pensa – e escreve, de próprio punho, Sérgio Moro sobre o papel da imprensa nestes julgamentos, em seu artigo sobre a “Operação Mãos Limpas”, na Itália, a sua bíblia processual, onde grifo:
Os responsáveis pela Operação Mani Pulite (12) ainda fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: Para o desgosto dos líderes do PSI, que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da “Mani Pulite” vazava como uma peneira. Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no “L’Expresso”, no “La Republica” e outros jornais e revistas simpatizantes.
Simpatizantes, vejam vocês que palavra simpática escolheu o Dr. Moro
para definir o que fazem aqui Globo, Veja e outros… E, a seguir, o
efeito político de alquebramento do “alvo” principal, Bettino Craxi,
então líder do Partido Socialista:
O constante fluxo de revelações
manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na
defensiva. Craxi, especialmente, não estava acostumado a ficar na
posição humilhante de responder a acusações e de ter a sua agenda
política definida por outros.
O Dr. Moro, que agora diz que imprensa é uma coisa e Justiça outra, independente, escrevia, quando lhe interessava:
A publicidade conferida às
investigações teve o efeito salutar de alertar os investigados em
potencial sobre o aumento da massa de informações nas mãos dos
magistrados, favorecendo novas confissões e colaborações. Mais importante: garantiu o apoio da opinião pública às ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados, o que, como visto, foi de fato tentado.
E se isso atingir a honra de alguém injustamente, sustenta Moro, que
se dane o infeliz, porque, na lógica autoritária, os fins justificam (e
legitimam) os meios:
Há sempre o risco de lesão indevida à honra do investigado ou acusado. Cabe aqui, porém, o cuidado na desvelação de fatos relativos à investigação, e não a proibição abstrata de divulgação, pois a publicidade tem objetivos legítimos e que não podem ser alcançados por outros meios.
O importante é conseguir o que se busca, não importa como:
As prisões, confissões e a
publicidade conferida às informações obtidas geraram um círculo
virtuoso, consistindo na única explicação possível para a magnitude dos
resultados obtidos pela Operação Mani Pulite.”
Todos são trechos de Considerações sobre a Operação Mani Pulite, artigo que me envia um amigo, e que foi escrito por Moro em 2004 e está disponível, na íntegra, aqui.Pelo que se vê, a simpatia do Dr. Sérgio Moro por Fernando Henrique Cardoso é tão grande que até lhe copia o “esqueçam o que escrevi”.
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