sexta-feira, 15 de abril de 2011

MÍDIA - A serviço do "Deus Mercado" quer mais juros e cortes.

Do Blog do Miro.

Mídia quer sangue: mais juros e cortes!

Por Altamiro Borges

De nada adiantou a presidenta Dilma Rousseff promover dois aumentos simultâneos da taxa de juros, cortar R$ 53 bilhões do Orçamento e ainda peitar as centrais sindicais na negociação do salário mínimo. Ela bem que tentou agradar o “deus-mercado”, mas o capital financeiro é insaciável. Através de seus meios de comunicação, ele exige mais sangue – mais juros e cortes de gastos!

O editorial de hoje (15) da Folha é a prova cabal da gula dos rentistas. Para se contrapor ao que o jornal diagnostica como “piora das expectativas inflacionárias”, que decorrem (pasmem!) do “excesso de consumo e das pressões salariais”, a única saída é “aumentar a taxa de juros em 0,5 ponto percentual na semana que vem”, quando o Banco Central se reúne.

“A prioridade” dos rentistas

Adepta da máxima neoliberal de Margareth Thatcher, de que “não há alternativa”, a Folha é incisiva na defesa dos interesses dos agiotas. Qualquer outra medida, afirma, é ineficaz para combater o fantasma da inflação. Ela inclusive critica o Banco Central por “propagar uma visão muito otimista” sobre o tema, reforçando a enorme gritaria dos últimos dias do capital financeiro.

Em tom terrorista, o editorial da Folha afirma: “A situação é grave, a ponto de outros objetivos já começaram a ser sacrificados... Diante de tais desafios, a melhor saída para o BC é dar um passo firme para demonstrar controle: aumentar a taxa básica de juros em 0,5%”. E conclui: “Essa é a prioridade”. Aplausos entusiásticos dos banqueiros e rentistas, nacionais e estrangeiros!

A ortodoxia militante de Sardenberg

Mas não é só a Folha que tem rabo preso com o capital financeiro. A mídia corporativa, no geral, desempenha o papel de relações públicas dos banqueiros. Carlos Alberto Sardenberg, editorialista do Estadão e comentarista da TV Globo, até parece funcionário de um banco. Há vários dias, ele vem insistindo na necessidade de um novo aumento da taxa Selic e de novos cortes no Orçamento.

Dias atrás, ele criticou o Banco Central por sua “tolerância com a inflação”. Para ele, o “otimismo” do BC “significa acreditar que a inflação vai cair sem a necessidade de uma alta mais forte da taxa básica de juros e sem um corte de gastos mais expressivo do governo. Segurar juros e ter espaço para gastar – eis algo que interessa a qualquer governo, muito especialmente ao de Dilma Rousseff”. Contra o que chama de “eleitoralismo”, Sardenberg prega abertamente a volta das “políticas ortodoxas” de FHC.

Ação combinada dos jornalões

No início do mês, numa ação que parece combinada, Folha, Estadão e Valor publicaram editoriais alertando para o risco do descontrole dos gastos do governo. “Resultados fiscais não tão bons quanto parecem”, esbravejou o Estadão em 1 de abril. O jornal questiona os "tímidos" cortes no Orçamento e a “política de austeridade” do governo Dilma e dispara o sinal de alarme:

“É muito cedo para afirmar que a batalha das contas públicas está ganha. O relatório de inflação mostrou que o Banco Central desistiu de enfrentar com firmeza a alta de preços - que também vai afetar os gastos públicos -, que a pressão sobre os investimentos vai aumentar e que a pressão dos sindicatos operários para reajustes será crescente”, esbraveja o jornalão.

Informação ou serviço bancário?

Toda esta gritaria da mídia rentista tem como único objetivo defender os interesses do capital financeiro. Ela não leva em conta sequer os próprios dados da realidade, mas visa apenas criar pânico na sociedade. Fica a dúvida se estes jornais informam ou prestam serviços, bem remunerados, aos banqueiros e rentistas. Um texto recente do sítio Carta Maior responde:

“O superávit fiscal – referência de saúde do país para os mercados porque sinaliza a disposição do governo de drenar recursos ao pagamento de juros – atingiu em fevereiro o valor recorde de R$ 7,913 bilhões, o maior da série histórica, iniciada em 2001. O superávit acumulado no primeiro bimestre, R$ 25,6 bilhões, equivale a 21,8% da meta fixada para o ano. No mesmo período de 2010, o saldo positivo correspondia a apenas 15,2% da meta anual.

“Ou seja, por aí, não há do quê reclamarem. No front da inflação – outra referência importante do rentismo porque ela desidrata as taxas de juros reais – o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de São Paulo avançou 0,35% em março; é quase a metade do salto de 0,60% em fevereiro, Os 'consultores' apostavam num aumento de 0,40%. Erraram, como erraram também a tendência do IPCA- 15, uma medida de inflação do IBGE que oferece uma prévia do mês, com base num prazo menor de coleta de dados. A prévia para março chegou a uma alta de 0,69, significativamente menor que o 0,97% de fevereiro.

“Ademais, as medidas de moderação do crescimento tomadas pelo governo ('macro prudenciais') começam a surtir efeito. A concessão de crédito embora registre um crescimento elevado de 21% em 12 meses, vem se desacelerando por conta do enxugamento de liquidez imposto pelo BC. Mesmo assim, o porta-voz dos interesses financeiros, o boletim Focus, insiste em desacreditar a política econômica, e o faz reiterando que a inflação escapou ao controle. Ou seja, quer porque quer que na reunião do próximo dia 20, o BC anuncie nova alta dos juros”

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