segunda-feira, 4 de abril de 2011

SAÚDE PÚBLICA - Igreja transfere padre que defende o uso de camisinhas.

Defensor público do uso da camisinha, o padre Valeriano Paitoni, 61, está sendo obrigado a voltar para Itália após receber ordem de seus superiores na Igreja Católica.

A reportagem é de Fabiana Cambricoli e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 03-04-2011.

Há 33 anos na zona norte de São Paulo, o padre ganhou notoriedade em 2000 quando passou a defender a utilização de preservativos como forma de combater o vírus da Aids - opondo-se às orientações do Vaticano.

Esse posicionamento público - que ainda defende - causou irritação em parte da cúpula da igreja em SP.

A transferência ameaça parte da obra mantida por ele: três abrigos para crianças e jovens contaminados com o vírus da Aids.

No início do ano, o religioso diz ter sido comunicado por sua congregação - Instituto Missões Consolata - de que havia sido designado para uma missão na Itália.

Após reações negativas da comunidade, o coordenador do Instituto no Brasil convocou uma reunião para a última quinta-feira com a comunidade. No encontro, porém, a decisão foi reafirmada.

Quase simultaneamente, a Arquidiocese de São Paulo, dona do imóvel onde estão a paróquia Nossa Senhora de Fátima do Imirim (Paitoni é padre ajudante) e de um dos abrigos (a Casa Siloé), anunciou que este teria de deixar o local, conforme contrato.

"Não me deram motivos válidos [para que a casa saia do espaço]. Se eles tivessem uma finalidade para o local, eu seria o primeiro a procurar outro espaço", afirma.

Segundo fiéis, a arquidiocese argumenta que um projeto social mantido por uma entidade não pode ocupar o espaço da paróquia.

Os motivos dados pela igreja, porém, não convencem o padre e os fiéis.

Para eles, as decisões seriam uma espécie de retaliação da instituição.

"A maioria já perdeu os pais. Sei que a norma do instituto prevê transferências, mas a Igreja não pode colocar a regra acima da pessoa e do diálogo", diz o religioso.

CRIANÇAS

Os irmãos Paula e Tiago (nomes fictícios), de 11 e 13 anos, chegaram na Casa Siloé quando ainda eram bebês. Contaminados na gestação, perderam a mãe e foram abandonados pelo pai.

Na casa de apoio, dizem ter encontrado uma família. O local mal parece um abrigo. Tem quartos para no máximo três crianças. Há videogame, TV e computador. "São as tias que cuidam da gente e o padre [que a gente mais gosta]. É como se fosse um pai para mim", diz Tiago.

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