quinta-feira, 13 de outubro de 2011

EUA - Está em curso uma "operação humanitária" contra a Síria.

Blog do Bob Fernandes

Ameaça de atentado aos EUA revela conexão entre DEA e paramilitares


Direto de Guadalajara

O Furacão chegou.

Não o Jova, que acaba de bater no litoral de Jalisco com chuva pesada, ventos de 165 km/hora e rajadas de190 km. Nos dias e horas que antecedem o início do Panamericano de Guadalajara, a tempestade que assola e assombra o México ganhou nitidez na voz do próprio presidente da República, Felipe Calderón:

-…Tenho a preocupação de que o número de pessoas desaparecidas é muito alto no país…e não sabemos o tamanho do problema…

Os desaparecidos não são vítimas do Jova, furacão de nível II na escala Saffir-Simpson. São produto de um erro brutal de Calderón. O mesmo cometido pela Colômbia desde os anos 80, erro aprofundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, e cujo espectro ronda o Brasil: a militarização do combate ao narcotráfico. O render-se apenas à força das armas, o deixar de lado o uso intensivo de Inteligência, o primordial combate às finanças dos narcoguerrilheiros.

A quatro dias da largada para o Pan, o drama ultrapassou de vez as fronteiras do México e ganhou contornos hollywoodianos.

CS-1 é o codinome de um agente, supostamente apenas informante da DEA (agência dos EUA de combate às drogas) e infiltrado no grupo paramilitar mexicano “Zetas”. CS-1 trabalhou na operação “Coalizão Vermelha” que, segundo anúncio do governo dos Estados Unidos na terça-feira, 11, impediu um ataque terrorista a Washington.

Disseram o procurador-geral dos EUA, Eric Holder, e o diretor do FBI, Robert Mueller, que os iranianos Manssor Arbabsiar e Gholam Shakuri planejavam usar explosivo C-4 para detonar o embaixador da Arábia Saudita nos EUA, Adel Al-Jubeir.

O anunciado complô foi desbaratado, mas deixou à mostra uma incômoda e ainda obscura conexão entre os “Zetas” e seus paramilitares e a troca de informações entre os serviços secretos dos EUA e México. Afinal, CS-1 era -supostamente - apenas um informante da agência norte-americana DEA e infiltrado nos “Zetas”. A CS-1 os iranianos teriam oferecido US$ 15 milhões para detonar a embaixada saudita.

Durma-se no México com tal conexão.

É dos “Desaparecidos” o número que Calderón, o presidente mexicano, confessa desconhecer na semana do Pan, e não por acaso na véspera da revelação da rocambolesca Operação “Coalizão Vermelha”. O número de mortos já é conhecido, embora sonegado e negado: 45 mil em meia década. Mortos no combate com forças armadas ou no enfrentamento entre traficantes. Setenta porcento dos assassinados sem passagem pela polícia e sem conexões com o tráfico.

Os “Desaparecidos” são fenômeno que, mais uma vez, guarda semelhança com a Colômbia; ou mesmo com as “milícias” no Rio de Janeiro. São, também, produto inevitável de ações ilegais de uma polícia ilegal. No caso, dos grupos paramilitares, fenômeno que até esta semana, ao ser empurrado pelos fatos, o presidente da República fingia desconhecer.


Membros do cartel Los Zetas são apresentados à imprensa, no México, em 7 de outubro (Foto: Eduardo Verdugo/AP)

Os “Zetas”, ou “Mata Zetas”, são, no momento, o grupo-estrela dessa congregação de militares-bandidos. Aos “Zetas” se atruibuem 32 cadáveres surgidos no último dia 6 em “casas de seguridad” em Veracruz. Quase todos com sinais de tortura.

Em menos de um mês é a segunda desova de cadáveres na mesma Veracruz, situada na Costa Norte do país. A 20 de setembro os mortos, amontoados e despejados no meio da avenida Ruiz Cortines, em Boca Del Rio, foram 35. Em 16 dias, 67 assassinatos.

O governo e as forças de segurança locais atribuíram a mortandade ao cartel “Jalisco Nueva Generación”, mas, à parte o palavrório oficial, não há quem não enxergue as digitais dos paramilitares nas matanças.

O governador local, Javier Duarte (sujeito melífluo, de aspecto que faz recordar Cesare Lombroso), como é d’hábito também Brasil afora lançou o “Plano Veracruz Segura”. Duarte manifestou sua confiança e “alegria” nos resultados do Plano que “trabalha todos os dias pela tranquilidade e pela harmonia da sociedade mexicana”.

No México, como no Brasil - o que se percebe ao ouvir e ler comentários -, imaginou-se que apenas “mandar bala” resolveria o problema. Não resolveu, claro, e agora, com a cronificação de grupos paramilitares como os “Zetas”, os mortos começam a se empilhar. E assombrar.

Nesta festiva véspera do Pan, com a confissão do presidente Calderón, os mexicanos que ainda não sabiam ou não queriam saber, se dão conta da imensidão da tragédia e do desafio nascidos no rastro do combate à narcoguerrilha.

Como um dia os colombianos, como as vítimas das milícias no Rio de Janeiro, os mexicanos já sabem que um dos mortos em nome do combate ao tráfico pode ser um deles. Pode ser o irmão, o pai, o filho de cada um. Com ou sem culpa no cartório.

Y que venga el Pan.

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