Do blog Balaio do Kotscho.
Votos, verbas, cargos e tempo de TV: tudo a ver
Programas para melhorar a vida nas cidades? Projetos de governo viáveis? Propostas capazes de resolver os problemas do dia a dia de paulistanos, cariocas, recifenses, soteropolitanos ou manauaras?
Que nada, tudo bobagem. A verdadeira disputa política, faz muito tempo, se dá em torno de um grande negócio chamado "tempo de televisão", que envolve grandes e pequenos partidos, como já dá para ver na largada das campanhas municipais de 2012.
Em entrevista ao "Estadão", no final de semana, já falando como pré-candidato do PSDB para as eleições presidenciais de 2014, o senador mineiro Aécio Neves criticou o PT por ter trocado "um projeto de país por um projeto de poder".
Como assim? E o PSDB, que não tem hoje uma coisa nem outra? Ou por acaso alguém já descobriu qual é o projeto de Aécio Neves para o país?
Também acho que o PT é um partido cheio de defeitos, mas ainda é melhor do que todos os outros, como não se cansam de repetir as pesquisas sobre preferências partidárias que continuam colocando o partido de Lula em primeiro lugar.
Neste momento, para ter mais tempo na TV, vale tudo. Assim podem entrar em jogo a reforma ministerial de Dilma Rousseff anunciada para o final do ano, e a dos secretariados de Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab em São Paulo.
Será que algum eleitor ainda acredita que PT e PSDB, os dois maiores partidos de São Paulo e do país, estão muito preocupados em montar alianças com base em princípios, planos, projetos e propostas para as cidades brasileiras?
Sob o sugestivo título "Quem dá mais?", a colunista Renata Lo Prete, do Painel, resume a ópera na edição da "Folha" desta segunda-feira:
"Donos de quase um terço do tempo de TV, quatro partidos integrados à base de Dilma Rousseff (PT), mas aliados a Geraldo Alckmin (PSDB) no Estado e a Gilberto Kassab (PSD) na prefeitura, abriram leilão de apoio para a eleição paulistana".
Lo Prete cita PR, PP, PSB e PDT, mas poderia se referir a qualquer outra sigla desta salada partidária, agora engrossada pelo PSD, inventado outro dia pelo prefeito Gilberto Kassab. Afinal, parece ter virado tudo a mesma coisa. O eleitor tem dificuldades para distinguir uma sigla da outra. A diferenciá-los, pesam apenas os nomes dos seus principais líderes.
O fracasso de Kassab na prefeitura paulistana, rejeitado pela maioria dos habitantes de uma cidade abandonada pelo poder público, é inversamente proporcional ao seu sucesso como articulador de novas adesões ao neo-PSD.
A sua mais importante vitória, anunciada na semana passada, foi filiar a grife Henrique Meirelles, o ex-presidente do Banco Central que se elegeu deputado federal pelo PSDB, em 2002, depois bandeou-se para o PMDB, sonhando em ser vice de Dilma, não conseguiu, e ficou no governo Lula até o final.
É um caso emblémático de convicção ideológica e partidária dos tempos atuais. Meirelles quer voar mais alto, se possível até a Presidência da República. A sigla para abrigá-lo nesta trajetória é o que menos importa.
Da mesma forma como Meirelles, todos os partidos, incluindo o PSDB de Aécio Neves, lutam apenas pelo poder, ou seja, para ter mais votos e, portanto, mais cargos e mais verbas.
O que define isso, cada vez mais, é o "tempo de televisão" alimentado na "articulação das alianças". Neste quadro, importa mais o programa produzido por um João Santana ou um Duda Mendonça do que o nome do candidato.
Quanto mais desconhecido é o candidato, mais importante é o programa na TV. Depois, uma vez eleito o nome da aliança, cada partido vai cobrar as suas faturas, e o ciclo recomeça.
Lamento muito, mas é assim que a coisa funciona _ e, por isso mesmo, ninguém está interessado na tal reforma política.
Enquanto depender destes partidos e destes políticos, esta reforma não vai sair nunca. Eles estão todos muito satisfeitos do jeito que está, menos os que estão fora do poder, claro, que constituem uma minoria cada vez menor e mais irrelevante. E o país que se dane.
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