Sampa e Cajazeiras: palanques de Dilma
Esta segunda-feira a campanha eleitoral em seu segundo e decisivo turno promete pegar fogo em São Paulo, a maior cidade da América do Sul,como diz a canção, Depois da agitada passagem pelos palanques do bairro popular de Cajazeiras, em Salvador (BA), a presidente Dilma Rousseff, voou direto para outro palanque petista, em Campinas (SP). Nas duas cidades (entre o Nordeste e o Sudeste), mexeu com os nervos da campanha, mas a munição mais pesada parece ter sido reservada para o comício pró- Fernando Haddad, esta segunda-feira, 22, na capital dos paulistanos.
Enquanto não chega a hora, vale a pena um olhar sobre as fogueiras acesas no rastro da curta visita de Dilma ao bairro soteropolitano das Cajazeiras.Tão populoso quanto cheio de problemas e dificuldades para seus moradores, mas que de repente virou uma espécie de eldorado para os dois candidatos na semana decisiva da campanha: ACM Neto, do DEM , e Nelson Pelegrino, do PT.
Terceira capital do País, que Jorge Amado em seus escritos sempre preferiu denominar de Cidade da Bahia – apelidada também de Roma Negra por muitos intelectuais – Salvador mantém histórica relação com o fogo. Uma identidade que atravessa séculos, mas alcança cultural, social e politicamente suas representações mais simbólicas na segunda metade do século XX.
Foi quando pegaram fogo (ou foram incendiados?) – as dúvidas e suspeitas jamais foram cabalmente esclarecidas – primeiro a lendária Feira de Água de Meninos e, anos depois, o original Mercado Modelo da Bahia, não menos famoso.
Pode parecer óbvio para muita gente, mas a simbologia dos incêndios é a que encontro de melhor para expressar o ambiente e o clima que se vê e se respira na capital baiana nestes últimos dias de campanha encarniçada do segundo turno eleitoral da disputa pela prefeitura da cidade tão querida e tão cantada durante séculos, mas praticamente desmontada e retalhada para atender apetites famélicos nos últimos anos de calamitosa administração e ausência do poder público.
Neste cenário, os deputados federais ACM Neto, do DEM, e Nelson Pelegrino, do PT, brigam pela vitória final casa a casa, voto a voto, em pleito dos mais renhidos, interessantes e emblemáticos em relação às projeções e análises para o futuro político e administrativo do País. Ao fundo de tudo, o fogaréu que se prevê para 2014, evidentemente.
Salvador sai da faixa sombria para transformar-se em cenário mais que especial, polêmico e atraente para qualquer observador ou analista, nestes dias de decisão. São Paulo à parte, obviamente. Mas, no embate pela prefeitura da maior capital da América Latina as favas parecem cada vez mais contadas e mais evidentemente favoráveis ao candidato petista Fernando Haddad (empurrado ladeira acima pelo ex-presidente Lula), que vai deixando "na poeira” o tucano José Serra, a cada nova pesquisa dos diversos institutos (tão atrapalhados ou incompetentes no primeiro turno). Na soterópolis, no entanto, nem com bola de cristal ou visita aos terreiros, é possível ainda antecipar um prognóstico de quem ficará com o Palácio Thomé de Souza depois de apurados os votos de 28 de outubro.
Sexta-feira,19, enquanto escrevia as linhas deste artigo semanal de opinião, a presidente Dilma Rousseff desembarcava na Cidade da Bahia em “viagem de palanque”. Veio para "dar uma mãozinha" na campanha de seu companheiro petista Nelson Pelegrino. Atendia ao pedido de socorro do próprio candidato e orientação de seu partido, mas principalmente de Lula e do "galego" Jaques Wagner (apelido do governador da Bahia recebido do ex-presidente e em invariavelmente usado nos comícios).
Uma informação que pode ser útil para quem acredita em pesquisas:minutos antes de Dilma desermbarcar em Salvador, saiu o resultado da primeira pesquisa Ibope/TV Bahia no primeiro turno. Pelos números, o democrata ACM Neto, com 47% das intenções de voto, larga na frente do petista Nelson Pelegrino, com 39% . Notícia de rebentar nervos no palanque das Cajazeiras, divulgada minutos antes da presidente desembarcar na capital baiana.
"É a primeira presidenta do Brasil e a primeira vez que um presidente da República vai às Cajazeiras", anunciava a propaganda do candidato governista no horário eleitoral do rádio e na televisão. O aviso e a convocação destacavam o bairro popular soteropolitano onde Dilma pisou para participar no início da manifestação petista. Com horário rigorosamente marcado para terminar às 20h. Ou seja, duas horas antes de começar o último capítulo da novela Avenida Brasil, com a revelação de seus derradeiros segredos e o desfecho da trama que empolgou o País.
Na tarde de quinta-feira,18, a Justiça Eleitoral torpedeou a ideia dos petistas baianos de misturar o comício com a novela, através da instalação de telões em Cajazeiras, para transmitir Avenida Brasil e, assim, evitar concorrência que poderia implicar em desastrosa perda de público da retórica eleitoral no eventual confronto de audiência com a novela da Globo .
“Se pretende a coligação (de apoio a Pelegrino) transmitir a novela é porque evidencia que tal conduta tem fins eleitorais, usufruindo das imagens de artistas globais e do ibope da programação para beneficiar a sua campanha”, escreveu a juíza da 9ª Zona Eleitoral de Salvador, Ana Conceição Barbuda, ao deferir uma medida liminar a pedido da campanha do candidato do DEM, ACM Neto (candidato mais votado no primeiro turno), proibindo o “telão eleitoral” em Cajazeiras.
“Nunca falamos em exibir novela no comício em Cajazeiras”, disse o governador Jaques Wagner, ao comentar a proibição do TRE baiano durante entrevista na Radio Metrópole. A grande atração do comício será mesmo a presidente Dilma, disse o governador ao “chamar gente” para “a recepção a Dilma em Cajazeiras”, cuidando bem da pronuncia do nome do imenso e problemático bairro popular, que virou referência estratégica nas batalhas eleitorais em Salvador.
Fácil entender a preocupação do governador. No rico folclore político baiano uma das melhores histórias tem Cajazeiras como cenário. O empresário e ex-deputado Pedro Irujo, candidato a prefeito, parecia com a eleição ganha, até o comício no bairro. Espanhol de carregado sotaque, Irujo saudou do palanque a praça cheia de homens e mulheres que o aplaudiam.
“Pofo das Cachaceiras’, disse o candidato, e não foi perdoado pelo eleitor “ofendido”. Começou aí a perder a eleição. O comício "estourou" o horário previsto, e terminou cinco minutos antes de Avenida Brasil começar, mas não dá ainda para saber o resultado concreto da passagem de Dilma e Pelegrino por Cajazeiras, que arde em chamas (simbolicamente, é claro) como nunca neste segundo turno. A Conferir.
http://terramagazine.terra.com.br/blogdovitorhugosoares/blog/2012/10/21/campanha-pega-fogo-em-sampa-e-salvador-com-dilma-nos-palanques/
Esta segunda-feira a campanha eleitoral em seu segundo e decisivo turno promete pegar fogo em São Paulo, a maior cidade da América do Sul,como diz a canção, Depois da agitada passagem pelos palanques do bairro popular de Cajazeiras, em Salvador (BA), a presidente Dilma Rousseff, voou direto para outro palanque petista, em Campinas (SP). Nas duas cidades (entre o Nordeste e o Sudeste), mexeu com os nervos da campanha, mas a munição mais pesada parece ter sido reservada para o comício pró- Fernando Haddad, esta segunda-feira, 22, na capital dos paulistanos.
Enquanto não chega a hora, vale a pena um olhar sobre as fogueiras acesas no rastro da curta visita de Dilma ao bairro soteropolitano das Cajazeiras.Tão populoso quanto cheio de problemas e dificuldades para seus moradores, mas que de repente virou uma espécie de eldorado para os dois candidatos na semana decisiva da campanha: ACM Neto, do DEM , e Nelson Pelegrino, do PT.
Terceira capital do País, que Jorge Amado em seus escritos sempre preferiu denominar de Cidade da Bahia – apelidada também de Roma Negra por muitos intelectuais – Salvador mantém histórica relação com o fogo. Uma identidade que atravessa séculos, mas alcança cultural, social e politicamente suas representações mais simbólicas na segunda metade do século XX.
Foi quando pegaram fogo (ou foram incendiados?) – as dúvidas e suspeitas jamais foram cabalmente esclarecidas – primeiro a lendária Feira de Água de Meninos e, anos depois, o original Mercado Modelo da Bahia, não menos famoso.
Pode parecer óbvio para muita gente, mas a simbologia dos incêndios é a que encontro de melhor para expressar o ambiente e o clima que se vê e se respira na capital baiana nestes últimos dias de campanha encarniçada do segundo turno eleitoral da disputa pela prefeitura da cidade tão querida e tão cantada durante séculos, mas praticamente desmontada e retalhada para atender apetites famélicos nos últimos anos de calamitosa administração e ausência do poder público.
Neste cenário, os deputados federais ACM Neto, do DEM, e Nelson Pelegrino, do PT, brigam pela vitória final casa a casa, voto a voto, em pleito dos mais renhidos, interessantes e emblemáticos em relação às projeções e análises para o futuro político e administrativo do País. Ao fundo de tudo, o fogaréu que se prevê para 2014, evidentemente.
Salvador sai da faixa sombria para transformar-se em cenário mais que especial, polêmico e atraente para qualquer observador ou analista, nestes dias de decisão. São Paulo à parte, obviamente. Mas, no embate pela prefeitura da maior capital da América Latina as favas parecem cada vez mais contadas e mais evidentemente favoráveis ao candidato petista Fernando Haddad (empurrado ladeira acima pelo ex-presidente Lula), que vai deixando "na poeira” o tucano José Serra, a cada nova pesquisa dos diversos institutos (tão atrapalhados ou incompetentes no primeiro turno). Na soterópolis, no entanto, nem com bola de cristal ou visita aos terreiros, é possível ainda antecipar um prognóstico de quem ficará com o Palácio Thomé de Souza depois de apurados os votos de 28 de outubro.
Sexta-feira,19, enquanto escrevia as linhas deste artigo semanal de opinião, a presidente Dilma Rousseff desembarcava na Cidade da Bahia em “viagem de palanque”. Veio para "dar uma mãozinha" na campanha de seu companheiro petista Nelson Pelegrino. Atendia ao pedido de socorro do próprio candidato e orientação de seu partido, mas principalmente de Lula e do "galego" Jaques Wagner (apelido do governador da Bahia recebido do ex-presidente e em invariavelmente usado nos comícios).
Uma informação que pode ser útil para quem acredita em pesquisas:minutos antes de Dilma desermbarcar em Salvador, saiu o resultado da primeira pesquisa Ibope/TV Bahia no primeiro turno. Pelos números, o democrata ACM Neto, com 47% das intenções de voto, larga na frente do petista Nelson Pelegrino, com 39% . Notícia de rebentar nervos no palanque das Cajazeiras, divulgada minutos antes da presidente desembarcar na capital baiana.
"É a primeira presidenta do Brasil e a primeira vez que um presidente da República vai às Cajazeiras", anunciava a propaganda do candidato governista no horário eleitoral do rádio e na televisão. O aviso e a convocação destacavam o bairro popular soteropolitano onde Dilma pisou para participar no início da manifestação petista. Com horário rigorosamente marcado para terminar às 20h. Ou seja, duas horas antes de começar o último capítulo da novela Avenida Brasil, com a revelação de seus derradeiros segredos e o desfecho da trama que empolgou o País.
Na tarde de quinta-feira,18, a Justiça Eleitoral torpedeou a ideia dos petistas baianos de misturar o comício com a novela, através da instalação de telões em Cajazeiras, para transmitir Avenida Brasil e, assim, evitar concorrência que poderia implicar em desastrosa perda de público da retórica eleitoral no eventual confronto de audiência com a novela da Globo .
“Se pretende a coligação (de apoio a Pelegrino) transmitir a novela é porque evidencia que tal conduta tem fins eleitorais, usufruindo das imagens de artistas globais e do ibope da programação para beneficiar a sua campanha”, escreveu a juíza da 9ª Zona Eleitoral de Salvador, Ana Conceição Barbuda, ao deferir uma medida liminar a pedido da campanha do candidato do DEM, ACM Neto (candidato mais votado no primeiro turno), proibindo o “telão eleitoral” em Cajazeiras.
“Nunca falamos em exibir novela no comício em Cajazeiras”, disse o governador Jaques Wagner, ao comentar a proibição do TRE baiano durante entrevista na Radio Metrópole. A grande atração do comício será mesmo a presidente Dilma, disse o governador ao “chamar gente” para “a recepção a Dilma em Cajazeiras”, cuidando bem da pronuncia do nome do imenso e problemático bairro popular, que virou referência estratégica nas batalhas eleitorais em Salvador.
Fácil entender a preocupação do governador. No rico folclore político baiano uma das melhores histórias tem Cajazeiras como cenário. O empresário e ex-deputado Pedro Irujo, candidato a prefeito, parecia com a eleição ganha, até o comício no bairro. Espanhol de carregado sotaque, Irujo saudou do palanque a praça cheia de homens e mulheres que o aplaudiam.
“Pofo das Cachaceiras’, disse o candidato, e não foi perdoado pelo eleitor “ofendido”. Começou aí a perder a eleição. O comício "estourou" o horário previsto, e terminou cinco minutos antes de Avenida Brasil começar, mas não dá ainda para saber o resultado concreto da passagem de Dilma e Pelegrino por Cajazeiras, que arde em chamas (simbolicamente, é claro) como nunca neste segundo turno. A Conferir.
http://terramagazine.terra.com.br/blogdovitorhugosoares/blog/2012/10/21/campanha-pega-fogo-em-sampa-e-salvador-com-dilma-nos-palanques/
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