Petróleo: o anátema do bispo do Chade
"A 50 anos do Ano da África, chegou o momento de nos perguntarmos se as populações do continente devem continuar vivendo na angústia e no medo da morte por causa das inumeráveis riquezas do seu subsolo: estas, por causa da ganância humana, de bênção, se transformaram em uma maldição para as populações locais". Dom Michele Russo, 67 anos, nascido na Puglia, em San Giovanni Rotondo, há 36 anos missionário comboniano no Chade além de bispo da diocese de Doba desde 1989, é um homem corajoso e alheio a eufemismos.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 14-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O governo do país africano decidiu expulsá-lo por "atividades incompatíveis com o seu papel" por causa de uma homilia em que denunciava, no dia 30 de setembro, a gestão dos ricos lucros petrolíferos, enquanto a população vive na miséria.
Seus coirmãos esperavam o seu retorno à Itália nesse domingo. "A diplomacia está trabalhando, mas, entretanto, foi-nos dito que ele está em viagem", suspira o padre Umberto Pescantini, secretário-geral dos Combonianos. Fontes da Nunciatura indicaram nesse sábado que, "por parte do governo, há uma abertura ao diálogo", informava a agência missionária Fides. "A homilia de Dom Russo foi transmitida por uma rádio local, mas que, na tradução do francês à língua Ngambay, deu uma versão não perfeitamente conforme ao pensamento do bispo, usando palavras nunca pronunciadas".
Doba é uma pequena diocese ao sul do Chade, na África Central, 10 paróquias e 400 mil habitantes. Os católicos são 20%. O presidente, Idriss Déby, está no poder desde 1990. A extração de petróleo começou em 2003 com um consórcio formado pela Chevron, Exxon-Mobil e Petronas, um oleoduto de 1.070 km que alcança o Camarões e o Atlântico.
"Por trás desse episódio, segundo alguns observadores, ocultam-se os interesses tanto da nomenclatura política local, quanto das companhias petrolíferas, que há muito tempo olhavam com suspeita para o prelado", explicou o padre comboniano Giulio Albanese à Rádio do Vaticano. "O Chade produz em média 120 mil barris por dia de petróleo cru, e há algum tempo diversos expoentes da sociedade civil pedem que o governo invista os recursos acima de tudo para melhorar as condições dos cidadãos, visto que as autoridades se comprometeram a investir 70% das receitas petrolíferas na redução da pobreza".
O governo defendeu que Russo teria convidado as pessoas "a se rebelarem", mas nesse sábado o arcebispo da capital, N'Djamena, Dom Matthias N'Gartéri, leu a um ministro o texto da homilia que não tinha convites à "sedição", mas pedia, como sempre, uma "distribuição justa" da riqueza. Os bispos convidaram a população a "permanecer tranquila".
Além disso, "Dom Russo é um homem de paz e simplesmente disse a verdade: nem todos os habitantes de Doba têm acesso à água potável e à eletricidade", explicou o diretor da rádio à agência Misna. Denúncias que o bispo missionário vem fazendo há anos. "Se eu tenho que dizer alguma coisa, eu não tenho complexos: Nosso Senhor também sabia ser muito claro e ao mesmo tempo sempre recusava a violência".
Há poucos dias, ele havia lançado o seu apelo contra a "ganância" através da agência Fides: "Depois de 50 anos de exploração selvagem, mesmo com a cumplicidade dos governos locais, e de indiferença com relação às populações africanas e o seu futuro, eu penso que chegou o momento de nos conscientizarmos: as riquezas naturais africanas devem ser usadas para construir o futuro das filhas e dos filhos do continente".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 14-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O governo do país africano decidiu expulsá-lo por "atividades incompatíveis com o seu papel" por causa de uma homilia em que denunciava, no dia 30 de setembro, a gestão dos ricos lucros petrolíferos, enquanto a população vive na miséria.
Seus coirmãos esperavam o seu retorno à Itália nesse domingo. "A diplomacia está trabalhando, mas, entretanto, foi-nos dito que ele está em viagem", suspira o padre Umberto Pescantini, secretário-geral dos Combonianos. Fontes da Nunciatura indicaram nesse sábado que, "por parte do governo, há uma abertura ao diálogo", informava a agência missionária Fides. "A homilia de Dom Russo foi transmitida por uma rádio local, mas que, na tradução do francês à língua Ngambay, deu uma versão não perfeitamente conforme ao pensamento do bispo, usando palavras nunca pronunciadas".
Doba é uma pequena diocese ao sul do Chade, na África Central, 10 paróquias e 400 mil habitantes. Os católicos são 20%. O presidente, Idriss Déby, está no poder desde 1990. A extração de petróleo começou em 2003 com um consórcio formado pela Chevron, Exxon-Mobil e Petronas, um oleoduto de 1.070 km que alcança o Camarões e o Atlântico.
"Por trás desse episódio, segundo alguns observadores, ocultam-se os interesses tanto da nomenclatura política local, quanto das companhias petrolíferas, que há muito tempo olhavam com suspeita para o prelado", explicou o padre comboniano Giulio Albanese à Rádio do Vaticano. "O Chade produz em média 120 mil barris por dia de petróleo cru, e há algum tempo diversos expoentes da sociedade civil pedem que o governo invista os recursos acima de tudo para melhorar as condições dos cidadãos, visto que as autoridades se comprometeram a investir 70% das receitas petrolíferas na redução da pobreza".
O governo defendeu que Russo teria convidado as pessoas "a se rebelarem", mas nesse sábado o arcebispo da capital, N'Djamena, Dom Matthias N'Gartéri, leu a um ministro o texto da homilia que não tinha convites à "sedição", mas pedia, como sempre, uma "distribuição justa" da riqueza. Os bispos convidaram a população a "permanecer tranquila".
Além disso, "Dom Russo é um homem de paz e simplesmente disse a verdade: nem todos os habitantes de Doba têm acesso à água potável e à eletricidade", explicou o diretor da rádio à agência Misna. Denúncias que o bispo missionário vem fazendo há anos. "Se eu tenho que dizer alguma coisa, eu não tenho complexos: Nosso Senhor também sabia ser muito claro e ao mesmo tempo sempre recusava a violência".
Há poucos dias, ele havia lançado o seu apelo contra a "ganância" através da agência Fides: "Depois de 50 anos de exploração selvagem, mesmo com a cumplicidade dos governos locais, e de indiferença com relação às populações africanas e o seu futuro, eu penso que chegou o momento de nos conscientizarmos: as riquezas naturais africanas devem ser usadas para construir o futuro das filhas e dos filhos do continente".
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