Enviado por Demarchi
Da BBC
Um relatório da ONG britânica Oxfam
divulgado nesta segunda-feira mostra que o patrimônio das 85 pessoas
mais ricas do mundo equivale às posses de metade da população mundial.
Segundo o documento chamado Working
for the Few ("Trabalhando Para Poucos", em tradução livre), as 85
pessoas mais ricas do mundo têm um patrimônio de US$ 1,7 trilhão, o que
equivale ao patrimônio de 3,5 bilhões de pessoas, as mais pobres do
mundo.
O relatório ainda afirma que a riqueza
do 1% das pessoas mais ricas do mundo equivale a um total de US$ 110
trilhões, 65 vezes a riqueza total da metade mais pobre da população
mundial.
A Oxfam observou em seu relatório que, nos últimos 25 anos, a riqueza ficou cada vez mais concentrada nas mãos de poucos.
"Este fenômeno global levou a uma
situação na qual 1% das famílias do mundo são donas de quase metade
(46%) da riqueza do mundo", afirmou o documento.
"No último ano, 210 pessoas se tornaram
bilionárias, juntando-se a um seleto grupo de 1.426 indivíduos com um
valor líquido combinado de US$ 5,4 trilhões", destaca o relatório.
"É chocante que no século 21 metade da
população do mundo - 3,5 bilhões de pessoas - não tenham mais do que a
minúscula elite cujos números podem caber confortavelmente em um ônibus
de dois andares", afirmou Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam.
Para Byanyima, "em países desenvolvidos e
em desenvolvimento estão cada vez mais vivendo em um mundo em que as
taxas de juros mais baixas, a melhor saúde e educação e a oportunidade
de influenciar estão sendo dadas não apenas para os ricos mas para os
filhos deles também".
"Sem um esforço concentrado para
enfrentar a desigualdade, a cascata de privilégios e de desvantagens vai
continuar pelas gerações. Em breve vamos viver em um mundo onde a
igualdade de oportunidades é apenas um sonho", acrescentou.
Publicado dias antes do Fórum Econômico
Mundial em Davos, o relatório detalha o impacto da crescente
desigualdade em países desenvolvidos e outros em desenvolvimento.
América Latina e Brasil
O relatório da Oxfam apontou que alguns
países, especialmente na América Latina, estão conseguindo ir contra
esta tendência, diminuindo a desigualdade na última década.
"Entre os países do G20, as economias
emergentes geralmente eram aquelas com maiores níveis de desigualdade
(incluindo África do Sul, Brasil, México, Rússia, Argentina, China e
Turquia) enquanto que os países desenvolvidos tendiam a ter níveis
menores de desigualdade (França, Alemanha, Canadá, Itália e Austrália)",
afirmou o documento.
"Mas até isto está mudando, e agora
todos os países de alta renda do G20 (exceto a Coreia do Sul) estão
vivendo o crescimento da desigualdade, enquanto o Brasil, México e
Argentina estão vendo um declínio nos níveis de desigualdade."
A Oxfam destaca o caso brasileiro,
apontando que o país teve "sucesso significativo na redução da
desigualdade desde o início do novo século".
"Em parte devido ao crescente gasto
público social, uma ênfase no gasto com saúde pública e educação, um
programa de transferência de renda de larga escala que impõe condições
para o recebimento (Bolsa Família) e um aumento no salário mínimo que
subiu mais de 50% em termos reais desde 2003", afirmou o relatório.
A Oxfam alerta que a "democracia ainda é
frágil e a desigualdade ainda é muito alta na região, mas a tendência
mostra que problemas que eram insolúveis, as enormes disparidades de
renda, podem na verdade ser enfrentados com intervenções políticas".
Leis e paraísos fiscais
A Oxfam também fez uma pesquisa em seis
países (Brasil, Espanha, Índia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados
Unidos) e mostrou que a maioria dos entrevistados acredita que as leis
são distorcidas para favorecer os ricos.
Entre os países pesquisados, a Oxfam destaca a Espanha, onde oito em cada dez pessoas concorda com essa afirmação sobre as leis.
A ONG também destaca outro grande problema relacionado ao dinheiro que não paga impostos, ficando em paraísos fiscais.
"Globalmente, os indivíduos e companhias
mais ricos escondem trilhões de dólares dos impostos em uma rede de
paraísos fiscais no mundo todo - estima-se que US$ 21 trilhões estão
escondidos sem registros", informou a ONG em seu relatório.
Segundo a ONG, que vai enviar
representantes a Davos, os participantes do Fórum Econômico Mundial têm o
poder de reverter o aumento da desigualdade.
A Oxfam pede que os participantes do
fórum se comprometam a não sonegar impostos em seus países ou em países
onde têm investimento, não usar a riqueza econômica para conseguir
favores políticos que prejudiquem a democracia, apoiar os impostos
progressivos sobre patrimônio e renda, enfrentar o sigilo financeiro e
sonegação de impostos entre outras recomendações.
Além disso, a ONG também recomenda o
estabelecimento de uma meta global para acabar com a desigualdade
econômica extrema em todos os países, uma regulamentação maior dos
mercados para promover crescimento sustentável e igualitário e a
diminuição dos poderes dos ricos de influenciar os processos políticos.
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