Aécio não será candidato do tudo ou nada
Em abril de 2005, depois de ter deixado a Secretaria de Imprensa do governo Lula, fui a Tiradentes para receber a Medalha da Inconfidência junto com mais um monte de gente. Após a bela festa, que se repete todo ano, o então governador mineiro Aécio Neves, já então um possível presidenciável do PSDB, confidenciou a alguns amigos no final de um almoço: "A presidência é destino, não basta querer. Para mim, um dia ser presidente da República não é uma obsessão, não é uma questão de vida ou morte, não vou mudar a minha vida por causa disso".
O candidato do PSDB, em 2006, acabou sendo o paulista Geraldo Alckmin e, quatro anos depois, José Serra voltou a disputar a presidência, desta vez contra Dilma Rousseff. No ano passado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda o principal líder dos tucanos, decidiu que tinha chegado a vez de Aécio, e o convocou a ser candidato. O senador mineiro não recusou a missão, mas também não foi com muita sede ao pote, até porque Serra continuava articulando para ser novamente o candidato tucano.
Eleito presidente do partido, aos poucos Aécio foi conquistando o apoio da maioria das lideranças nacionais do PSDB e começou a viajar pelo país com mais desembaraço, sempre deixando claro que era apenas pré-candidato, empurrando para março a definição do nome. Mas, antes que 2013 acabasse, Serra acabou jogando a toalha e deixou o campo livre para ele.
A entrevista exclusiva que Aécio concedeu na noite de quarta-feira ao Heródoto Barbeiro e a mim, no Jornal da Record News e no R7 , confirmou a minha impressão de que o ex-governador mineiro não será um candidato do tudo ou nada, uma posição que reforçou ao dizer que não é daqueles políticos que só veem defeitos nos adversários e virtudes nos aliados. Sem deixar de fazer duras críticas pontuais ao atual governo - afinal, é um dos candidatos da oposição - Aécio reconheceu méritos nos que governaram o país nos últimos anos, desde seu conterrâneo Itamar Franco.
Quando Heródoto lhe perguntou se manteria programas do atual governo, como o "Mais Médicos", Aécio fez a crítica mais contundente: "Este programa é 80% propaganda e só tem 20% de efetividade para resolver os graves problemas de saúde do país. Porque o mesmo governo que faz essa propaganda enorme do Mais Médicos é o governo que permitiu que nos últimos anos fossem fechados 13 mil leitos hospitalares no Brasil e deixou as Santas Casas em situação de miséria. Apresentar o Mais Médicos como solução para o problema da saúde pública é deslealdade para com os brasileiros".
Apesar disso, o pré-candidato afirmou que, caso eleito, manterá o programa, mas fará mudanças. O desafio de Aécio será explicar ao eleitorado quais as vantagens das mudanças que pretende fazer, já que o programa é apoiado por 84,3% da população, segundo a última pesquisa CNT (Confederação Nacional dos Transportes) divulgada em outubro.
Tranquilo e afiado nas respostas, citando muitos dados e números para dizer que o país vai mal e quer mudanças, Aécio evitou fazer críticas diretas a Dilma e Lula, mostrando um estilo mais "low profile" do que seus antecessores nas campanhas tucanas, o que pode indicar que este ano teremos uma disputa mais civilizada. Como o estilo de Eduardo Campos é semelhante ao de Aécio, e a última pessoa interessada num confronto mais radical seria a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, poderemos nesta campanha ter mais discussões sobre o futuro do país do que ataques entre os adversários. Melhor assim.
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