Organizações repudiam exibição de restos humanos em ex-centro clandestino de detenção
Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital
O Ministério de Justiça e Segurança, o Ministério de Infraestrutura e a Secretaria de Direitos Humanos da província de Buenos Aires, na Argentina, apresentam, nesta quinta-feira (6), a obra de preservação do "Ex-Centro Clandestino de Detenção Destacamento de Arana”. A iniciativa, entretanto, não agrada a todos. Organizações integrantes do coletivo "Justicia Ya!” divulgaram, ontem (5), um comunicado em que repudiam "qualquer projeto de memorialização que implique a convivência com as forças repressivas e a exibição de restos humanos”.
Durante a ditadura Argentina (1976-1983), o local foi utilizado como centro ilegal de detenção. Por lá passaram milhares de detidos na época da ditadura, muitos dos quais foram torturados e mortos. Em dezembro de 2008, antropólogos forenses encontraram restos humanos de detidos-desaparecidos no local.
As organizações que assinam o comunicado consideram uma ofensa a exibição dos restos humanos de seus colegas e familiares. "A mera possibilidade de ‘visitas' e ‘percursos' para a exibição dos restos humanos dos companheiros detidos-desaparecidos que ali foram assassinados constitui em si uma gravíssima afronta. Ofende-nos, afeta-nos, não queremos show, não queremos exibições, somos comunidade de pertença desses restos humanos, ainda que não tenham sido identificados, são nossos companheiros e queremos justiça!”, destacam.
As entidades defensoras dos direitos humanos revelam que, em diversas oportunidades, pediram às autoridades argentinas justiça e retirada da presença policial do centro. As solicitações, entretanto, ainda não foram atendidas. De acordo com elas, os crimes cometidos no Centro Clandestino ainda continuam em fase de investigação e os responsáveis pelos delitos seguem sem receber condenações.
O mesmo ocorre em relação ao pedido de retirada das forças policiais da área. "A presença e ocupação do lugar pela mesma força que o converteu em centro de tortura e extermínio, da mesma polícia a ser investigada por sua responsabilidade no desaparecimento de Jorge Juio López, quem foi um dos desaparecidos que foram levados e torturados a Arana, da mesma força responsável pelo desaparecimento de Luciano Arruga, dos assassinatos de Andrés Nuñez, Miguel Bru, Darian Barzabal, para nomear alguns dos centos de assassinatos por torturas, gatilho fácil, enfrentamentos forjados, supostos suicídios em delegacias, etc; longe de significar um ato reparatório, é, a todas luzes, um fato de violência à memória dos companheiros detidos desaparecidos no Destacamento de Arana, a todos seus familiares, companheiros de militância e amigos”, consideram.
Por conta disso, pedem mais uma vez a Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires, a retirada imediata dos policias do prédio do Destacamento de Polícia em Arana e a preservação das provas judiciais do caso. "Exigimos que se implementem as medidas necessárias para a realização de todas as ações de investigação dentro da totalidade do prédio para verificar a existência de restos humanos”, acrescentam.
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