Novo governo da Líbia ainda nem capturou Kadafi, mas já se apressa em fazer negócios com o petróleo.
Carlos Newton
A Líbia estabelecerá um comitê para examinar todos os contratos de petróleo para avaliar a escala da corrupção praticada pelo regime anterior, disse o ministro das Finanças e do Petróleo, Ali Tarhouni. Acrescentou que esse comitê “verificará todos os contratos e projetos para dar uma visão do grau de corrupção, e tudo que emergir será investigado e publicado”.
Não dá para entender. Enquanto os dirigentes ocidentais se apressam em fazer a partilha do espólio da Líbia, com o presidente francês Sarcozy e o premier britânico Cameron tomando a frente, para desespero dos italianos, a guerra civil continua e ninguém sabe quando vai parar. Como se sabe, o líder Muammar Kadafi está escondido em um local desconhecido desde que as forças da oposição tomaram a capital, Trípoli, em agosto.
O futuro é incerto. Se a resistência pró-Kadafi continua, é uma indicação de que a paz dificilmente será alcançada. Mesmo quando os chamados rebeldes estiverem controlando inteiramente o território líbio, pode continuar a haver atentados e conflitos, mantendo o país em permanente opressão. É uma situação verdadeiramente complicada.
O que os vencedores esperam secretamente é que o Conselho Nacional de Transição comece a pagar agora “as dívidas da sua guerra com petróleo líbio”. Por trás do entendimento revelado pelos participantes na conferência de Paris sobre a “nova Líbia” desenrola-se uma guerra clandestina entre França, Itália e Reino Unido pela exploração dos recursos daquele país, como é destacado nos jornais franceses, italianos e britânicos.
Seis meses após o início das hostilidades contra o regime de Mouammar Kadhafi, o presidente Nicolas Sarkozy e premier David Cameron convidaram para Paris os representantes de sessenta países e ONGs e os dirigentes do Conselho Nacional de Transição da Líbia para marcar o fim das operações militares e definir a transição política e a reconstrução da “nova Líbia”. Em pano de fundo, a avidez pelo maná do petróleo líbio.
O jornal francês “Libération” fala de uma “prova de fogo vitoriosa na Líbia, que aproxima novamente a França de um novo mundo árabe” e de uma “blitzkrieg diplomática reforçada por uma audaciosa aposta militar”. Uma aposta com a qual “as empresas petrolíferas francesas vão poder lucrar bastante”, acrescenta. “Em todo o caso é o que ficou escrito, preto no branco, num documento a que o “Libération” teve acesso – um texto assinado pelo Conselho Nacional de Transição, a autoridade criada pelos rebeldes líbios.
De fato, foi público e notório que os países mais envolvidos com os insurretos seriam mais considerados pelo Conselho quando chegasse a ocasião, nomeadamente em questão de contratos petrolíferos de vulto. Mas o documento prova claramente que os acordos oficiais tinham sido feitos “há vários meses”.
Em 3 de abril, 17 dias depois de ter sido aprovada a resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, o Conselho tinha assinado uma carta dirigida ao emir do Qatar, que serviu de intermediário com a França, na qual determina que o acordo sobre o petróleo com os franceses, em troca do reconhecimento do Conselho como representante legítimo da Líbia, atribui 35% do total do petróleo bruto aos franceses.
O triunfo diplomático francês e o seu corolário energético inquietam fortemente a Itália. Admitida posteriormente na coligação entre Paris e Londres, a Itália receia estar agora excluída da partilha do “bolo” líbio.
“O que acontecerá então à Itália, que foi o primeiro parceiro econômico da Líbia e que estava ligada a ela por um tratado de amizade assinado à custa de uma má aliança?”, pergunta o jornal “La Stampa”. “Uma Itália que fica hoje em segundo lugar, com o ENI (a estatal petrolífera) que, futuramente, irá disputar com os franceses e os ingleses os novos contratos sobre energia?” A Itália, nota o jornal, “tanta seduzir o Conselho para salvar contratos”.
“Esta guerra na Líbia foi sugerida essencialmente por Paris e, a seguir, por Londres. Nicolas Sarkozy irá tentar, assim, colher os frutos do seu envolvimento, com uma participação na reconstrução econômica. A presença de Itália na Líbia irá ser inevitavelmente redimensionada”, observa a analista Marta Dassù, no “La Stampa”. Esta cientista política italiana recorda a hostilidade histórica dos habitantes da Cyrenaica – a região onde se iniciou a rebelião – em relação aos italianos, fato que limita a iniciativa diplomática de Roma.
Portanto, a Itália tinha muito a perder com a guerra na Líbia.
Fonte: Tribuna da Internet.
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