sexta-feira, 14 de outubro de 2011

POLITICA - Procura-se um novo José Alencar.

Da Carta Capital.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula uma manobra política polêmica para tentar conquistar a Prefeitura de São Paulo em 2012. Ele quer “um José Alencar” para vice de seu escolhido na disputa, o ministro da Educação, Fernando Haddad. Lula está determinado a reproduzir em São Paulo a fórmula que instalou o PT no poder nacional por 12 anos. Para conquistar o conservador eleitorado das classes A e B da capital, que há tempos barra o projeto de poder do PT em seu próprio berço, o perfil conciliador e técnico de Haddad precisaria se casar com um vice bem aceito nos meios empresarial e financeiro.

Uma das tentativas mais extremas começa a se dar com o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que acaba de desembarcar na capital paulista com título eleitoral transferido e devidamente instalado no recém criado PSD, do prefeito Gilberto Kassab, depois da benção de Lula.

Com a ajuda do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), Lula estaria tentando articular com o prefeito para que Meirelles seja o candidato a vice de Haddad. A operação é complexa, pois envolve também convencer o PT a não fazer oposição a Kassab na campanha. Por enquanto, apenas um plano B está definido: caso Meirelles seja o candidato do prefeito, o acordo fica definido para o segundo turno. A reedição da estratégia nacional que o conduziu à Presidência da República e o ajudou a eleger a sucessora, Dilma Rousseff, é uma obsessão para Lula, afirmam lideranças petistas, incomodadas com o novo traçado.

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Uma aliança em primeiro turno com o PSD significaria, de pronto, barrar a decisão oficial do diretório municipal do partido, de fazer franca oposição a Kassab. A vantagem para o prefeito seria, em caso de vitória, não ter a oposição petista nos calcanhares, o que pavimentaria sua trajetória para o governo em 2014, ainda com a possibilidade de manter parte de seus indicados no governo. O prefeito nega a possibilidade, ponderando que precisa ter um candidato que defenda sua gestão e que só faria alianças com o PT em um eventual segundo turno, dependendo do espectro político da época. No entanto, as taxas de reprovação da gestão de Kassab são altas. O governador de Pernambuco, articulado com Kassab para 2014, estaria decidido a intermediar o acordo sonhado por Lula para 2012.


Lula, durante evento em março de 2007 com o ministro Fernando Haddad, hoje favorito para concorrer à prefeitura em SP. Foto: Dida Sampaio/AE

Meirelles foi para o PMDB em 2009, com a benção de Lula, na esperança de ser o vice de Dilma, mas Michel Temer foi o escolhido. Desde então, ele se sentia desprestigiado no PMDB, em Goiás. No início de 2010, o ex-presidente dizia que, se dependesse dele, Meirelles seria o vice de Dilma. Ele comentava na época, para o PT, o mesmo de hoje: Meirelles é um nome com o perfil mais semelhante ao de José Alencar, e atuaria como uma espécie de escudo do candidato do PT, com bom trânsito no mercado financeiro e no empresariado, o que quebraria resistências na elite.

Lula costuma avaliar também que a campanha petista não pode ser de oposição acirrada. Haddad cumpriria o perfil técnico e ético, como de Dilma, mas ainda precisaria de um vice que garantisse a imagem de que uma eventual gestão petista não seria extremada. “Meirelles se encaixa perfeitamente nesse projeto”, afirma um líder petista. Os críticos do próprio PT reagem: “Esse projeto do Meirelles repete o balão de ensaio que foi o Ciro Gomes em 2010, que também mudou seu título para São Paulo, a pedido de Lula. Nem tudo que ele tira da cartola dá certo”.

O ex-presidente também enfrenta dificuldades em seu próprio território. A ideia caiu como uma bomba entre algumas lideranças petistas. “A resistência interna será enorme. Mas como em política nem sempre um mais um somam dois, não podemos duvidar que essa pirotecnia do Lula acabe vingando. Estamos com as barbas de molho”, avalia uma liderança do PT.

Até agora, Lula conseguiu convencer boa parte do PT a apoiar Haddad, mas não há nenhum sinal de que o ministro da Educação escape de disputar prévias no partido. Coordenador da pré-campanha de Haddad, o deputado federal Vicente Cândido afirma que todas as posições de Lula precisam ser consideradas, até pela quantidade de vitórias de suas estratégias, mas pondera que as alianças só serão definidas depois das prévias do PT, dia 27 de novembro. “Vamos depois analisar o vice que completará o perfil do candidato”.

Na avaliação de várias lideranças, para que Haddad vença, Lula precisará primeiro convencer a principal adversária do seu candidato, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), ex-prefeita da capital paulista. As pesquisas apontam que Marta teria, de largada, 30% dos votos, contra 2% de Haddad. Como declarou o ex-ministro José Dirceu na segunda-feira 10, não há chances sequer para a candidatura de Haddad sem Marta. Dirceu trabalha por um acordo interno, que evite a divisão do partido em uma prévia eleitoral, marcada para acontecer neste ano. “Qualquer solução passa pela Marta”, frisou Dirceu, durante o lançamento de seu livro em São Paulo, Tempos de Planície.


Vice de Lula, o empresário José Alencar fez a ponta com o empresariado e acalmou os mercados. Foto: Agência Estado

“O Lula terá que fazer muitos afagos em Marta”, afirma um apoiador da senadora, que está em viagem para os Estados Unidos, mas tem mandando recados de que não engolirá a imposição de Lula. Ela já declarou que terá paciência para continuar no jogo.

As bases petistas também têm ecoado a necessidade de oposição a Kassab. “Esse projeto do Meirelles poderá ter um efeito contrário, unindo todos os pré-candidatos contra o candidato do Lula”, analisa outro petista.

A análise das lideranças é de que, enquanto Marta estiver no páreo, os outros quatro postulantes petistas insistirão nas prévias. Os deputados Carlos Zaratini e Gilmar Tatto só recuariam se Marta partisse antes. No caso de os três desistirem em favor de Haddad, mesmo descafeinada, a pré-candidatura do senador Eduardo Suplicy será mantida, mas sem ameaçar o tabuleiro de Lula. No caso de Lula conseguir a candidatura de Haddad, terá que enfrentar ainda outras dificuldades internas.

A vivência de Haddad no PT é mínima. Ele apenas frequentava o núcleo intelectual do partido. Quando Lula lançou sua pré-candidatura, o colocou sob a coordenação de petistas de sua confiança. Mas muitas lideranças paulistanas reclamaram que esse núcleo lulista não é da capital.

Com isso, passou a liderar o movimento pró-Haddad Vicente Cândido, que também é vice-presidente da Federação Paulista de Futebol e relator da Lei Geral da Copa. Além da antipatia por suas relações com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a interlocução de Cândido estaria pautada em acordos financeiros futuros com vereadores do PT.

Definido como candidato, a campanha de Haddad ajudaria alguns projetos de reeleição. Os rumores desses supostos acertos incomodam muitos petistas. Inclusive do grupo do próprio ministro, a Mensagem ao Partido, construído na época do mensalão – e baseado em um discurso da ética interna.

“Estão falando muitas mentiras e eu abomino esse jogo sujo. Não têm sequer coragem de denunciar isso ao partido, porque trata-se de mentira. Só têm falado pela imprensa. Aliás, Haddad é muito ético e jamais aceitaria isso”, rebate Vicente Cândido.



Soraya Aggege

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