O programa “O Mundo amanhã”, de Julian Assange, criou uma tempestade da mídia
ocidental, que imediatamente passou a acusar o Kremlin de operar nos bastidores
do programa.
O fundador de WikiLeaks nunca teve qualquer ilusão sobre como seu programa de entrevistas seria recebido, sobretudo porque Russia Today foi o canal escolhido para exibir as dez primeiras edições do programa. Julian Assange sempre soube que seria declarado “traidor” e “fantoche do Kremlin”.
Pois exatamente essa avaliação não demorou a cristalizar-se nas páginas do New York Times, em coluna de Alessandra Stanley, que não poupou críticas a Assange e ao canal que escolheu.
“Russia Today é rede de notícias em inglês, criada pelo líder russo Vladimir V. Putin em 2005, para promover a linha do Kremlin em todo o mundo”, diz The New York Times, acrescenatando: “Basicamente, é plataforma improvável para um homem que faz pose de ‘vazador’ esquerdista radical e defensor da livre manifestação do pensamento contra as superpotências” – lê-se.
Glen Greenwald, conhecido jornalista dos EUA e colunista da revista online Salon, discorda dessa opinião, em entrevista a Russia Today.
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AMALDIÇOANDO ASSANGE
- “Por que ficaram tão ofendidos?”
Greenwald: “A mídia-empresa norte-americana nunca parou de amaldiçoar Julian Assange, desde que ele surgiu em cena. O que Assange fez – noticiar com transparência – é precisamente o que a mídia-empresa deveria fazer, e Assange o fez em doses generosas, muito mais que todos os veículos da mídia-empresa nos EUA, somados. Imediatamente, jornais e jornalistas puseram-se a atacar Julian Assange por ter exposto o governo dos EUA.
- “A reputação de Assange desabou, desde que WikiLeaks sacudiu o mundo, em 2010. Para uns é herói, para outros é espião, mas atualmente é quase sempre visto como doido varrido” – escreve o New York Times.
Greenwald: “Seria suicídio segurar a respiração à espera de que o NYT algum dia chame de “doido varrido” alguém que tenha poder em Washington. O ataque contra Assange e Russia Today diz muito mais sobre o jornalismo nos EUA, do que sobre os ‘atacados’. O fato de Assange estar no ar [em inglês, espanhol e árabe e, agora, também em português do Brasil], em programa transmitido por Russia Today, enlouqueceu, literalmente, ainda mais, a mídia-empresa nos EUA. Adoraram o pretexto para apontar o dedo para outros veículos e dizer ‘Vejam, são fantoches e instrumentos para propaganda do poder!’. Porque, de tanto que jornais e jornalistas norte-americanos comportam-se exatamente como fantoches e instrumentos para propaganda do poder, todos acabam esquecendo que não fazem outra coisa além de propaganda do poder e dos poderosos. Mais que outros, o New York Times foi campeão mundial do esporte de convencer o país da necessidade de os EUA atacarem o Iraque. O modelo de jornalismo que se vê nos EUA vive de mostrar fé e fidelidade caninas ao governo dos EUA. Quero dizer: há muita hipocrisia na crítica que o NYT publicou.
O primeiro entrevistado de Julian Assange foi o secretário-geral do Hizbollah libanês, Said Hassan Nasrallah, que não dava entrevistas à televisão ocidental desde 2006. Apesar das críticas, muitos concordaram que, em termos jornalísticos, a entrevista foi um sucesso.
Greenwald: “O NYT zomba do novo programa de Assange. De fato, Assange fez o que a TV dos EUA jamais faria: interrogar duramente o primeiro convidado de um novo programa. Foi uma entrevista sensacional. Lá estava Nasrallah, que concordou em dar a Assange um furo internacional. E, em vez de tratá-lo com reverência (como qualquer entrevistador na televisão americana teria feito), Assange falou muito duramente, quase agressivamente, nas perguntas. Perguntou a Nasrallah sobre corrupção nos mais altos escalões do Hezbollah. Desafiou o entrevistado, ao perguntar a Nasrallah por que não estava apoiando os sírios que lutam contra a ditadura de Assad. De fato, foi entrevista impressionante, em termos jornalísticos, sobretudo para um programa inaugural.
“Evidentemente, em termos práticos, o Sr. Assange está na cama com o Kremlin, mas no show da 3ª-feira disfarçou bem” – prossegue o artigo do NYT. Dado que Russia Today jamais é citado sem o sufixo obrigatório “canal de propaganda do Kremlin” pela maioria dos veículos de mídia norte-americanos, o assunto do dia, para muitos, foi quanto, do programa “The World Tomorrow”, teria sido escrito pela equipe do presidente Vladimir Putin, recém eleito. Russia Today é sempre apresentado nesses termos, ao público dos EUA.
Greenwald: “Assange criticou Nasrallah por não apoiar os sírios na luta contra a ditadura de Assad. O governo russo sempre foi aliado de Assad. A atitude de Assange, ante Nasrallah, foi diretamente oposta ao que interessaria à política dos russos para a Síria. Claro que isso dá forte credibilidade ao que Assange tem dito, sobre sua independência editorial. Quem diga o contrário disso só faz exibir-se como falso e mentiroso.”
“A regra é clara: OK, se o jornalista é pago por fabricantes de armas, por políticos norte-americanos ou pelo governo dos EUA ou da Grã-Bretanha. Pode até ser pago por Rupert Murdoch. Mas Russia Today não poderia trabalhar para o governo russo? Assange tem de ser avaliado pelo jornalismo que produz – não pelo canal que escolhe para veicular seu programa”.
“Os EUA estão totalmente mobilizados para processar e destruir Assange. E a Rússia lhe oferece um programa e audiência planetária. Bem faria o NYT se ajudasse os leitores a pensar melhor sobre por que a Rússia faz o que faz. E sobre o que mostra o NYT, quando não faz o que deveria fazer.”
O fundador de WikiLeaks nunca teve qualquer ilusão sobre como seu programa de entrevistas seria recebido, sobretudo porque Russia Today foi o canal escolhido para exibir as dez primeiras edições do programa. Julian Assange sempre soube que seria declarado “traidor” e “fantoche do Kremlin”.
Pois exatamente essa avaliação não demorou a cristalizar-se nas páginas do New York Times, em coluna de Alessandra Stanley, que não poupou críticas a Assange e ao canal que escolheu.
“Russia Today é rede de notícias em inglês, criada pelo líder russo Vladimir V. Putin em 2005, para promover a linha do Kremlin em todo o mundo”, diz The New York Times, acrescenatando: “Basicamente, é plataforma improvável para um homem que faz pose de ‘vazador’ esquerdista radical e defensor da livre manifestação do pensamento contra as superpotências” – lê-se.
Glen Greenwald, conhecido jornalista dos EUA e colunista da revista online Salon, discorda dessa opinião, em entrevista a Russia Today.
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AMALDIÇOANDO ASSANGE
- “Por que ficaram tão ofendidos?”
Greenwald: “A mídia-empresa norte-americana nunca parou de amaldiçoar Julian Assange, desde que ele surgiu em cena. O que Assange fez – noticiar com transparência – é precisamente o que a mídia-empresa deveria fazer, e Assange o fez em doses generosas, muito mais que todos os veículos da mídia-empresa nos EUA, somados. Imediatamente, jornais e jornalistas puseram-se a atacar Julian Assange por ter exposto o governo dos EUA.
- “A reputação de Assange desabou, desde que WikiLeaks sacudiu o mundo, em 2010. Para uns é herói, para outros é espião, mas atualmente é quase sempre visto como doido varrido” – escreve o New York Times.
Greenwald: “Seria suicídio segurar a respiração à espera de que o NYT algum dia chame de “doido varrido” alguém que tenha poder em Washington. O ataque contra Assange e Russia Today diz muito mais sobre o jornalismo nos EUA, do que sobre os ‘atacados’. O fato de Assange estar no ar [em inglês, espanhol e árabe e, agora, também em português do Brasil], em programa transmitido por Russia Today, enlouqueceu, literalmente, ainda mais, a mídia-empresa nos EUA. Adoraram o pretexto para apontar o dedo para outros veículos e dizer ‘Vejam, são fantoches e instrumentos para propaganda do poder!’. Porque, de tanto que jornais e jornalistas norte-americanos comportam-se exatamente como fantoches e instrumentos para propaganda do poder, todos acabam esquecendo que não fazem outra coisa além de propaganda do poder e dos poderosos. Mais que outros, o New York Times foi campeão mundial do esporte de convencer o país da necessidade de os EUA atacarem o Iraque. O modelo de jornalismo que se vê nos EUA vive de mostrar fé e fidelidade caninas ao governo dos EUA. Quero dizer: há muita hipocrisia na crítica que o NYT publicou.
O primeiro entrevistado de Julian Assange foi o secretário-geral do Hizbollah libanês, Said Hassan Nasrallah, que não dava entrevistas à televisão ocidental desde 2006. Apesar das críticas, muitos concordaram que, em termos jornalísticos, a entrevista foi um sucesso.
Greenwald: “O NYT zomba do novo programa de Assange. De fato, Assange fez o que a TV dos EUA jamais faria: interrogar duramente o primeiro convidado de um novo programa. Foi uma entrevista sensacional. Lá estava Nasrallah, que concordou em dar a Assange um furo internacional. E, em vez de tratá-lo com reverência (como qualquer entrevistador na televisão americana teria feito), Assange falou muito duramente, quase agressivamente, nas perguntas. Perguntou a Nasrallah sobre corrupção nos mais altos escalões do Hezbollah. Desafiou o entrevistado, ao perguntar a Nasrallah por que não estava apoiando os sírios que lutam contra a ditadura de Assad. De fato, foi entrevista impressionante, em termos jornalísticos, sobretudo para um programa inaugural.
“Evidentemente, em termos práticos, o Sr. Assange está na cama com o Kremlin, mas no show da 3ª-feira disfarçou bem” – prossegue o artigo do NYT. Dado que Russia Today jamais é citado sem o sufixo obrigatório “canal de propaganda do Kremlin” pela maioria dos veículos de mídia norte-americanos, o assunto do dia, para muitos, foi quanto, do programa “The World Tomorrow”, teria sido escrito pela equipe do presidente Vladimir Putin, recém eleito. Russia Today é sempre apresentado nesses termos, ao público dos EUA.
Greenwald: “Assange criticou Nasrallah por não apoiar os sírios na luta contra a ditadura de Assad. O governo russo sempre foi aliado de Assad. A atitude de Assange, ante Nasrallah, foi diretamente oposta ao que interessaria à política dos russos para a Síria. Claro que isso dá forte credibilidade ao que Assange tem dito, sobre sua independência editorial. Quem diga o contrário disso só faz exibir-se como falso e mentiroso.”
“A regra é clara: OK, se o jornalista é pago por fabricantes de armas, por políticos norte-americanos ou pelo governo dos EUA ou da Grã-Bretanha. Pode até ser pago por Rupert Murdoch. Mas Russia Today não poderia trabalhar para o governo russo? Assange tem de ser avaliado pelo jornalismo que produz – não pelo canal que escolhe para veicular seu programa”.
“Os EUA estão totalmente mobilizados para processar e destruir Assange. E a Rússia lhe oferece um programa e audiência planetária. Bem faria o NYT se ajudasse os leitores a pensar melhor sobre por que a Rússia faz o que faz. E sobre o que mostra o NYT, quando não faz o que deveria fazer.”
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