Do Terra Magazine
Dilma Chevrolet, limpa a área e não leva desaforo pro vestiário
Pois, estimados leitores, é fato mundialmente reconhecido que zagueiros, sim, eles, têm lá as suas preferências estéticas. Pode ser que muitos tentem transformar o mundo em uma grande Guernica, mas isso, longe de demonstrar desapreço pelas belas artes, os torna nada mais do que admiradores de Picasso, o Grande. Na verdade, Picaço, em zagueirospeak, nossa língua universal.
Dilma Chevrolet, limpa a área e não leva desaforo pro vestiário
Pois, estimados leitores, é fato mundialmente reconhecido que zagueiros, sim, eles, têm lá as suas preferências estéticas. Pode ser que muitos tentem transformar o mundo em uma grande Guernica, mas isso, longe de demonstrar desapreço pelas belas artes, os torna nada mais do que admiradores de Picasso, o Grande. Na verdade, Picaço, em zagueirospeak, nossa língua universal.
Dentre os Grandes Zagueiros do Museu das Artes Zagueirísticas, um deles se sobressaiu sem maiores esforços, mesmo que um tanto esquecido pelas novíssimas gerações: Luis Pereira, aka Chevrolet. Aquele que passeava hidramaticamente pelos campos e ficou famoso pelo lindo trabalho de funilaria que um dia aplicou no holandês deslizador, Neeskens. Luis Pereira, o Chevrolet, entrou para a história por ser o primeiro brasileiro a estabelecer uma relação direta e pessoal com o cartão vermelho, que era uma inovação daquela Copa de 1974. Mais do que a elegância, Chevrolet era definido pela intensidade das suas convicções em campo, como Neeskens descobriu, atingido enquanto desmontava aquela horrorosa seleção especializada em marcenaria que enviamos para o abate.
Pois a nossa estimada presidente, presidenta, na opinião dela, me lembra o nosso Chevrolet. Ela se move com uma firmeza de quem controla tudo que acontece do meio de campo para trás e ainda dá pitaco quando vira centroavante e melhor que a escutem.
Ela respeita as sagradas leis que regem a política e o futebol, mas quem interpreta de maneira equivocada as suas intenções sente na canela o que ela até diria por outros meios, se zagueira não fosse.
Um exemplo da zagueirice intuitiva da nossa presidente? Quem mais que a Febraban saracoteava faceira pelos campos nacionais, segura de que sua vitória seria sempre de goleada, com a certeza de quem sabe que tem o bandeirinha, os dois bandeirinhas, o juiz, a mãe do juiz e até os quero-queros ao seu lado, por direito divino? Quem levou uma bordoada tão intensa, saltando para dividir um escanteio, que até agora não sabe mais com quantos juros compostos se faz uma canoa virar?
Isso, estimados leitores, é coisa pra zagueiro que se preza admirar de longe, coçando o joelho enquanto diz, “É”, o que equivale a uma catilinária, em zagueirospeak clássico.
Hoje, políticos que antes ganhavam cafezinho e carguinhos no Dnit, pensam algumas vezes, antes de beijar a grama e fazer o sinal da cruz, e sabem muito bem que as coisas podem até parecer serem as mesmas, mas não são.
Particularmente, eu sinto que zagueiros ganham muito quando preservam as aparências e a auto-estima de quem eles estão prestes a humilhar com um desarme avassalador.
Zagueiros são seres respeitadores da aura alheia, caros leitores. Algum de você já viu algum beque tirando a bola do adversário e tirar sarro dele ou ficar dando saltinhos pelo gramado, com atacantes costumam fazer diante de algo tão rotineiro quanto um gol?
Nunca, jamais. E, nesse ponto, sinto que nossa presidente exagera no zagueirismo, de uma maneira pouco alinhada com o pensamento geral da classe.
É verdade que há colegas que esquecem a compostura e passam pito na hora em que algum desatinado cabeceia escanteio pra dentro da pequena área, onde moram os perigos e eternamente o Paolo Rossi. Esses não se comportam na melhor tradição da zaga, e isso também acomete a nossa presidente, uma pena.
Criticar vem junto com qualquer cargo de liderança, mas também requer arte. Precisamos das pessoas, mesmo das que nos batem a carteira de tempos em tempos. Precisamos criticar mantendo as pontes no lugar, para podermos olhar no olho e seguir em frente no outro dia, com nossos egos chamuscados, mas inteiros.
Criticar é algo que se faz no vestiário e sem microfones, viu Dilma?
O fato de todos saberem que o time tem dono faz bem ao país. País sobrevive sem um grande ataque, coisa que o Japão e a Alemanha descobriram um pouco tarde demais, mas sem zagueiro no comando, é inevitável que ele se meta em besteira daquelas que a gente não sai, não levando todos os artelhos junto, pelo menos.
Dilma Chevrolet se afirma cada vez mais como quem manda na banda, e a torcida, que entende muito mais de futebol do que imaginava a Febraban, aplaude.
Seria de bom tom que ela estendesse o olhar pelo campo e percebesse que essa privatização do aeroporto de Guarulhos foi planejada e executada pela equipe do Joel Santana. Nada pode ser mais sem noção do que entregar o maior aeroporto do Brasil para quem administra, se assim se pode dizer, o metrô do Rio com a mesma competência que alguém administra o Flamengo. Presidente, por favor, carrinho neles!
Os próximos tempos vão ser complicados, pelo que o mundo nos deixa ver. Até a Copa de 2014, aquela onde a Selecinha tende a ser transformada em salsicha pelas mãos e pés da Alemanha, riscos, como o dos aeroportos, é o que não vão faltar na nossa mesa.
Quem não tem estômago forte não entra na política ou em fábrica de salsichas, teria dito Bismarck, o outro, o Chanceler de Ferro. Zagueiro entra, e essa parece ser, caros leitores, a nossa sorte.
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