quinta-feira, 11 de outubro de 2012

POLÍTICA - Dilma pede compreensão da Europa com a Argentina

Quinta, 11 de outubro de 2012

Dilma pede compreensão da Europa com a Argentina

É preciso ter "compreensão" com a Argentina e entender as recentes medidas de controle de importações no país como um reflexo da situação difícil da economia vizinha nos mercados internacionais, defendeu a presidente Dilma Rousseff, ao comentar as perspectivas de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, com autoridades da Irlanda, país que presidirá o Conselho da União Europeia no próximo semestre. A crise encontrou os argentinos com muito menos recursos que o Brasil para minimizar o impacto sobre a economia do país, argumentou a presidente.
A reportagem é de Sergio Leo e publicada pelo jornal Valor, 11-10-2012.

Dilma, segundo apurou o Valor, reconheceu que a crise teve impacto negativo sobre as duas maiores economias do Mercosul, mas afetou diferentemente Argentina e Brasil. Enquanto o Brasil, durante as últimas crises econômicas, conseguiu manter sua diversificada estrutura industrial e, mais recentemente, obteve até condições de eliminar a dívida externa líquida, a economia argentina reduziu sua estrutura industrial e foi forçada a uma moratória que a impede até hoje de recorrer ao mercado de capitais, relatou a presidente.

A necessidade de garantir divisas é uma das principais razões para as medidas argentinas voltadas ao aumento do superávit comercial, comentou Dilma. Ao defender para os irlandeses que é preciso tratar com compreensão a política econômica argentina, ela mostrou otimismo, porém, em relação às perspectivas da negociação comercial entre Mercosul e europeus. Dilma conversou ontem com o presidente da Irlanda, Michael Higgins, um sociólogo de grande conceito no país, sem funções executivas, e o ministro do Comércio irlandês, Joe Costello.

"Ela nos trouxe uma visão nova", comentou Costello, após o encontro, recusando-se, porém, a relatar os comentários de Dilma sobre o Mercosul. Higgins concordou enfaticamente com as ideias de Dilma sobre a União Europeia, que, segundo a presidente, corre risco de aprofundamento da crise com as medidas de austeridade defendidas por alguns Estados-membros.

Dilma transmitiu o apoio do Brasil aos irlandeses contra as propostas de fragmentação da União Europeia e as análises que veem o continente europeu dividido entre um grupo de países bem administrados e responsáveis e outro, de nações descuidadas. Higgins, que, como teórico, critica o que chama de economia "despersonalizada" (depeopled economy), baseada apenas em indicadores de desempenho macroeconômico, lembrou à presidente que os espanhóis trabalham, em média, três horas mais que os do Reino Unido.

"Concordamos que é falsa a ideia de que as pessoas são irracionais e só os mercados são racionais", relatou Higgins ao Valor. "Uma coisa que pudemos aprender com a irracionalidade especulativa é que os mercados não são racionais", disse o irlandês, presidente de um país vitimado pela bolha especulativa imobiliária, que afundou o sistema bancário local.

Dilma e Higgins concordaram também com a crítica à fragilidade do Banco Central europeu, que, para eles, tem sua ação dificultada pela criação, na prática, de situações monetárias distintas, com países capazes de captar a custo baixo no mercado internacional e outros sujeitos a juros de até 7%. A Europa precisa de instituições mais fortes, com capacidade de dar maior transparência aos mercados e criar condições de disciplina fiscal que não se baseiem apenas em medidas causadoras de desemprego, defendeu Higgins, que contou à presidente como o governo irlandês recusou, no pacote de ajuste do Fundo Monetário Internacional, a pressão para eliminar o salário mínimo no país.

Os dirigentes irlandeses, ambos egressos do Partido Trabalhista, também estiveram com ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem conversaram sobre as políticas sociais no Brasil. Deixaram Brasília dizendo-se impressionados com Dilma. "O que o Brasil traz ao G-20 é crucial", comentou Higgins, ao elogiar as preocupações da presidente contra programas de austeridade sem políticas de amparo social.

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