La Jornada: Jesuíta denunciou Bergoglio por colaborar com regime
Comungando com o ditador Jorge Videla
Testemunhas vinculam novo papa à ditadura argentina
É acusado de retirar a proteção da ordem religiosa de dois jesuítas detidos clandestinamente pelo governo de fato
Reuters, publicado em 13/03/2013 13:44 no diário mexicano La Jornada, dica da Rosana Mamani
Buenos Aires — Jorge Mario Bergoglio chegou ao sacerdócio aos 32 anos, quase uma década depois de perder um pulmão por uma enfermidade respiratória e deixar seus estudos de química. Mas apesar de seu ingresso tardio, em menos de quatro anos chegou a liderar a congregação jesuíta local, um cargo que exerceu de 1973 a 1979. Sua ascensão coincidiu com um dos períodos mais obscuros da Argentina, o que causou a ele fortes críticas: a ditadura militar que governou o país entre 1976 e 1982.
O questionamento remete ao sequestro de dois jesuítas detidos clandestinamente pelo governo de fato por cumprir tarefas sociais em bairros de extrema pobreza. Segundo a acusação, Bergoglio retirou deles a proteção da ordem religiosa. Os dois padres sobreviveram a uma prisão de cinco meses.
A denúncia consta do livro “O silêncio”, do jornalista Horacio Verbitsky, também presidente de uma entidade privada de defesa dos direitos humanos, a CELS. Ela se apoia em declarações de Orlando Yorio, um dos jesuítas sequestrados, dadas antes dele morrer de causas naturais em 2000.
“A História o condena: mostra Bergoglio como alguém que se opõe a todas as experiências inovadoras da Igreja e sobretudo, na época da ditadura, o mostra muito próximo do poder militar”, escreveu tempos atrás o sociólogo Fortunato Mallimacci, ex-professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
Além disso, Jorge Bergoglio foi citado na Justiça da Argentina como testemunha em um caso que julgava os responsáveis pelo plano sistemático de apropriação de menores de filhos de desaparecidos durante a ditadura militar.
Os críticos destas acusações sustentam que elas não estão provadas e que, ao contrário, Bergoglio ajudou muitas pessoas a escapar das forças armadas durante os anos de chumbo.
No Vaticano, longe da mancha ignominiosa da ditadura, que ainda pende sobre muitos dos que desempenharam atividades públicas na Argentina neste período, se espera que este homem silencioso conduza a estrutura da igreja com mão de ferro e uma marcante preocupação social.
Os políticos argentinos foram muitas vezes alvos da retórica do sacerdote, que os acusou de não combater a pobreza e de se encastelar no poder.
Em 2010, Bergoglio também enfrentou o governo da presidente Cristina Kirchner, quando ela impôs uma lei para permitir o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.
“Não sejamos ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é uma pretensão destrutiva do plano de Deus”, escreveu Bergoglio em uma carta dias antes da aprovação do projeto pelo Congresso.
Cardeal desde 1988, muitos dos pares que elegeram Bergoglio o conheceram por sua inesperada e reconhecida atuação de relator durante o Sínodo de cardeais de 2001.
Filho de uma família de classe média com cinco filhos, de pai ferroviário e mãe dona de casa, pouco disposto a aceitar convites privados e possuidor de um “pensamento tático”, segundo os especialistas ele agora deverá apresentar suas credenciais diante de mais de um bilhão de católicos.
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