A PAZ COM O IRÃ NÃO INTERESSA AOS EUA E ISRAEL
"O acordo com o Irã
As notícias não foram boas para o presidente Obama nesta semana.
Seu governo não vem dedicando grande atenção à América Latina. O Brasil, especialmente, não vem sendo uma prioridade. De muitas maneiras, isso não surpreende.
Obama não tem experiência direta na região, e tampouco se interessa muito pelas preocupações latino-americanas. Sua atitude reflete, de muitas maneiras, a velha política norte-americana de "business as usual".
Os círculos que comandam a política externa brasileira não se preocupam muito com essa indiferença, porque acreditam que ofereça ao Brasil o espaço para desenvolver iniciativas próprias.
É certo que Washington ocasionalmente se irrita com o Brasil, especialmente no caso de Honduras [onde houve golpe militar da direita, apoiado pelos EUA], e que Obama tem muitos outros problemas a resolver. Mas o acordo com o Irã do presidente Mahmoud Ahmadinejad, intermediado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, é coisa completamente diferente, e coloca as atividades diplomáticas brasileiras em posição de destaque em meio à contenciosa e perigosa questão das ambições nucleares iranianas, um tema que interessa muito a Washington [que pretende um dia controlar o petróleo iraniano].
Sobre o acordo anunciado na segunda-feira, o Irã concordou em transferir metade de seu combustível nuclear à Turquia para que seja convertido em lingotes de urânio, a serem usados para produzir isótopos médicos em um reator de pesquisa em Teerã. É um acordo semelhante ao fechado em outubro passado, mas não implementado pelos iranianos.
Desde então, o Irã adquiriu mais combustível, que não está incluído no acordo intermediado por Brasil e Turquia, o qual, de acordo com as estimativas, cobre apenas 52% do estoque total iraniano, ante 75% no acordo de outubro.
O Brasil manteve abertas as suas linhas de comunicação com o Irã, com o qual mantém superavit comercial bilionário. E a Turquia considera o Irã essencial para as suas ambições energéticas.
O presidente Lula comentou na segunda-feira, sobre o acordo, que "a diplomacia emergiu vitoriosa.
Ficou demonstrado que é possível construir a paz e o desenvolvimento por meio do diálogo". Mas os Estados Unidos não encaram a questão da mesma maneira.
Há meses Washington vinha negociando sanções contra o Irã por meio do Conselho de Segurança da ONU e trabalhando com afinco para obter apoio chinês e russo. Há muito em jogo. [As sanções, assim como as que foram utilizadas contra o Iraque antes das invasões norte-americanas, servem para enfraquecer o país a ser invadido].
Parte do cálculo de Washington envolve evitar que seja provocado [antes da hora julgada oportuna pelos EUA] um ataque militar israelense (ou norte-americano) contra o Irã."
FONTE: escrito por KENNETH MAXWELL e publicado hoje (20/05) na Folha de São Paulo [título e trechos entre colchetes colocados por este blog].
As notícias não foram boas para o presidente Obama nesta semana.
Seu governo não vem dedicando grande atenção à América Latina. O Brasil, especialmente, não vem sendo uma prioridade. De muitas maneiras, isso não surpreende.
Obama não tem experiência direta na região, e tampouco se interessa muito pelas preocupações latino-americanas. Sua atitude reflete, de muitas maneiras, a velha política norte-americana de "business as usual".
Os círculos que comandam a política externa brasileira não se preocupam muito com essa indiferença, porque acreditam que ofereça ao Brasil o espaço para desenvolver iniciativas próprias.
É certo que Washington ocasionalmente se irrita com o Brasil, especialmente no caso de Honduras [onde houve golpe militar da direita, apoiado pelos EUA], e que Obama tem muitos outros problemas a resolver. Mas o acordo com o Irã do presidente Mahmoud Ahmadinejad, intermediado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, é coisa completamente diferente, e coloca as atividades diplomáticas brasileiras em posição de destaque em meio à contenciosa e perigosa questão das ambições nucleares iranianas, um tema que interessa muito a Washington [que pretende um dia controlar o petróleo iraniano].
Sobre o acordo anunciado na segunda-feira, o Irã concordou em transferir metade de seu combustível nuclear à Turquia para que seja convertido em lingotes de urânio, a serem usados para produzir isótopos médicos em um reator de pesquisa em Teerã. É um acordo semelhante ao fechado em outubro passado, mas não implementado pelos iranianos.
Desde então, o Irã adquiriu mais combustível, que não está incluído no acordo intermediado por Brasil e Turquia, o qual, de acordo com as estimativas, cobre apenas 52% do estoque total iraniano, ante 75% no acordo de outubro.
O Brasil manteve abertas as suas linhas de comunicação com o Irã, com o qual mantém superavit comercial bilionário. E a Turquia considera o Irã essencial para as suas ambições energéticas.
O presidente Lula comentou na segunda-feira, sobre o acordo, que "a diplomacia emergiu vitoriosa.
Ficou demonstrado que é possível construir a paz e o desenvolvimento por meio do diálogo". Mas os Estados Unidos não encaram a questão da mesma maneira.
Há meses Washington vinha negociando sanções contra o Irã por meio do Conselho de Segurança da ONU e trabalhando com afinco para obter apoio chinês e russo. Há muito em jogo. [As sanções, assim como as que foram utilizadas contra o Iraque antes das invasões norte-americanas, servem para enfraquecer o país a ser invadido].
Parte do cálculo de Washington envolve evitar que seja provocado [antes da hora julgada oportuna pelos EUA] um ataque militar israelense (ou norte-americano) contra o Irã."
FONTE: escrito por KENNETH MAXWELL e publicado hoje (20/05) na Folha de São Paulo [título e trechos entre colchetes colocados por este blog].
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