Por Mauro Santayana
É natural que o presidente Barack Obama concorde em postergar a visita que faria ao Brasil ainda durante o governo do presidente Lula. O governo norte-americano tinha interesse na visita de Obama ainda no ano passado, mas as dificuldades da agenda impediram a viagem. A visita foi adiada para este primeiro semestre. O governo brasileiro ponderou que, se ela se fizesse depois disso, poderia “contaminar” o processo eleitoral. Novamente a pressão dos fatos políticos, internos e externos, com a exigência da ação presidencial junto ao Congresso norte-americano, em decisões cruciais para o país, impediu Obama de vir nesta primeira metade do ano. Não há nada, portanto, que se possa considerar desaire para o presidente Lula e o Brasil.
Mas as razões de Estado, que a diplomacia conhece, não as conhecem a inveja nem a esperteza política. Começou a circular – e foi acolhido por um jornal de São Paulo – a informação de que, por detrás dos fatos, houve manobra vitoriosa de contre-diplomatie, praticada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Senhor da intimidade do ex-presidente Bill Clinton, com quem participa de um clube de ex-presidentes (para o qual nunca foi convidado Itamar Franco), o autoproclamado líder da oposição teria persuadido Clinton e sua mulher a dissuadirem Obama de realizar a viagem. Há, nesse boato, que os partidários do ex-presidente se encarregam de espalhar, a intenção deliberada de ofuscar os grandes êxitos da diplomacia brasileira no atual governo – sobretudo quando obtivemos, juntamente com a Turquia, acordo alentador com o governo de Ahmadinejad.
Se houve realmente essa intervenção de Fernando Henrique, tratou-se de chover no molhado, porque, ainda que Obama o quisesse, não lhe teria sido possível vir, e coube ao próprio governo brasileiro desaconselhar a visita no segundo semestre.
Há que se considerar que a vinda de Obama tanto poderia ser favorável à candidata do PT quanto prejudicial. Tudo dependeria das circunstâncias, e as circunstâncias não têm agenda prévia, nem obedecem aos protocolos diplomáticos.
De qualquer forma, coube a Obama seguir a prudência de nosso governo. Ele terá que esperar o próximo governante brasileiro para uma visita, que será importante para os dois países. Por mais o presidente se informe, mediante os canais diplomáticos e a imprensa, do que é o Brasil, a presença pessoal é decisiva para que ele “sinta” o nosso país, para que conheça o nosso povo, com o qual ele se disse identificado, quando ganhou as eleições de 2008. Há uma observação de Ortega y Gasset – e, provavelmente de outros, pela sua forte obviedade – de que qualquer um pode ler dez anos seguintes sobre Paris e não a conhecerá mais do que aquele que nela estiver e a sentir por dez minutos. Por isso mesmo alguns espertalhões enlatavam o ar de Paris e o vendiam aos turistas encantados.
Obama, se tiver a oportunidade de sobrevoar algumas cidades brasileiras, visitar uma universidade pública e conversar com alguns integrantes da verdadeira intelligentsia nacional, na certa entenderá que não somos, como pensam muitos, entre eles certos brasileiros, apenas uma banana republic mais extensa e mais populosa. Entenderá que os Estados Unidos nos devem ter como interlocutores sérios, e não dóceis vassalos. Uma associação livre, honrada, de plena igualdade, entre os nossos dois povos, seria conveniente ao Hemisfério e ao mundo, nestas horas de grande incerteza. Mas, até hoje, a diplomacia norte-americana se tem pautado pela arrogante divisa – atribuída, entre outros, a Summer Welles, e repetida depois por Henry Kissinger – de que “os Estados Unidos não têm amigos; têm interesses”. Esses interesses os fazem aproximar-se de nosso povo, como ocorreu para o esforço comum contra o nazifascismo, e os fazem cooptar os seus deslumbrados admiradores brasileiros, para golpear as nossas instituições, como fizeram em 1954, contra Vargas, e em 1964, contra Jango.
Não faria mal o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso desmentir – se é que ainda não o fez – a aleivosia que lhe atribuem. Ela só pode prejudicar a candidatura de José Serra, como a prejudicaram outras trapalhadas de que tem sido protagonista o ex-presidente.
É natural que o presidente Barack Obama concorde em postergar a visita que faria ao Brasil ainda durante o governo do presidente Lula. O governo norte-americano tinha interesse na visita de Obama ainda no ano passado, mas as dificuldades da agenda impediram a viagem. A visita foi adiada para este primeiro semestre. O governo brasileiro ponderou que, se ela se fizesse depois disso, poderia “contaminar” o processo eleitoral. Novamente a pressão dos fatos políticos, internos e externos, com a exigência da ação presidencial junto ao Congresso norte-americano, em decisões cruciais para o país, impediu Obama de vir nesta primeira metade do ano. Não há nada, portanto, que se possa considerar desaire para o presidente Lula e o Brasil.
Mas as razões de Estado, que a diplomacia conhece, não as conhecem a inveja nem a esperteza política. Começou a circular – e foi acolhido por um jornal de São Paulo – a informação de que, por detrás dos fatos, houve manobra vitoriosa de contre-diplomatie, praticada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Senhor da intimidade do ex-presidente Bill Clinton, com quem participa de um clube de ex-presidentes (para o qual nunca foi convidado Itamar Franco), o autoproclamado líder da oposição teria persuadido Clinton e sua mulher a dissuadirem Obama de realizar a viagem. Há, nesse boato, que os partidários do ex-presidente se encarregam de espalhar, a intenção deliberada de ofuscar os grandes êxitos da diplomacia brasileira no atual governo – sobretudo quando obtivemos, juntamente com a Turquia, acordo alentador com o governo de Ahmadinejad.
Se houve realmente essa intervenção de Fernando Henrique, tratou-se de chover no molhado, porque, ainda que Obama o quisesse, não lhe teria sido possível vir, e coube ao próprio governo brasileiro desaconselhar a visita no segundo semestre.
Há que se considerar que a vinda de Obama tanto poderia ser favorável à candidata do PT quanto prejudicial. Tudo dependeria das circunstâncias, e as circunstâncias não têm agenda prévia, nem obedecem aos protocolos diplomáticos.
De qualquer forma, coube a Obama seguir a prudência de nosso governo. Ele terá que esperar o próximo governante brasileiro para uma visita, que será importante para os dois países. Por mais o presidente se informe, mediante os canais diplomáticos e a imprensa, do que é o Brasil, a presença pessoal é decisiva para que ele “sinta” o nosso país, para que conheça o nosso povo, com o qual ele se disse identificado, quando ganhou as eleições de 2008. Há uma observação de Ortega y Gasset – e, provavelmente de outros, pela sua forte obviedade – de que qualquer um pode ler dez anos seguintes sobre Paris e não a conhecerá mais do que aquele que nela estiver e a sentir por dez minutos. Por isso mesmo alguns espertalhões enlatavam o ar de Paris e o vendiam aos turistas encantados.
Obama, se tiver a oportunidade de sobrevoar algumas cidades brasileiras, visitar uma universidade pública e conversar com alguns integrantes da verdadeira intelligentsia nacional, na certa entenderá que não somos, como pensam muitos, entre eles certos brasileiros, apenas uma banana republic mais extensa e mais populosa. Entenderá que os Estados Unidos nos devem ter como interlocutores sérios, e não dóceis vassalos. Uma associação livre, honrada, de plena igualdade, entre os nossos dois povos, seria conveniente ao Hemisfério e ao mundo, nestas horas de grande incerteza. Mas, até hoje, a diplomacia norte-americana se tem pautado pela arrogante divisa – atribuída, entre outros, a Summer Welles, e repetida depois por Henry Kissinger – de que “os Estados Unidos não têm amigos; têm interesses”. Esses interesses os fazem aproximar-se de nosso povo, como ocorreu para o esforço comum contra o nazifascismo, e os fazem cooptar os seus deslumbrados admiradores brasileiros, para golpear as nossas instituições, como fizeram em 1954, contra Vargas, e em 1964, contra Jango.
Não faria mal o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso desmentir – se é que ainda não o fez – a aleivosia que lhe atribuem. Ela só pode prejudicar a candidatura de José Serra, como a prejudicaram outras trapalhadas de que tem sido protagonista o ex-presidente.
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