Professor: Protestos podem levar Obama para a esquerda
Reuters
Dayanne Sousa
A inquietação que leva norte-americanos a ocuparem Wall Street, o centro financeiro de Nova Iorque, pode mudar a cara da política de Barack Obama, avalia o professor da Universidade de Harvard, Alex Keyssar. O especialista em ciência política, autor de livros sobre a democracia americana e nomeado a um Pulitzer, avalia que o atual presidente vai ter que adotar uma postura mais esquerdista se quiser se reeleger.
- As pessoas estão respondendo a um senso de injustiça. Isso provavelmente irá afetar a campanha e fazer com que os Democratas e Obama se movam um pouco mais à esquerda. Eles podem ser impelidos a abandonar sua estratégia de cortejar a centro-direita.
Grupos de manifestantes se revezam há quase um mês num acampamento em Zuccotti Park, no coração novaiorquino. Marchas durante o dia já arrastaram milhares. Eles reclamam dos cortes de gastos sociais e privilégios de grandes corporações durante a crise econômica. Para Keyssar, ainda é difícil saber qual será o impacto desses movimentos, mas ele acredita que a insatisfação popular influirá nas eleições de 2012.
- Acredito que os protestos são uma resposta precisa à incapacidade do Partido Democrata de lidar com problemas chave. O governo Obama falhou em tentar manter as pessoas mobilizadas como elas estavam em 2008. Se eles continuarem e crescerem, os Democratas terão que se aproximar dos manifestantes.
Keyssar é professor de história política em Harvard, uma das mais respeitadas universidades americanas. É autor de The Contested History of Democracy in the United States (A Contestada História da Democracia nos Estados Unidos), sobre o ideal de democracia dos EUA. A obra de 2000 recebeu o prêmio de melhor livro da American Historical Association e tornou Keyssar um dos finalistas do Pulitzer.
Leia a entrevista.
Terra Magazine O movimento Occupy Wall Street tem sido comparado com os protestos de 1968 por seu possível impacto e até mesmo pela dose de nostagia. Você acredita nessa comparação? Em que medida eles são diferentes?
Alex Keyssar - Nós não sabemos ainda os impactos dessas manifestações. As de 1968 foram diferentes nos Estados Unidos porque tinham foco na Guerra do Vietnã. Ainda assim, me parece que há alguma nostalgia e semelhanças na divulgação de uma cultura anticorporativa entre os mais jovens.
Os protestos também tem chamado atenção porque eles não são coordenados por partidos políticos. Como você vê isso? Esse é realmente um novo elemento histórico? Será que isso pode contribuir para a causa de combate aos privilégios de grandes corporações ou isso torna essas vozes sem sentido?
Eu acredito que os protestos são uma resposta precisa à incapacidade do Partido Democrata de lidar com problemas chave. O governo Obama falhou em tentar manter as pessoas mobilizadas como elas estavam em 2008. Isso, de forma alguma, torna os protestos sem importância. Se eles continuarem e crescerem, os Democratas terão que se aproximar dos manifestantes.
O Occupy Wall Street pode ser visto como um símbolo do sentimento geral durante a crise? Como isso afeta as campanhas para as próximas eleições presidenciais nos EUA?
O protesto reflete tanto um amplo e geral descontentamento como uma fúria particular com relação à desatenção com questões como a redistribuição de renda e riqueza. Há ainda a raiva direcionada a Wall Street, que criou a crise atual e passa muito bem, enquanto a maioria no resto do país sofre. As pessoas estão respondendo a esse senso de injustiça. Isso provavelmente irá afetar a campanha e fazer com que os Democratas e Obama se movam um pouco mais à esquerda. Eles podem ser impelidos a abandonar sua estratégia de cortejar a centro-direita.
Quão importante é a alta do desemprego nesse cenário?
É difícil dizer porque nós não sabemos muito sobre a composição desses protestos, que sempre muda. As taxas de desemprego estão - e persistem sendo - muito altas. Mas elas não são as mesmas para os estudantes universitários, embora eles sejam afetados. Se mais pessoas das classes trabalhadoras se juntarem aos protestos, certamente o desemprego será algo chave.
E quanto à palavra "Revolução". É cedo demais para falar nisso? Deveríamos de alguma forma pensar nela, considerando os movimentos similares no Mundo Árabe e na Europa?
Estamos muito longe de uma revolução. Não há nada nessas manifestações atuais que sugira qualquer potencial revolucionário.
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