Blog do Ricardo Kotscho.
José Serra de volta ao cenário municipal
Após duas tentativas frustradas de chegar à presidência da República, aos 69 anos o ex-governador José Serra está voltando ao cenário da disputa municipal, mesmo contra a sua vontade, como candidato de consenso da aliança PSDB-PSD (ex-DEM, o eterno aliado dos tucanos).
Nas últimas semanas, enquanto quatro tucanos fazem figuração como pré-candidatos para uma prévia no PSDB, Serra intensificou sua movimentação política na cidade.
O ex-governador acompanha os eventos externos de Geraldo Alckmin no palanque das autoridades e comparece a solenidades variadas, jogos de futebol, avant-premières, vernissages, espetáculos culturais. Sempre sozinho, faz breves aparições: chega atrasado e vai embora logo, o suficiente para comunicar à praça que está de volta.
Como de costume, mantém o suspense e, se alguém lhe pergunta, Serra diz que não será candidato. Em campanhas anteriores para prefeito, governador e presidente, ele também só "aceitou" a candidatura na undécima hora, deixando seus correligionários exasperados.
Há tempos vinha reparando nesta desenvoltura político-social de Serra, inusitada para alguém que não é candidato, mas quem cravou a novidade foi a sempre bem informada Vera Magalhães, na "Folha" desta terça-feira, sob o título: "Para tucanos, Serra já cogita ser candidato".
O sinal mais evidente de que José Serra nem pensa em aposentadoria e já não sonha só em ser presidente da República, foi dado na última sexta-feira.
Na Casa do Saber, tradicional reduto da fina flor da intelectualidade paulistana, Serra reuniu oito ex-assessores que trabalharam com ele na prefeitura, no governo estadual e no Ministério da Saúde, para discutir "Liderança Política e Gestão Municipal nas Grandes Cidades".
Vieram candidatos a prefeito até de outros Estados, como registrou Vera Magalhães: "Na sua vez de falar, Serra brincou: `Não sou candidato a mais nada´. Ele e a platéia riram da frase".
Enquanto isso, os quatro pré-candidatos tucanos (Bruno Covas, José Anibal, Andrea Matarazzo e Ricardo Trípoli), já declarados inviáveis por Serra, circulam nos debates do partido em diretórios da periferia.
Bem preparados pelo governador Alckmin, nesta segunda-feira eles participaram também de uma sabatina promovida pela "Folha", em que todos preservaram o prefeito Gilberto Kassab (o provável aliado) e bateram duro no PT de Fernando Haddad (o principal adversário).
O candidato petista sentiu no ar o cheiro da novidade e já trabalha com a possibilidade de ter em José Serra seu adversário mais difícil na campanha municipal do próximo ano.
Contra Serra, pesam os altos índices de rejeição nas pesquisas e a promessa que fez, registrada em cartório, de cumprir até o final o seu mandato de prefeito, que abandonaria pela metade para se candidatar a governador.
O prefeito Gilberto Kassab, que era o vice de Serra e se reelegeu, já disse e repetiu várias vezes: o PSD só não terá candidato próprio (o vice-governador Guilherme Afif) se o seu aliado Serra for o candidato do PSDB.
Há duas semanas, Afif e Serra almoçaram a sós num restaurante dos Jardins, mas não contaram a ninguém o que foi acertado.
Sem força no PSDB nacional para tentar vôos mais altos, o ex-governador poderia aceitar ir para a sacrifício da disputa municipal por absoluta falta opção de ambos, o partido e o candidato.
O tempo e os fatos da conjuntura política nacional conspiram contra as aspirações federais de José Serra. Desta forma, conquistar de novo a prefeitura seria uma forma de não sair de cena.
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