sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

PRIVATARIA TUCANA - "Estou de alma lavada".

Na CPI do Banestado,tinha muita "gente boa" envolvida, através do uso das contas CC5, uma das maneiras de "lavar dinheiro".

Me lembro que "Her" Bornhausen, na época presidente do PFL, era um dos principais envolvidos.

Pelo artigo a seguir, pode-se ver que uma das "falácias" do Merval Pereira, na tentativa de proteger o Serra, desqualificando o livro "Pirataria Tucana" e seu autor foi desmontada.


“Estou de alma lavada,” diz Mentor



Paulo Moreira Leite


Em 2005, o deputado José Mentor (PT-SP), era o relator da CPMI do Banestado, usina de investigação, denúncias e luta política interna tão grande que ela se encerrou sem votar seu relatório — um calhamaço de 2 000 páginas — que continha boa parte das revelações divulgadas pelo livro Privataria Tucana, do jornalista Amaury Junior.

Vinte e quatro horas depois que 185 deputados assinaram o pedido de instalação de uma CPI sobre as denuncias do livro, Mentor deu uma entrevista ao blogue.
– O senhor já leu o livro do Amaury Ribeiro?

– Ainda não. Uma assessora comprou e está lendo. Vou fazer isso quando ela terminar. Nós paramos de investigar estes casos em 2005. O Amaury seguiu depois disso. Com certeza avançou bastante.
– Como o senhor acompanhou a coleta das assinaturas para a CPI sobre o livro?

– Estou de alma lavada. No dia em que fiz 60 anos anunciei que iria escrever um livro sobre aquela CPMI e continuo com meu projeto. Fico feliz em ver que parte de nosso trabalho está sendo reconhecido. Conheço boa parte dos documentos e acompanhei a denúncia. Sempre soube que deveria ser apurada.

– Se for mesmo instalada, a nova CPI irá repetir a investigação da CPI do Banestado?

– Não. São objetos diferentes. A CPI do Banestado estava muito dividida. Não havia uma maioria. Ela nasceu da fusão de uma proposta do PT e outra do PSDB, O senador tucano Antero Paes de Barros era o presidente. Eu era o relator. Nós discutíamos o tempo inteiro. O plenário também. Havia muita divergencia.
– Por que?

– No início, que coincidiu com aquele começo difícil do governo Lula, com investimentos contingenciados, sem crescimento, o PSDB achava que iria encontrar fatos para atacar o governo. Havia o interesse político de quebrar a confiança no Lula. Este era o foco real. Quando se viu que essa alternativa não iria levar a muita coisa, pois não aparecia nada, os trabalhos se dispersaram. Aos poucos, se viu que, ao contrário do que se pensava no início, as investigações começavam a mostrar irregularidades que comprometiam o PSDB. Foi ai que o Antero tentou encerrar as investigações de qualquer maneira.

– Como isso aconteceu?

– Nós tinhamos um prazo para trabalhar até 22 de fevereiro de 2005. Isso está escrito num documento oficial do Congresso Nacional. Mas tres meses antes, em dezembro, o Antero proclamou o encerramento da CPMI de forma unilateral e ilegal. Mesmo assim, nós continuamos trabalhando. Fiz viagens pelo Brasil inteiro. Também fui a Madri. A Ideli (Ideli Salvatti, hoje ministra de Relações Institucionais) ajudou muito. Por fim, entreguei meu relatório, no prazo legal. Como a CPI havia sido encerrada, ele não foi votado. Mas está lá, no arquivo do Senado.

– O senhor tomou alguns cuidados no relatório?

– Sim. Documentos que deveriam permanecer em sigilo não foram incluídos. Numa versão inicial, falava-se do laço de parentesco de um empresário com o José Serra. Retirei essa menção do relatório. Essa pessoa não estava sendo investigada porque era parente do Serra, mas porque seu nome apareceu no esquema de lavagem de dinheiro.
– O que estava acontecendo quando a CPI foi encerrada?

– A CPI acabou no momento em que nós iríamos votar um segundo pedido para convocar o Gustavo Franco (presidente do BAnco Central no governo de FHC). O pedido já fora aprovado na única votação feita pelo plenário mas não se marcava data data para o depoimento. Naquele momento, eles quiseram barganhar conosco. Queriam que a gente desistisse de convocar o Gustavo Franco, enquanto eles desistiriam de convocar o Antonio Ciprianni (empresário, dono da Transbrasil, próximo de Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula). Mas nós não queríamos barganhar nada. De nossa parte, eles podiam chamar o Cipriani. Nós queriamos ouvir o Gustavo Franco. Naquele momento, a Justiça uruguaia estava disposta a fornecer dados sobre uma factoring que descontava cheques. Havia possibilidade do próprio Comendador Arcanjo colaborar. Aí eles encerraram.

– O senhor foi acusado de cometer abusos. Por exemplo: de quebrar o sigilo de pessoas sem necessidade. Diziam até que usava informações para fazer chantagem…

– Diziam isso para tentar desmoralizar a CPI e uma parte da mídia comprou essa ideia. Queriam impedir que nosso trabalho fosse levado a serio. A CPI quebrou o sigilo bancário de 2 000 pessoas. Diziam que era demais. Mas fizemos uma reunião secreta na CPI para tratar do assunto. Eu pedi: “me apontem um nome que foi investigado indevidamente.” Ninguém disse nada. Também dei uma coletiva sobre esse assunto. Fiz a mesma pergunta para os jornalistas. Ninguém me apresentou nada. Só posso concluir que quebramos o sigilo de pessoas certas.

– Dizem que houve um acordo para o encerramento da CPI…

– Não houve acordo na Câmara. Isso eu posso garantir.

–Mas houve acordo entre o governo e a oposição?

–Só posso dizer que não houve nada na Câmara. Falo do que sei.

–Uma explicação para o encerramento da CPI é que ela ajudou a esconder descobertas que poderiam comprometer o PT e o governo…

– Pelo amor de Deus! Nem o Antero Paes e Barros afirma isso. Ele chegou a fazer um voto em separado, para substituir meu relatório. Não fala sobre isso.

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