terça-feira, 20 de março de 2012

ECONOMIA - O custo do trabalho.

Que se reduzam os custos financeiros antes de se falar em salários


A imprensa, neste final de semana, foi pródiga em produzir matérias sobre o aumento no valor dos salários dos trabalhadores brasileiros. A tese central é a de que este seria um dos elementos que impactam diretamente o custo da produção industrial no Brasil. O Estadão trouxe um levantamento da MB Associados o qual afirma que o custo do trabalho na indústria, cotado em dólar, nos últimos cinco anos, aumentou 46% no Brasil. Cita os Estados Unidos, como base de comparação, um país que pelejou contra a recessão neste mesmo período, onde o mesmo teria aumentado apenas 3,6%.

O Valor, por sua vez, afirma hoje, que de 2005 a 2011, a folha de salários da indústria aumentou 25% acima da inflação. Segundo números do Departamento do Trabalho dos EUA“O custo da mão de obra industrial brasileira ficou em US$ 10,08 a hora em 2010”, informa o periódico. O valor ainda é bem inferior ao de países desenvolvidos, como os US$ 34,74 dos EUA e os US$ 43,76 da Alemanha. A verdade é nossa mão de obra ainda está longe de ser “cara”. Numa lista de 34 países, o custo brasileiro aparece na 28º posição.

Quem lança luz sobre o que estaria por trás do encarecimento da mão de obra brasileira é o economista Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV. Pelos seus cálculos, ela sofreu um aumento de 150% em relação ao registrado pelos parceiros comerciais do Brasil entre 2003 e 2009. Usando um deflator, no entanto, Bonelli indica que o rendimento médio do brasileiro subiu apenas 0,6% ao ano.

Queriam o quê?

Ou seja, não foram aumentos salariais acima da inflação brasileira os principais responsáveis por tornar a mão de obra nacional tão cara, mas a valorização do câmbio real (que leva em conta a diferença entre as inflações dos países). Ela foi o fator que mais encareceu o custo do trabalho no Brasil nos últimos anos.


Em resumo, a pergunta é: queriam o quê? Que continuássemos com os baixos salários e sem mercado interno? Se temos que reduzir custos da produção no Brasil, que seja, primeiro, o custo financeiro e o da infraestrutura e energia, em seguida da energia.


É o mesmo Estadão que informa os preços pagos na indústria pela energia elétrica subiram 246% no Brasil entre 2003 e 2011, enquanto a alta nos Estados Unidos foi de 35,3%. Já, pelos cálculos do Valor Econômico, hoje, de 2005 a 2011, a tarifa da energia elétrica industrial subiu 28%.


Mas, voltando à questão do custo do trabalho... O que precisamos é de mais formação profissional. Assim como mais inovação e tecnologia, mais valor agregado em toda a economia.

A farsa do câmbio flutuante

Já, para voltarmos às mazelas do câmbio e seus impactos na economia do país, o problema só tem uma solução: deixarmos de nos iludir com a tese da livre flutuação cambial. Ela é uma grande farsa hoje no mundo, em que os principais bancos centrais - dos Estados Unidos (FED), da União Europeia (BCE) e do Japão (BOJ) e da Inglaterra – têm no mercado, hoje, mais de US$ 9 tri em ativos. É quase o triplo do que tinham em 2003, quando não passavam de US$ 3,5 tri.

Ante a esta realidade, quando os países emergentes mantêm o seu câmbio flutuante, estão garantindo, indiretamente, uma medida protecionista às economias que inundaram o mercado com a emissão desenfreada de seus ativos. Estão lhes dando um subsídio sem limites. Essa é a realidade.

Blog do Zé Dirceu

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