quarta-feira, 21 de março de 2012

POLÍTICA - O que tem a ver cerveja com floresta?

Ricardo Kotscho

O que tem a ver a cerveja com a floresta?

A votação da Lei Geral da Copa, mais conhecida como a Lei da Cervejinha, que se arrasta há meses no Congresso Nacional, foi mais uma vez adiada porque a bancada ruralista agora quer colocar em pauta antes o novo Código Florestal.

Com todo respeito, o que tem a ver a liberação da venda de cerveja nos estádios durante a Copa do Brasil com a preservação das nossas florestas? Seria trágico se não fosse cômico o que está acontecendo em Brasília, a capital das lambanças federais.

O burlesco episódio serve apenas para mostrar a fragilidade da rebelada base aliada do governo, que parece ter entrado em colapso após a troca dos líderes governistas na semana passada.

Como comentou minha colega Christina Lemos no Jornal da Record News, tem bezerro estranhando vaca _ e poste mijando em cachorro, acrescento.

Estava tudo certo para que a Lei Geral da Copa fosse votada na terça-feira, transferindo para os Estados a questão da cervejinha, quando surgiram em cena os valentes ruralistas ameaçando derrotar o governo se não fosse discutido antes o Código Florestal.

Com medo de perder as duas pelejas, o governo resolveu não votar mais nada e hoje começa tudo de novo. De quebra, o governo abriu nova frente de conflito, agora com os governadores, ao transferir a responsabilidade da liberação para eles, pois 7 dos 12 Estados que sediarão a Copa têm leis próprias proibindo a venda de bebidas alcoólicas em estádios.

Podemos imaginar a confusão que vai dar quando o pessoal da Fifa for a cada um destes Estados para negociar com governadores e deputados estaduais. Já pensaram como será divertido ver o Blatter e as excelências provinciais discutindo detalhes da lei?

Se no Congresso Nacional, onde habita a nossa elite política, já tivemos este, digamos, "choque de interesses", ao levar o problema para as províncias teremos um borogodó sem fim envolvendo políticos, cervejeiros e cartolas da Fifa, todo mundo querendo tirar uma casquinha.

O petista gaúcho Tarso Genro já avisou que não vai mudar a lei estadual que proibe a venda de cerveja nos estádios e o tucano paulista Geraldo Alckmin não quer nem ouvir falar do assunto, devolvendo a bola para o governo federral. O cearense Cid Gomes, do PSB, no melhor estilo do seu irmão Ciro, já saiu atirando, chamando de "covarde" e "postura de avestruz" a decisão do governo federal.

O que não dá para entender é como se pode perder tanto tempo discutindo uma questão menor que não faz o menor sentido. Afinal, quem quer encher o caneco bebe antes e depois do jogo. O que se venderia de cerveja nos estádios é insignificante, um troco diante do oceânico consumo fora deles, diante da televisão, nas casas e nos botecos.

Trata-se, na verdade, de apenas mais uma queda de braço entre o governo Dilma e sua base (des)aliada. A turma da motosserra aproveitou a onda para ver se arruma alguma brecha legal para continuar desmatando sem medo de ser feliz.

E assim a vida segue, nos surpreendendo a cada dia. É para rir ou para chorar?

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