sábado, 24 de março de 2012

POLÍTICA - O caçador está sendo caçado.

Gravações da Polícia Federal mostram que Demóstenes Torres, antigo caçador de corruptos, agora é a bola da vez.

Carlos Newton

Desde que assumiu o mandato de senador pelo então PFL, em 2003, Demóstenes Torres despontou como uma das grandes revelações do Congresso Nacional, notabilizado por sua sólida formação jurídica e pela intransigente defesa da moralidade na vida pública.

Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Demostenes é integrante concursado do Ministério Público de Goiás desde 1983. Foi Procurador-Geral antes de ocupar o cargo de Secretário de Segurança Pública, entre 1999 a 2002, no governo de Marconi Perillo, quando entrou na política.

Desde fevereiro de 2009 é presidente da Comissão de Constituição e Justiça, o mais importante órgão do SenadoComissão da Casa e foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009. E desde março de 2011 é líder da bancada do DEMs no Senado, substituindo José Agripino Maia.

Seu prestígio vinha num crescendo e o senador realmente tornou-se um nome respeitado. E justamente quando passou a ser cogitado para candidato do DEM à eleição presidencial de 2014, surgiu o escândalo de seu envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, e a carreira política de Demostenes Torres começou a desmoronar.

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TUDO POR DINHEIRO

Reportagem de Jailton de Carvalho, em O Globo, mostra que gravações da Polícia Federal revelam que o senador Demóstenes Torres pediu dinheiro e vazou informações de reuniões oficiais a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar a exploração ilegal de jogos em Goiás.

Relatório com as gravações e outros graves indícios foi enviado à Procuradoria Geral da República em 2009, mas o chefe da instituição, Roberto Gurgel, não tomou qualquer providência para esclarecer o caso. O documento aponta ainda ligações comprometedoras entre os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO) com Cachoeira.

O relatório, produzido três anos antes da deflagração da Operação Monte Carlo, escancara os vínculos entre Demóstenes e Cachoeira. Numa das gravações, feitas com autorização judicial, Demóstenes pede para Cachoeira “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”.

Em outro trecho do relatório, elaborado com base nas gravações, os investigadores informam que o senador fez “confidências” a Cachoeira sobre reuniões reservadas que teve no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Parlamentar influente, Demóstenes costuma participar de importantes discussões, sobretudo aquelas relacionadas a assuntos de segurança pública.

O relatório revela ainda que desde 2009 Demóstenes usava um rádio Nextel (tipo de telefone) “habilitado nos Estados Unidos” para manter conversas secretas com Cachoeira. Segundo a polícia, os contatos entre os dois eram “frequentes”. A informação reapareceu nas investigações da Monte Carlo.

Para autoridades que acompanham o caso de perto, esse é mais um indicativo de que as relações do senador com Cachoeira foram mantidas, mesmo depois da primeira investigação criminal sobre o assunto. O documento expõe também a proximidade entre Cachoeira e os deputados Leréia e Sandes Júnior.

Leréia também usava um Nextel para conversas secretas com Cachoeira. A polícia produziu o relatório com base em inquérito aberto em Anápolis para investigar a exploração de bingos e caça-níqueis na cidade e arredores.

Como não pode investigar parlamentares sem autorização prévia do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF enviou o material à Procuradoria Geral em 15 de setembro de 2009. O relatório foi recebido pela subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques. Caberia ao procurador-geral, Roberto Gurgel, decidir se pediria ou não ao STF abertura de inquérito contra os parlamentares. Mas, desde então, nenhuma providência foi tomada, vejam que não se pode confiar nem na Procuradoria-Geral da República.
Fonte: Tribuna da Internet.

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