PMDB não pode romper com Dilma, não possui alternativa alguma.
Pedro do Coutto
O Estado de São Paulo, manchete principal de sua edição de quarta-feira 14, afirmou que a troca de líderes no Congresso ampliou a crise na base parlamentar da presidente Dilma Roussef no Congresso. A reportagem é de Cristiane Samarco, Eugênia Lopes. João Domingos e Vera Rosa, da Sucursal de Brasília.
A crise é um fato, porém passageira. Passageira como a mistura de sol e chuva porque, na realidade, o PMDB, principal foco da reação às nomeações da presidente, não possui qualquer outra alternativa a não ser ficar no governo e, portanto, com o governo. O que poderia fazer? Alinhar-se com a oposição? Não se sabe sequer onde se encontra a oposição.
O PMDB possui cargos no executivo. Quer mais. Se não conseguir, claro, fica com o que conquistou. Pois a ruptura, se fosse para valer, implicaria no pedido de demissão dos ministros representantes da legenda. A presidente da República, me parece, não é pessoa de se deixar intimidar. Se pagar para ver, como num jogo de poder, verá que o partido do vice Michel Temer está blefando.
Política é a luta pelo poder, mistura de ciência e arte, através da qual satisfazendo-se interesses (legítimos ou não tanto) procura atingir o desenvolvimento econômico e social.Na hipótese de deixar o governo (desfecho impossível na prática), o PMDB isolaria Michel Temer e assim perderia ainda mais força e influência. Não poderia tampouco aliar-se ao PSDB. E, sozinho, o PMDB não pesa nada no sentido permanente.
Suas estocadas só podem, portanto, ser tópicas, episódicas. Um ministério aqui, uma diretoria ali. E vamos ficando por aqui, como se costuma dizer quando impasses na vida atingem seu limite. Vai longe o tempo dos rompimentos. Na realidade, hoje, o quadro político divide-se entre o PT e as forças antipartido dos Trabalhadores.
São poucas e frágeis. O PT vem de três vitórias presidenciais sucessivas.Não foi atingido pela demissão de um naipe de oito ministros sob acusações de corrupção e ineficiência. Vários do Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Quem tem de se desculpar pelos constrangimentos não é a presidente da República, mas sim a principal legenda da coligação vitoriosa nas urnas de 2012.
Tampouco a sustentação da maioria parlamentar, no fundo da questão, depende do PMDB. Se ele sair da coligação, outros partidos saem da sombra e ocupa seu lugar. Frase tradicional da resistência francesa à ocupação nazista, nos casos de prisão, tortura e fuzilamento dos heróis que enfrentavam as botas da Alemanha de Hitler.A emoção da história me contagiou. Mas não vamos exagerar nas comparações.
Fiquemos num exemplo ocorrido no Brasil em matéria de rompimento político. Aconteceu em 1962. Em seguida à crise que marcou a posse de João Goulart na presidência da República no ano anterior, formou-se um governo de coalizão. O primeiro ministro, Tancredo Neves, era do PSD. A UDN ocupava dois ministérios e mais a embaixada do Brasil na ONU. Gabriel Pereira Passos era o ministro de Minas e Energia, Virgílio Távora, o dos Transportes. O senador Afonso Arinos de Melo Franco era o embaixador na ONU. Mas em 1962 marcava um ano eleitoral.
Tradicional adversária do PTB, se ficasse no governo o que a UDN iria dizer a seu eleitorado? Decidiu então se afastar. Repórter do Correio da Manhã, estava ao lado do ministro Virgílio Távora, quando Goulart telefonou e pediu que ele permanecesse. “Agradeço mas não posso, presidente. Sou um homem de partido. Permaneci no seu governo representando minha legenda. No instante em que ela decide afastar-se, tenho que segui-la e me afastar também”, acrescentou.
Porém este episódio ocorreu em 62, portanto há exatos 50 anos. Não se faz mais política como antigamente. O poder, hoje, tem outras motivações menos nobres. Se Dilma pagar para ver, o PMDB ficará calado.
Fonte: Tribuna da Internet.
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