segunda-feira, 19 de março de 2012

POLÍTICA - Preparar o voto.

Do Terra Magazine

Cláudio Lembo
De São Paulo


Aproximam-se dias decisivos para os municípios. Escolher seus prefeitos e vereadores. Eleições sempre polarizam as atenções. Fazem a cidadania alterar suas posições. Refletir e fazer opções.

O preparo para uma eleição é altamente complexo. A indicação de candidatos. A elaboração das chapas. A campanha desgastante. Os embates repletos de emoções.

A final, o momento decisivo. Aquele em que o eleitor digita os números de seus candidatos no teclado da urna eletrônica. Depois, esperar a apuração e a proclamação dos eleitos.

Tudo é rotina. Pesada rotina que se repete desde 1532, quando da fundação pelos portugueses da vila de São Vicente, no litoral paulista. Cabaças, então, serviam de urnas.

Agora, tudo mudou. Os equipamentos eletrônicos permitem a pronta captação da vontade do eleitor e ainda mais eficiente contagem dos votos conferidos.

No entanto, há mais de quinhentos anos permanece imutável em todos os pleitos algo fundamental: a consciência do eleitor. O mais sofisticado arsenal eletrônico não é capaz de qualificar a manifestação do eleitor.

Esta - a consciência - deve ser formada pelo próprio titular do voto. A sua qualificação exige forte vontade de recolher informações. Realizar reflexões.

É bom sempre estar alerta. O eleitor consciente não permite manuseio de sua vontade. Esta é parte de seu patrimônio subjetivo. Deve ser inalienável. A venda de um voto equivale à alienação da própria dignidade cívica.

As emoções serão muitas, desde agora até outubro. Irá se falar muito. Nem sempre posições sensatas estarão no dia-a-dia. Eleição faz emergir muito da verdadeira personalidade dos candidatos.

Às vezes, encontram-se personalidades com efetivo conhecimento do que dizem. Outras, o candidato é apenas produto dos publicitários eleitorais, os marqueteiros.

O eleitor deve estar atento nos próximos meses. Surgirão figuras novas e se apresentarão antigos militantes de pleitos. Observe as posturas. Analise o passado de cada candidato.

A cidadania tem obrigação de ser exigente e impositiva em suas opções. Uma campanha eleitoral não é concurso de beleza. Nem aula de erudição. É momento de se analisar as condições efetivas do pretendente ao exercício do cargo correspondente ao futuro mandato.

Os instrumentos de comunicação são muitos. Todos são úteis para colher informações e proporcionam visões múltiplas do mesmo cenário político.

Ouvir muito. Assistir debates. Recolher opiniões de amigos de colegas de trabalho ou da escola é indispensável. O voto é ato solitário. A formação da opinião individual é ato complexo. Nutre-se de todas as fontes disponíveis.

Não se deve deixar para o último momento a escolha do candidato. Este deve surgir espontaneamente no decorrer do percurso eleitoral. Não podemos nos deixar enganar.

Foram muitas as frustrações da caminhada democrática. Conheceu golpes de Estado. Renuncia de dignitários. Cassação de presidente. Prisões de agentes políticos.

Muitos episódios nasceram dos equívocos dos mandatários populares. No cerne, porém, se encontra o princípio de todas as coisas em política: o voto individual.

Não temos o direito de errar. Compromete-se o futuro. Furtam-se as esperanças com o voto sem consciência.

Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.

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