terça-feira, 22 de janeiro de 2013

GEOPOLÍTICA - Argélia: guerra de informações.



Guerra de informações marca ação final no complexo de gás na Argélia


O desenlace da tomada de reféns na planta de gás de Tigantourine, próxima à localidade argelina de Amenas, terminou com a marca daqueles que a executaram: o grupo radical islamista “Os que assinam com sangue”, e o Estado autoritário que decidiu tomar à força o complexo na qual haviam se entrincheirado os sequestradores. A reportagem é de Eduardo Febbro, de Paris.


  • Paris – Trágico e sangrento: o desenlace da tomada de reféns na planta de gás de Tigantourine, próxima à localidade argelina de Amenas, terminou com a marca daqueles que a executaram: o grupo radical islamista “Os que assinam com sangue”, e o Estado autoritário que decidiu tomar à força o complexo na qual haviam se entrincheirado os sequestradores.

O banho de sangue final deixou um saldo de 11 terroristas e sete estrangeiros mortos. As circunstâncias exatas nas quais morreram os reféns são ainda obscuras.
 Segundo a televisão estatal argelina, foi o grupo terrorista que “assassinou os estrangeiros”. Os membros do comando islamista haviam informado na sexta-feira (18) que tinham em seu poder três belgas, dois norte-americanos, um japonês e um britânico.

A Bélgica havia dito, porém, que não dispunha de indícios de que pessoas de sua nacionalidade estavam no complexo. Mas quatro empregados da petroleira britânica BP seguem desaparecidos.
 Enfim, as estatísticas sobre esse episódio, justificado pelos islamistas como um protesto contra a intervenção militar francesa no Mali, permanecem pouco precisas – no total, fala-se entre 25 e 27 reféns estrangeiros mortos desde quarta-feira (16) passada.

Estados Unidos e Japão haviam pedido à Argélia que preservasse a vida dos sequestradores.
 A França, mesmo sem qualquer comunicação sobre a tomada do complexo pelas autoridades de segurança, se absteve de criticar a ação. Ao contrário, até receberam elogios.

“Um país como a Argélia teve as respostas que, a meu modo de ver, são as mais adequadas porque não poderiam haver negociações”, disse o presidente socialista francês, François Hollande.
 A realidade é que parece ter havido improvisação tanto na tomada do complexo de gás pelo governo argelino, quanto na intervenção francesa no Mali, que teria motivado os sequestros.

Como já é frequente nos últimos dez anos, todos lavam as mãos em nome da luta contra o terrorismo islâmico. 
Do golpe de Estado na Argélia, em 1992, passando pelo Afeganistão e a segunda invasão do Iraque, dezenas de milhares de vida inocentes foram perdidas.
 Bombas em lugares públicos, bombardeios das potências do Ocidente em zonas civis, institucionalização do sequestro e a tortura como método de repressão (Guantánamo, Abu Grahib) foram usados na luta contra a versão mais extrema do islã.

O único que saiu ganhador desta última batalha é “Mister Marlboro”, ou seja, Mojtar Belmojtar, o argelino contrabandista de cigarros que, depois de desvincular-se do grupo terrorista Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), fundou a katiba (comando, brigada) “Os que assinam com sangue”.
 Foi esse grupo que agiu no complexo de gás.

Paralelamente, ninguém crê que Belmojtar tenha montado de repente a operação na planta de gás explorada pela estatal argelina Sonatrach, a britânica BP e a norueguesa Statoil.
 A França interveio no Mali ao final da semana passada e não poderia haver tempo para estruturar uma ação tão precisa e arriscada.

Especialistas e protagonistas da luta contra o terrorismo acreditam que Belmojtar já tinha seus planos preparados há muito tempo e só esperava um momento que melhor lhe conviesse.
 O juiz antiterrorista francês Marc Trévidic disse: “Belmojtar executou a ação em um momento que julgou melhor por razões estratégicas, para universalizar o conflito e tornar-se protagonista da jihad internacional”.

Em todo caso, os numerosos testemunhos dos reféns que se salvaram demostram que o comando islamista tinha um plano bem definido e com diversas saídas. A esposa de um refém filipino ferido, Rubén Andrada, contou a uma rádio de Manila que os reféns tiveram seus corpos envolvidos com explosivos e transportados em caminhões-bomba.
 Se o objetivo de Mojtar Belmojtar era colocar seu nome na história do terrorismo, conseguiu seu objetivo ao custo de dezenas de vidas. 

A operação é inédita tanto por sua extensão, quatro dias, importância do comando que a executou, mas de 40 homens, e o número de reféns envolvidos, mais de 600 de diferentes nacionalidades, além de ter sido um golpe no coração do setor energético argelino e uma estocada na França.

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