quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

GRÉCIA - A austeridade que leva à crise humanitária.


Austeridade mergulha a Grécia numa crise humanitária

Três anos após o pedido de intervenção da troika, a Grécia, que vive o sexto ano de recessão, vê-se mergulhada numa verdadeira crise humanitária. O aumento exponencial da taxa de desemprego, que já ascende a 26,8%, a imposição de cortes nas pensões e nos salários e nas funções sociais do Estado empurram a população grega para uma situação insustentável.
Foto de Paulete Matos.
A Organização Comunista da Grécia (KOE), que integra a coligação de esquerda Syriza, apresenta uma compilação de dados que espelha a crise humanitária que a Grécia atravessa atualmente, e que resulta da política de austeridade imposta pelo executivo helénico e pela troika.
Quase três anos após o pedido de intervenção externa, e a implementação de fortes medidas de austeridade, que se traduziram na redução de salários e pensões, em despedimentos em massa na Função pública, em cortes acentuados em áreas como a Saúde, a Educação e a Segurança Social, a Grécia vive o sexto ano de recessão. Em 2009, o PIB grego ascendia a 231,1 mil milhões de euros. Para 2013, o governo helénico prevê, numa perspectiva bastante “optimista”, um PIB de 183 mil milhões de euros, o que, em comparação com 2008, representa um decréscimo de 24%.
De acordo com a própria Comissão Europeia (CE), entre 2009 e 2011, as famílias gregas perderam 17% do seu rendimento disponível real, enquanto em países como a Irlanda e a Espanha as perdas de rendimento fixaram-se em 5% e 8%, respetivamente.
A maioria dos trabalhadores gregos, tanto do setor privado como do setor público, assim como os aposentados, perderam entre 30% a 50% do seu rendimento durante estes  três anos. Muitos gregos estão a sujeitar-se a trabalhar por valores abaixo do salário mínimo (586 euros) sem quaisquer garantias contratuais e até mesmo sem qualquer tipo de ordenado, na esperança de receber algum dia pelo menos uma parte dos salários devidos.
Ao mesmo tempo que veem o seu rendimento diminuir abruptamente, as famílias gregas são confrontadas com um verdadeiro assalto fiscal. Os trabalhadores considerados independentes e as pequenas e médias empresas estarão, em 2013, sujeitos a um aumento de impostos que chega aos 420%.
As reduções de impostos para famílias com crianças foram eliminadas, ao mesmo tempo que as grandes multinacionais e os proprietários de navios são praticamente isentos de impostos.
O governo de Antonis Samaras implementou ainda uma série interminável de impostos "extraordinários", na forma de imposto de habitação social e de imposto de solidariedade fiscal, sendo que todas as receitas resultantes da sua aplicação são utilizadas para a "recapitalização do sistema bancário" e para o pagamento de juros da dívida. Enquanto que as famílias pobres que não podem pagar estes impostos são punidas pelo governo grego, que chega a cortar o fornecimento de energia elétrica nas suas casas, as grandes empresas desfrutam de reduções ou até mesmo de isenções deste tipo de taxação.
A taxa de desemprego na Grécia subiu de 9,5% em 2009, para 12,5% em 2010, e para 17,7% em 2011, ascendendo, em outubro de 2012, a perto de 27%.
Entre os 1.300.000 desempregados contabilizados nas estatísticas oficiais gregas, menos de 200.000 têm acesso a qualquer tipo de subsídio de desemprego.
A percentagem de pessoas a viver em condições de pobreza passou, por sua vez, de 12,1% em 2000, para 16,3% em 2010, e disparou para 22,9% em 2011, ano em que ainda existiam inúmeros serviços e prestações sociais que entretanto foram extintos. Em 2012, as organizações humanitárias estimam que a taxa de pobreza tenha aumentado ainda mais, mediante a agudização das condições de vida da população.
Os cortes orçamentais no setor da saúde, que determinaram o encerramento de vários hospitais e centros de prevenção e deixaram muitos estabelecimentos de saúde sem as condições mínimas de funcionamento, padecendo de falta de profissionais, material básico e medicamentos, têm contribuído para a deteriorização das condições de saúde dos gregos.
Também o aumento acentuado das taxas moderadoras, o aumento das despesas dos cidadãos com medicamentos e o condicionamento do direito ao acesso à saúde, fazendo-o depender do número de dias trabalhados no ano anterior, contribuem para a dificuldade de acesso, por parte dos desempregados de longo termo e dos cidadãos sem seguro de saúde, aos cuidados básicos de saúde, levando o centro de Controlo de Doenças da EU a alertar novamente para um possível surto de infecções virais, vírus hospitalares, doenças contagiosas, e para o aumento exponencial do número de infetados com o HIV/Sida.
Ainda que, em dezembro de 2012, o frio se tenha feito sentir na maior parte do país, o consumo de aquecimento a óleo observou uma diminuição de 7,5%, em resultado do aumento dos impostos que lhe estão associados.
A par de estar condenada ao frio, a população grega também se vê agora confrontada com a fome. À semelhança do que tem vindo a ser observado em Portugal, a população de sem abrigo e o número de cidadãos gregos a recorrer à chamada "sopa dos pobres" têm registado um acréscimo significativo. Nas Dioceses de Neapolis e Stavroupolis eram servidas, em 2010, 1.387 refeições. Em 2011, o número aumentou para 2.445 e, em 2012, para 5.223.
Também como tem vindo a acontecer em Portugal, existem cada vez mais casos de crianças e jovens com fome nas escolas, que chegam mesmo a desfalecer dado o seu estado de fraqueza, e estão a ser sinalizados casos de crianças que chegam aos serviços de urgência dos hospitais com fome ou em resultado de uma deficiente alimentação.

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