Benjamin Steinbruch: “Aumentar os juros, um equívoco!”
Empresário diz não ver razão para fazer “terrorismo” com inflação...
Em meio à campanha presente na grande mídia para aumentar os juros, é bom saber que ainda há quem pense de modo diferente nos jornalões. É o caso do empresário Benjamin Steinbruch, que publica artigo hoje na Folha de S.Paulo com o título “Aumentar os juros, um equívoco!”.
Ele considera equivocada a análise de que o aumento dos juros conteria a inflação de demanda interna: “Mais eficiente é atuar para estimular a oferta desses bens e serviços e com isso incentivar o crescimento econômico”.
Steinbruch cita justamente a aceleração das concessões para obras de infraestrutura e as desonerações, a fim de elevar a oferta de bens e serviços. Para ele, no entanto, o crédito está exageradamente concentrado no BNDES.
“Estimular a oferta é, sem nenhuma dúvida, o melhor caminho para combater a inflação, porque as demais opções são de alta periculosidade para a atividade econômica”, diz o artigo, lembrando que o aumento dos juros esfriaria o consumo num momento em que o PIB cresce pouco.
Steinbruch também descarta a valorização do real, que prejudicaria a indústria. E acerta novamente ao dizer que não há “razão prática” para fazer “terrorismo” com a inflação: “Aparentemente, o problema é mais de percepção e expectativa de perigo do que de perigo real”.
São cada vez mais frequentes as opiniões de analistas sobre a iminência da elevação dos juros básicos pelo Banco Central.
Para uma parcela significativa do mercado financeiro, essa elevação, depois de um longo período de baixa e estabilidade, se dará em abril. Uma minoria, mais radical, já prevê o aumento em março.
A persistente inflação brasileira, embora em nível baixo para quem viveu os anos tenebrosamente inflacionários das décadas de 1990 e 2000, explicaria essas previsões.
A elevação dos juros teria como objetivo trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5% ao ano --nos últimos 12 meses, a taxa atingiu 6,15%.
A inflação se dá quando há desequilíbrio entre oferta e demanda de bens e serviços na economia. A elevação dos juros, tal como proposta pelo mercado financeiro, atuaria para conter a demanda interna.
A meu ver, essa postura é equivocada. Mais eficiente é atuar para estimular a oferta desses bens e serviços e com isso incentivar o crescimento econômico.
Felizmente, parece que o foco principal do comando da economia no governo Dilma está exatamente voltado para isso: elevar a oferta de bens e serviços por meio da aceleração dos processos de concessão para obras de infraestrutura e por desonerações que tenham efeito positivo na competitividade do setor privado.
Além disso, o governo deve anunciar medidas para incentivar o oferecimento de crédito de longo prazo para investimentos por parte dos bancos privados. Essa tarefa está exageradamente concentrada nos bancos públicos, principalmente no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Estimular a oferta é, sem nenhuma dúvida, o melhor caminho para combater a inflação, porque as demais opções são de alta periculosidade para a atividade econômica.
O aumento dos juros esfriaria ainda mais o consumo geral, algo obviamente não recomendável num momento em que a expansão do PIB corre a uma taxa anual de apenas 1% e a geração de emprego está claramente em queda --em janeiro, foram criadas apenas 28,9 mil vagas, o menor nível mensal desde janeiro de 2009.
Outra opção, a valorização do real frente ao dólar, usada como âncora anti-inflacionária nos últimos anos, já deixou sequelas muito significativas na indústria. Se for adotada novamente, vai concorrer para ampliar a desindustrialização.
Também é preciso considerar que não há razão prática para achar que a inflação atual vá disparar. Aparentemente, o problema é mais de percepção e expectativa de perigo do que de perigo real. A redução das tarifas de energia terá um efeito positivo importante para conter a taxa média de inflação.
A boa safra agrícola que vem por aí e a provável estabilização dos preços das commodities no mercado internacional também vão colaborar para segurar preços. O reajuste menor do salário mínimo, indexado ao PIB, é outro fator favorável, que atua principalmente para aliviar a pressão sobre os serviços.
Não existe, portanto, razão objetiva para fazer terrorismo com a ameaça inflacionária, embora a experiência do passado recente, dos anos 1980 e 1990, indique que não se deve descuidar da vigilância nessa área. Talvez haja um problema na comunicação oficial, que não consegue passar percepções positivas ao mercado.
Problemas de comunicação também já se deram recentemente no caso do superavit fiscal. O Brasil terminou o ano com um dos resultados fiscais mais positivos no grupo das 20 maiores economias do mundo --superavit primário em torno de 2%. Mas a percepção que se espalhou foi a de que o governo fez uma pirotecnia fiscal. O superavit foi inferior à meta de 3,1% basicamente porque ocorreram desonerações fiscais da ordem de R$ 45 bilhões.
Essas desonerações concorrem para uma saudável redução de custos das empresas e de toda a economia. Mas, infelizmente, não houve, em tempo hábil, explicações sobre a operação.
Os efeitos da política de estímulo à oferta de bens e serviços não são geralmente sentidos no curto prazo. É preciso ter paciência, disposição para diálogo e controle da ansiedade até que essas medidas tenham impacto na contenção e redução de preços. Mas esse é o caminho mais recomendável.
Benjamin Steinbruch é empresário, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Escreve às terças, a cada duas semanas, no caderno 'Mercado'.
Em meio à campanha presente na grande mídia para aumentar os juros, é bom saber que ainda há quem pense de modo diferente nos jornalões. É o caso do empresário Benjamin Steinbruch, que publica artigo hoje na Folha de S.Paulo com o título “Aumentar os juros, um equívoco!”.
Ele considera equivocada a análise de que o aumento dos juros conteria a inflação de demanda interna: “Mais eficiente é atuar para estimular a oferta desses bens e serviços e com isso incentivar o crescimento econômico”.
Steinbruch cita justamente a aceleração das concessões para obras de infraestrutura e as desonerações, a fim de elevar a oferta de bens e serviços. Para ele, no entanto, o crédito está exageradamente concentrado no BNDES.
“Estimular a oferta é, sem nenhuma dúvida, o melhor caminho para combater a inflação, porque as demais opções são de alta periculosidade para a atividade econômica”, diz o artigo, lembrando que o aumento dos juros esfriaria o consumo num momento em que o PIB cresce pouco.
Steinbruch também descarta a valorização do real, que prejudicaria a indústria. E acerta novamente ao dizer que não há “razão prática” para fazer “terrorismo” com a inflação: “Aparentemente, o problema é mais de percepção e expectativa de perigo do que de perigo real”.
Aumentar os juros, um equívoco!
Para uma parcela significativa do mercado financeiro, essa elevação, depois de um longo período de baixa e estabilidade, se dará em abril. Uma minoria, mais radical, já prevê o aumento em março.
A persistente inflação brasileira, embora em nível baixo para quem viveu os anos tenebrosamente inflacionários das décadas de 1990 e 2000, explicaria essas previsões.
A elevação dos juros teria como objetivo trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5% ao ano --nos últimos 12 meses, a taxa atingiu 6,15%.
A inflação se dá quando há desequilíbrio entre oferta e demanda de bens e serviços na economia. A elevação dos juros, tal como proposta pelo mercado financeiro, atuaria para conter a demanda interna.
A meu ver, essa postura é equivocada. Mais eficiente é atuar para estimular a oferta desses bens e serviços e com isso incentivar o crescimento econômico.
Felizmente, parece que o foco principal do comando da economia no governo Dilma está exatamente voltado para isso: elevar a oferta de bens e serviços por meio da aceleração dos processos de concessão para obras de infraestrutura e por desonerações que tenham efeito positivo na competitividade do setor privado.
Além disso, o governo deve anunciar medidas para incentivar o oferecimento de crédito de longo prazo para investimentos por parte dos bancos privados. Essa tarefa está exageradamente concentrada nos bancos públicos, principalmente no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Estimular a oferta é, sem nenhuma dúvida, o melhor caminho para combater a inflação, porque as demais opções são de alta periculosidade para a atividade econômica.
O aumento dos juros esfriaria ainda mais o consumo geral, algo obviamente não recomendável num momento em que a expansão do PIB corre a uma taxa anual de apenas 1% e a geração de emprego está claramente em queda --em janeiro, foram criadas apenas 28,9 mil vagas, o menor nível mensal desde janeiro de 2009.
Outra opção, a valorização do real frente ao dólar, usada como âncora anti-inflacionária nos últimos anos, já deixou sequelas muito significativas na indústria. Se for adotada novamente, vai concorrer para ampliar a desindustrialização.
Também é preciso considerar que não há razão prática para achar que a inflação atual vá disparar. Aparentemente, o problema é mais de percepção e expectativa de perigo do que de perigo real. A redução das tarifas de energia terá um efeito positivo importante para conter a taxa média de inflação.
A boa safra agrícola que vem por aí e a provável estabilização dos preços das commodities no mercado internacional também vão colaborar para segurar preços. O reajuste menor do salário mínimo, indexado ao PIB, é outro fator favorável, que atua principalmente para aliviar a pressão sobre os serviços.
Não existe, portanto, razão objetiva para fazer terrorismo com a ameaça inflacionária, embora a experiência do passado recente, dos anos 1980 e 1990, indique que não se deve descuidar da vigilância nessa área. Talvez haja um problema na comunicação oficial, que não consegue passar percepções positivas ao mercado.
Problemas de comunicação também já se deram recentemente no caso do superavit fiscal. O Brasil terminou o ano com um dos resultados fiscais mais positivos no grupo das 20 maiores economias do mundo --superavit primário em torno de 2%. Mas a percepção que se espalhou foi a de que o governo fez uma pirotecnia fiscal. O superavit foi inferior à meta de 3,1% basicamente porque ocorreram desonerações fiscais da ordem de R$ 45 bilhões.
Essas desonerações concorrem para uma saudável redução de custos das empresas e de toda a economia. Mas, infelizmente, não houve, em tempo hábil, explicações sobre a operação.
Os efeitos da política de estímulo à oferta de bens e serviços não são geralmente sentidos no curto prazo. É preciso ter paciência, disposição para diálogo e controle da ansiedade até que essas medidas tenham impacto na contenção e redução de preços. Mas esse é o caminho mais recomendável.
Benjamin Steinbruch é empresário, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Escreve às terças, a cada duas semanas, no caderno 'Mercado'.
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