Norman Pollack (Counterpunch)
Será inadequado falar de “fascismo liberal”? Provavelmente, a antiga pergunta de Sinclair Lewis é mais básica: o fascismo pode acontecer nos EUA?
Uma outra imagem de Obama
Obama começou do ponto em que saía de cena um longo processo de construção de uma consciência social de desperdício, de dissipação. Chegou com a palavra “mudança” – mas usada no sentido de ‘perfeita concordância’, aquiescência absoluta, submissão perfeita à autoridade, aceitação sem protestos (da guerra, de assassinatos, de resgates de bancos, de orçamentos militares obscenos, de falsas escolhas – uma ou outra, ou o desastre – entre políticas sociais que não são, sequer, alternativas. Chegou para fazer o que fosse necessário para manter a tona e operante, não algum Estado, mas o capitalismo monopolista. O que haveria nisso, de liberal?
Não é liberal. Mas é dito liberal, porque a retórica inventa e implanta realidades, e a conexão emocional ao grande líder e à liderança foi elevada a um plano de vácuo moral que afeta cada um e todos os que ainda analisem e pensem criticamente.
Mais que isso, o próprio liberalismo já está em plena bancarrota, quando, por exemplo, a maioria do povo americano declara apoiar o programa dos drones armados. Assassinato a preço de liquidação: é bom negócio, se se trata de proteger “a América” contra o nefando Outro, o Diferente maléfico.
Sequer se vê a gigantesca hostilidade que se criou contra os EUA, hoje, já, em todo o planeta; é impensável. Mas, por via das dúvidas, melhor matar mais alguns milhares de seres humanos. Harmonia universal é harmonia de uma classe só, depois de a outra ter sido varrida do mundo.
‘OPORTUNIDADES”
Festejem “a América” como Terra de Oportunidades, enquanto avança a destruição, enquanto avançam o desemprego, os despejos, as ‘entregas especiais’ de prisioneiros para serem torturados por torturadores parceiros dos EUA, enquanto a infraestrutura continua a ruir, enquanto a “desregulação” avança, enquanto avançam os assassinatos de crianças dentro das escolas.
O presidente? Discursa contra concentração de riqueza, contra crimes de guerra (só na Síria, não na Palestina) e contra a destruição do meio ambiente. Contra o oleoduto-monstro Keystone XL? Não, nenhuma palavra.
Seja como for, Obama merece registro histórico por ter exposto o liberalismo, nessa sua jornada de transvaloração do New Deal até hoje, pelo que o liberalismo realmente é: posição político-ideológica do centro-direita, que já não merecia o nome quando foi batizado durante o New Deal. O liberalismo, que foi de centro, até de centro esquerda, jamais conviveria – sequer tentaria conviver – com a histeria anticomunista que começou com o mcCarthyismo logo depois da 2ª Guerra Mundial. Aquela histeria foi-se convertendo, com grupos como “Americans for Democratic Action” e “National Security Democrats”, no universo político-ideológico do discurso cultural cada dia mais pantanoso e traiçoeiro, que se traduz nessa acentuada deriva à direita na política que culminou com os dois partidos a disputar, apenas, qual seria o mais ‘patriótico’.
Sob o estandarte liberal, os EUA aventuraram-se a entrar na arena da Guerra Fria. O anticomunismo liberal tornou-se amplo guarda-chuva para o sacrifício de qualquer dissidência, no altar da respeitabilidade. Assim, já à altura dos anos 1960s, no máximo, o liberalismo já deveria ter sido identificado (mas não foi) como muito mais antirradical que progressista (no final, o liberalismo converteu o chamado progressismo em cego antirradicalismo).
NÃO MUDA NADA
Obama poderia ter surgido em cena há vinte anos, sem mudar coisa alguma do ponto de vista político (até mesmo racial), com sua sanha conservadora que, agora, já é também racista, com negros firmemente instalados em posições de destaque como uma espécie de Guarda Pretoriana dos Interesses Corporativos.
Nem Paul Robeson nem Martin Luther King seriam admissíveis ou encontrariam lugar na cultura política dos EUA hoje (além do plano da pura conversa fiada dos discursos de aniversário do Dr. King, mas nunca por ele ter defendido os pobres e feito oposição à guerra).
O liberalismo foi um dos principais fatores que contaminaram a teoria da democracia e a prática democrática, gêmeo xifópago de um partido Democrata servo solícito de Wall Street e de toda a coleção de interesses que definem o capitalismo predatório, dos planos privados de seguro-saúde às empresas privadas que fornecem armas e mercenários para o Departamento de Defesa.
E esse monstrengo bicéfalo adiante se grudou, como a um terceiro xifópago, a uma Casa Branca que não consegue fazer coisa melhor que nomear John Brennan para dirigir a CIA. Com Brennan, a muralha de sigilos e segredos e os crimes de guerra que os EUA cometem em todo o planeta, em ritmo diário, continuarão, por mais algum tempo, firmemente enterrados e guardados.
Será inadequado falar de “fascismo liberal”? Provavelmente, a antiga pergunta de Sinclair Lewis é mais básica: o fascismo pode acontecer nos EUA?
Uma outra imagem de Obama
Obama começou do ponto em que saía de cena um longo processo de construção de uma consciência social de desperdício, de dissipação. Chegou com a palavra “mudança” – mas usada no sentido de ‘perfeita concordância’, aquiescência absoluta, submissão perfeita à autoridade, aceitação sem protestos (da guerra, de assassinatos, de resgates de bancos, de orçamentos militares obscenos, de falsas escolhas – uma ou outra, ou o desastre – entre políticas sociais que não são, sequer, alternativas. Chegou para fazer o que fosse necessário para manter a tona e operante, não algum Estado, mas o capitalismo monopolista. O que haveria nisso, de liberal?
Não é liberal. Mas é dito liberal, porque a retórica inventa e implanta realidades, e a conexão emocional ao grande líder e à liderança foi elevada a um plano de vácuo moral que afeta cada um e todos os que ainda analisem e pensem criticamente.
Mais que isso, o próprio liberalismo já está em plena bancarrota, quando, por exemplo, a maioria do povo americano declara apoiar o programa dos drones armados. Assassinato a preço de liquidação: é bom negócio, se se trata de proteger “a América” contra o nefando Outro, o Diferente maléfico.
Sequer se vê a gigantesca hostilidade que se criou contra os EUA, hoje, já, em todo o planeta; é impensável. Mas, por via das dúvidas, melhor matar mais alguns milhares de seres humanos. Harmonia universal é harmonia de uma classe só, depois de a outra ter sido varrida do mundo.
‘OPORTUNIDADES”
Festejem “a América” como Terra de Oportunidades, enquanto avança a destruição, enquanto avançam o desemprego, os despejos, as ‘entregas especiais’ de prisioneiros para serem torturados por torturadores parceiros dos EUA, enquanto a infraestrutura continua a ruir, enquanto a “desregulação” avança, enquanto avançam os assassinatos de crianças dentro das escolas.
O presidente? Discursa contra concentração de riqueza, contra crimes de guerra (só na Síria, não na Palestina) e contra a destruição do meio ambiente. Contra o oleoduto-monstro Keystone XL? Não, nenhuma palavra.
Seja como for, Obama merece registro histórico por ter exposto o liberalismo, nessa sua jornada de transvaloração do New Deal até hoje, pelo que o liberalismo realmente é: posição político-ideológica do centro-direita, que já não merecia o nome quando foi batizado durante o New Deal. O liberalismo, que foi de centro, até de centro esquerda, jamais conviveria – sequer tentaria conviver – com a histeria anticomunista que começou com o mcCarthyismo logo depois da 2ª Guerra Mundial. Aquela histeria foi-se convertendo, com grupos como “Americans for Democratic Action” e “National Security Democrats”, no universo político-ideológico do discurso cultural cada dia mais pantanoso e traiçoeiro, que se traduz nessa acentuada deriva à direita na política que culminou com os dois partidos a disputar, apenas, qual seria o mais ‘patriótico’.
Sob o estandarte liberal, os EUA aventuraram-se a entrar na arena da Guerra Fria. O anticomunismo liberal tornou-se amplo guarda-chuva para o sacrifício de qualquer dissidência, no altar da respeitabilidade. Assim, já à altura dos anos 1960s, no máximo, o liberalismo já deveria ter sido identificado (mas não foi) como muito mais antirradical que progressista (no final, o liberalismo converteu o chamado progressismo em cego antirradicalismo).
NÃO MUDA NADA
Obama poderia ter surgido em cena há vinte anos, sem mudar coisa alguma do ponto de vista político (até mesmo racial), com sua sanha conservadora que, agora, já é também racista, com negros firmemente instalados em posições de destaque como uma espécie de Guarda Pretoriana dos Interesses Corporativos.
Nem Paul Robeson nem Martin Luther King seriam admissíveis ou encontrariam lugar na cultura política dos EUA hoje (além do plano da pura conversa fiada dos discursos de aniversário do Dr. King, mas nunca por ele ter defendido os pobres e feito oposição à guerra).
O liberalismo foi um dos principais fatores que contaminaram a teoria da democracia e a prática democrática, gêmeo xifópago de um partido Democrata servo solícito de Wall Street e de toda a coleção de interesses que definem o capitalismo predatório, dos planos privados de seguro-saúde às empresas privadas que fornecem armas e mercenários para o Departamento de Defesa.
E esse monstrengo bicéfalo adiante se grudou, como a um terceiro xifópago, a uma Casa Branca que não consegue fazer coisa melhor que nomear John Brennan para dirigir a CIA. Com Brennan, a muralha de sigilos e segredos e os crimes de guerra que os EUA cometem em todo o planeta, em ritmo diário, continuarão, por mais algum tempo, firmemente enterrados e guardados.
(Transcrito do site Pátria Latina, de Valter Xéu)
Nenhum comentário:
Postar um comentário