Em seminário promovido pelo PSDB nesta segunda-feira em Belo Horizonte, para "discutir os rumos do partido" e turbinar a candidatura do senador Aécio Neves, quem roubou a cena e ganhou as manchetes foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A pretexto de responder às críticas feitas ao seu governo na festa dos 10 anos do PT no poder, FHC saiu de seus cuidados e despejou um caminhão de melancias no partido, em Lula e Dilma, dando o tom da campanha que nos espera.
"Eles tinham duas grandes metas, uma ligada ao socialismo e outra ligada à ética. Do socialismo nunca mais ninguém falou. E de ética? Meu Deus, não sou eu quem vai falar sobre o que está acontecendo", disparou o ex-presidente.
Aos 81 anos, depois de ser esquecido pelas campanhas presidenciais de José Serra e Geraldo Alckmin, FHC voltou com a corda toda. Chamou a presidente Dilma Rousseff de "ingrata" por ter afirmado no evento do PT que não herdou nada do governo tucano. "O que a gente pode fazer quando a pessoa é ingrata? Nada. Cospe no prato em que comeu. Meu Deus!"
Duas referências a Deus no mesmo discurso, o que não é habitual, podem dar uma pista sobre as dificuldades que o principal líder do PSDB está encontrando para unir o seu partido e fazer desencalhar a campanha de Aécio Neves, o ex-governador mineiro lançado por FHC ainda em 2012, e que até agora reluta em se assumir candidato.
Por falta de alternativa, FHC resolveu jogar todas as suas fichas em Aécio Neves _ e vice-versa _ transformando-se no principal cabo eleitoral do senador mineiro. Ao final da sua fala em Belo Horizonte, o ex-presidente procurou deixá-lo mais animado:
"Vamos percorrer o Brasil, senador. Vamos plantar a semente do PSDB, a semente da vitória. Nós vamos ganhar!".
Claro que se trata mais de entusiasmo de torcedor do que previsão de cientista político, mas o fato é que o ex-presidente se empolgou tanto que Aécio acabou sendo ofuscado e virou coadjuvante no evento em que deveria se apresentar como a nova estrela dos tucanos.
Nova é modo de falar, já que o ex-presidente propôs como estratégia de campanha para 2014 levantar a bandeira da ética, o que já não deu certo em 2006 e 2010. Até o redator do discurso de Aécio Neves na semana passada sobre "os 13 fracassos do PT" é o mesmo jornalista que escrevia os textos para José Serra nas suas duas derrotas em campanhas presidenciais.
O problema é que Aécio prometeu anunciar "um projeto para os próximos 20 anos no Brasil", mas não conseguiu até agora elaborar e apresentar nenhuma proposta nova. Tanto Aécio quanto FHC se limitaram a atacar seus tradicionais adversários petistas.
Do jeito que as coisas vão indo, o clima da campanha de 2014 poderá ser uma repetição daquelas de 1994 e 1998, em que FHC e Lula se enfrentaram diretamente, com vitórias do tucano no primeiro turno.
Nestes quase vinte anos, porém, foram grandes as mudanças no quadro político nacional. Para começar, Lula deixou o governo com mais de 80% de aprovação popular, enquanto FHC saiu do Palácio do Planalto com menos de 20%.
Lula elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, agora franca favorita à reeleição, a bordo de uma aliança de mais de 10 partidos, o que lhe garante metade de todo o tempo na propaganda eleitoral na televisão.
FHC, por sua vez, que perdeu as últimas três eleições presidenciais em que os candidatos tucanos o esconderam nas campanhas, quer resgatar o legado do seu governo.
Por isso, agora transformados em grandes cabos eleitorais, os ex-presidentes assumem a ofensiva em mais uma guerra entre petistas e tucanos, o Fla-Flu de sempre.
A próxima batalha está marcada para quinta-feira, em Fortaleza, onde o ex-presidente Lula dará início a um road-show pelo país para comemorar os 10 anos do PT no poder e garantir a fidelidade da base aliada para a reeleição de Dilma Rousseff.
Blog do Ricardo Kotscho.
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