Por Altamiro Borges
A direita midiática e partidária antecipou o debate sobre a
sucessão presidencial de 2014. Ela se apressou em lançar Aécio Neves, que
cambaleava no PSDB, difundiu futricas sobre Lula e Dilma e ainda apostou na
divisão no campo governista. O efeito é que vários nomes pipocaram no
noticiário. Mas nada ainda está definido. A antecipação do debate só serve para
atiçar a cizânia e revelar as dificuldades nos vários campos. Nos
últimos dias, por exemplo, Aécio Neves e Eduardo Campos foram alvos do famoso “fogo
amigo”.
Apesar dos apelos do “guru” FHC pela unidade partidária, não
há consenso no PSDB em torno do nome do mineiro. Em entrevista ao jornal Valor,
o paulista Aloysio Nunes Ferreira, aliado canino de José Serra, explicitou a
crise no ninho tucano. Eleito líder da bancada no Senado, com base num acordo
pragmático para ajeitar as divergências, ele criticou a precipitação do
lançamento de Aécio Neves e elogiou o grão-tucano paulista. “Não vejo ninguém
que poderia ter um desempenho eleitoral melhor do que o Serra teve”.
“Quem tem pressa de se lançar candidata é a Dilma, porque
ela tem dois fantasmas que rondam a reeleição: o pífio desempenho do governo
e a hipótese Lula”, despistou o paulista. Para ele, o PSDB precisa resolver
seus problemas internos. "Primeiro temos de eleger uma direção que reflita
uma unidade real do partido”, o que evidencia que ele discorda das manobras
para eleger Aécio Neves presidente da sigla na convenção marcada para
maio. “Não sei. A presidência do partido é resultante de um processo de
unificação".
Hábil no jogo do cretinismo parlamentar, Aloysio Nunes disse
não que não tem nada contra Aécio Neves, “com que tenho uma relação muito boa,
cordial, amiga”. Mas foi explícito. “Agora, a candidatura tem de ser construída,
dentro e fora do partido. Como político que conhece como ninguém a importância
do tempo, [Aécio] não haverá de querer precipitar as coisas”. O novo líder do PSDB
também deu uma alfinetada em FHC, o intocável. “Eu não ficaria cutucando o
Aécio para ser candidato criando um falso problema”.
Menos diplomático, o deputado sergipano Mendonça Prado, dirigente
do DEM, também mostrou que as coisas não serão tranquilas na costura das
alianças para 2014. Em entrevista ao sítio Brasil-247, o demo bateu duro no discurso
de Aécio Neves no Senado. “Ele só fez um discurso de alguém que pleiteia ser
candidato. Não teve nenhuma ação que demonstre que ele está realmente com
apetite para ser candidato... Para ele ser presidente só visitando Minas Gerais
e passando o fim de semana no Rio de Janeiro, fica difícil”.
O “fogo amigo”, porém, não atingiu apenas o trôpego tucano.
Outro que teve dores de cabeça nos últimos dias foi Eduardo Campos, governador
de Pernambuco e presidente nacional do PSB. Até agora ele não garantiu que será
candidato em 2014, rachando a base governista, mas alguns mais afoitos no seu
partido insistem em dizer que ele é “candidatíssimo”. Com isso, destampam os
problemas na própria legenda – uma frente que reúne desde lideranças sérias de
esquerda até muitos políticos pragmáticos e fisiológicos.
Como é do seu feitio, Ciro Gomes foi o primeiro a se rebelar
contra a candidatura própria do PSB. Para ele, Eduardo Campos “não tem estrada”
e não possui “nenhuma proposta, nenhuma visão” do Brasil. A legenda tenta
estancar a crise interna, mas as declarações do ex-ministro evidenciaram que
não há unidade na legenda para trilhar um caminho dissidente contra a reeleição
da presidenta Dilma. A mídia demotucana, que aposta na divisão do campo
governista, não deve ter gostado desta polêmica legítima e democrática no PSB.
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