Isolado, Barbosa joga a toalha
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Cada vez mais isolado pelos colegas e repudiado pelas principais lideranças da comunidade jurídica, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, resolveu anunciar nesta quarta-feira sua aposentadoria precoce, quando ainda faltavam 11 anos para chegar à idade da compulsória.
Para pegar uma boa onda, antecipando-se à formalização do pedido de aposentadoria do ministro, prevista para o final de junho, assim que a notícia correu o presidenciável Eduardo Campos, do PSB, que se apresenta na campanha eleitoral como pregador da "nova política", correu para surfar na decisão de Barbosa e mostrar de que lado está (ou sempre esteve):
"Qual partido não gostaria de ter Joaquim Barbosa em seus quadros?", pontificou o candidato, até outro dia aliado do governo do PT. "Se o ministro pensar em se filiar a algum partido, amigos próximos poderão fazer uma aproximação com o PSB. Todos os partidos políticos do Brasil que prezam a Justiça, que prezam a democracia, gostariam de ter em suas fileiras um brasileiro com a honestidade, a vida e a biografia dele".
Barbosa já disse mil vezes que não quer saber de política e pretende se dedicar à vida acadêmica, mas Eduardo avisou que está de portas abertas se ele mudar de ideia. Quem seriam os amigos próximos?
Quer dizer, segundo Campos, quem não pensa e age como ele e Barbosa não preza a Justiça e não é democrata. Era desconhecida até agora esta admiração do ex-governador de Pernambuco pelo quase ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.
Não pensam assim os presidentes de classe da magistratura e de juízes ouvidos pelo portal Brasil24/7.
"Ele não é uma pessoa que vai ser lembrada", afirmou Nilo Toldo, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe). João Ricardo dos Santos, dirigente da Associação dos Magistrados Brasileiros, espera que a entidade possa "superar esta falta de diálogo" com o STF após a saída de Barbosa.
Em nota assinada pelo seu presidente, Paulo Luiz Schmidt, a Associação Nacional dos Magistrados das Justiça do Trabalho (Anamatra), fez duras críticas ao futuro aposentado:
"A história dirá mais tarde, distanciada dos debates ideológicos, sobre seus erros e acertos (...) Para a Anamatra, no entanto, a passagem de Sua Excelência pelo Supremo Tribunal Federal e pelo CNJ, não contribuiu para o aprimoramento do necessário diálogo com as instituições republicanas e as entidades de classe, legítimas representantes da magistratura, marcando, assim, um período de déficit democrático".
Glorificado pela mídia por sua atuação implacável no julgamento da Ação Penal 470, ao mesmo tempo juiz e promotor do processo, Barbosa viu as críticas aumentarem à sua postura como autonomeado executor das penas dos condenados do mensalão do PT, atropelando toda a jurisprudência do próprio STF e do Superior Tribunal de Justiça, que, desde 1999, autoriza o trabalho externo dos apenados em regime semiaberto.
No clima de beligerância que domina o país, às vésperas do início da Copa no Brasil, a atitude de Joaquim Barbosa, que já era esperada e não causou surpresa no meio jurídico, foi recebida com uma sensação de alívio por aqueles brasileiros que, ao contrário de Eduardo Campos, pensam mais na Justiça justa e no país pacificado do que nos seus interesses eleitorais e partidários.
Surfistas não costumam se dar bem em política, mas há exceções, é claro, que, geralmente, não têm um final muito feliz. Collor que o diga.
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