O presidente do governo da Espanha, cargo que corresponde ao de primeiro-ministro, o socialista Luiz Zapatero, anunciou um elenco de medidas de emergência para, segundo afirmou, reconsolidar o equilíbrio financeiro e fiscal do país, da mesma forma que a Grécia e Portugal, abalado por forte crise econômica com reflexos em toda zona do Euro. A melhor matéria sobre o assunto foi a da repórter Patrícia Guilayn, O Globo, edição de 13 de maio, manchete da página de economia. Apresentação gráfica também excelente.
Patrícia Guilayn relacionou as medidas emergenciais de Zapatero, todas de efeito imediato: 1) corte de 5% nos vencimentos do funcionalismo público, sendo de 15% nos padrões dos cargos executivos. Além disso, congelamento em 2011; 2) congelamento das aposentadorias, inclusive as pensões; 3) fim das aposentadorias proporcionais; 4) fim do auxilio natalidade, que até ontem era de 2,5 mil euros; corte de 6 bilhões de euros nos investimentos públicos. Os Sindicatos reagiram, poderão ir à greve, mas até o momento não se dispuseram ainda a desencadear o movimento.
Absolutamente incrível: um governo socialista cortar salários? Essa não. Onde está a filosofia em que se baseia o socialismo, de valorização do trabalho humano, colocando-o (só na palavra) em patamar acima do capital? Falar é fácil. Agir concretamente é que é difícil. Difícil também é sintonizar o gesto com o discurso. O discurso socialista é sempre generoso, de inspiração cristã. Na prática, na hora da dificuldade, tudo muda. Zapatero não anunciou qualquer ato de restrição ao capital.
Limitar os ganhos do capital, mesmo sendo desproporcionais, como acontece com os Bancos, no Brasil, é algo impossível. Zapatero procurou o caminho que os conservadores sempre adotaram e adotam. O projeto do chefe de governo espanhol poderia ter sido assinado por Roberto Campos, Delfim Netto, Mario Henrique Simonsen, João Paulo dos Reis Veloso, Pedro Malan, ou pelos presidentes do Bradesco e Itaú. Todos estes não causariam surpresa. Estariam agindo corretamente com o que pensam ou pensavam. Porém alguém que destaca sua condição de socialista assumir o mesmo comportamento é triste. Embora revelador de uma verdade eterna, a qual, não sei porque, nunca foi utilizada no auge do debate ideológico de anos atrás entre privatistas e estatizantes, duas correntes em choque durante décadas.
Qual verdade eterna será esta? Muito simples, digo eu. Só o capitalismo existiu no mundo e, se nem o socialismo escapa, que dirá o comunismo marxista? Todos os governos sempre foram capitalistas, tanto fazendo se o capitalismo era estatal, caso da antiga URSS e da China de Mao Tse Tung, ou se o capitalismo era privado, Estados Unidos, ou misto, caso brasileiro por exemplo. Não há no universo alguém que não deseje se capitalizar. Se a regra vale para os seres humanos, que dirá para as empresas particulares? Que dirá para a indústria farmacêutica possuidora de patentes não copiáveis? Mas esta é outra questão.
O que chama atenção no caso Zapatero é o choque ideológico de um líder político. Ele terá mudado de pensar, de repente? Não. Ele sempre pensou assim. Estava apenas contido pelo discurso. Ao longo de sua trajetória e de seu governo na bela Espanha, que esforços há de ter feito na busca dos votos dos eleitores? Afirmava uma coisa na palavra. Guardava outra, a sete chaves, no seu próprio pensamento. Que dizer? O socialismo fornece surpresas assim. É da retórica. Só da retórica.
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