Pedro do Coutto
A pré convenção do PT realizada domingo decidiu não atender o apelo do presidente Lula para apoiar a candidatura de Helio Costa, do PMDB, à sucessão estadual e adiou para junho, prazo máximo da lei eleitoral, para decidir se concorre ou não ao Palácio da Liberdade com um candidato próprio. As reportagens de Eduardo Katah e Vera Rosa, O Estado de São Paulo, e de Paulo Peixoto, Folha de São Paulo, publicadas nas edições de 3 de Maio, focalizaram amplamente a divergência, na prática uma dissidência aberta pela seção de Minas em relação à aparente vontade do Planalto.
A regional partidária partiu para uma prévia entre Patrus Ananias e Fernando Pimentel, não definindo se tal prévia era para escolher o candidato da legenda ao governo ou se para concorrer ao Senado Federal. Lula desejava que a preliminar fosse para escolha do candidato ao Senado, mas o PT não atendeu. Deixou no ar a questão, decidindo adiar ao máximo o desfecho final. Patrus Ananias, ex-ministro do Desenvolvimento Social, chegou a afirmar: “Na história do PT, Minas Gerais nunca foi tratada como moeda de troca”. Tomada deposição mais direta, impossível. Só ela já funciona para abalar a possibilidade de uma aliança dos petistas com o também ex-ministro Helio Costa.
A reação era esperada. Em primeiro lugar, porque, ao longo de seus trinta anos de história, o PT nunca apoiou candidato algum alheio a seus quadros. Recebeu muitos apoios, não devolveu nenhum. Em segundo lugar, porque tanto Fernando Pimentel quanto Patrus Ananias, são candidatos potencialmente fortes ao governo estadual – aqui um aspecto essencial – o governador de Minas é alguém sempre qualificado para disputar depois a presidência da República.
Com Patrus ou Pimentel, o Partido dos Trabalhadores sentiu que disputa com reais chances de vitória. Sobretudo porque as eleições são em dois turnos e a presença da legenda no primeiro leva inevitavelmente o desfecho para o segundo turno. Não afeta a candidatura de Dilma Roussef à presidência da República porque em Minas, a exemplo de no Rio de Janeiro, ela teria duas bases de apoio. O palanque de Helio Costa e o de Ananias ou Fernando Pimentel.
Surpresa no segundo colégio eleitoral do país? Nem tanto. No terceiro colégio, o Rio de Janeiro, a ex-chefe da Casa Civil é apoiada simultaneamente pelo governador Sergio Cabral e pelo ex-governador Anthony Garotinho, aliados na eleição de 2006, adversários ferrenhos no pleito de 2010.
Na aparência – mas apenas na aparência, acho eu – o presidente Lula ameaça agir para que o Diretório Nacional do PT intervenha na seção mineira, caso a visível divergência se confirme. O Diretório Nacional, entretanto, vacila diante da hipótese de uma intervenção. Na realidade a ideia atribuída ao presidente da República não é para valer. Lula, no fundo, sabe que apoio forçado não funciona, nada acrescenta na prática, pelo contrário. Terminaria lançando o PT nos braços de Antonio Anastasia, candidato de Aécio Neves ao executivo mineiro.
Mas não é tudo. A intervenção, de outro lado, principalmente quebraria o ímpeto da legenda no segundo contingente de votos do país e, com isso, prejudicaria a própria candidata de Lula, Dilma Roussef. Por isso, creio que a ameaça de intervir não passa de um lance para a arquibancada. Nem poderia. Conquistar apoio forçado colide com a vontade das bases partidárias. E o resultado seria altamente negativo nas urnas. Lula sabe disso muito bem. Muito melhor do que nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário